Didática por acaso

Antônio Leopoldo César
Dracena, SP
 

Esta é uma curiosidade que me ocorreu enquanto recordava, numa 6a. série, a adição de números relativos.

Ao invés de apresentar os exercícios na maneira usual, pedi aos alunos que completassem uma tabela de dupla entrada:

+

- 1

2

- 3

4

 

+

- 1

2

- 3

4

- 1

 

 

 

 

 

- 1

- 2

  1

- 4

  3

  2

 

 

 

 

 

  2

  1

  4

- 1

  6

- 5

 

 

 

 

 

- 5

- 6

- 3

- 8

- 1

                       apresentação                                                             solução

Achei conveniente que os alunos também efetuassem a adição de vários números relativos.

+

- 1

2

- 3

4

2

 - 1

- 2

  1

- 4

  3

- 3

  2

  1

  4

- 1

  6

12

- 5

- 6

- 3

- 8

- 1

- 23

- 4

- 8

  4

- 16

12

-12

Acrescentei, então, mais uma linha e mais uma coluna à tabela para registrar a soma de todos os números da linha ou coluna correspondente.

Notei, então, que o número no canto inferior direito era igual à soma dos números da última coluna e também igual à soma dos números da última linha

 

Os alunos gostaram da apresentação da tabela na forma abaixo:

Observei ainda o seguinte fato: se a soma de todos os números dados inicialmente for 0 e a tabela for quadrada, o número no canto inferior direito será 0.

Mostrei estas tabelas ao meu colega Murilo Edeval Droppa e, junto, colocando as letras a1,a2,..., ak na primeira coluna e b1, b2, ..., bn na primeira linha da tabela, demonstramos que a soma S do canto inferior direito é

S = (n + 1)(a1 + a2 + ... + ak) + (k + 1)(b1 + b2 + ... + bn)

quer ela seja obtida a partir dos elementos da última linha ou da última coluna.

Aspectos positivos desta atividade:

1. Os alunos exercitam somar números inteiros, consumindo pouco espaço no caderno.

2. Os alunos exercitam o uso de tabelas de dupla entrada.

3. Por se tratar de uma novidade, a apresentação é atraente.

4. É fácil perceber se algum erro foi cometido: será certamente o caso se as somas ao longo da última linha e da última coluna “não baterem”.

   

Os professores Antônio Leopoldo César e Murilo Edeval Droppa são ambos licenciados em Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Ministro Tarso Dutra” de Dracena, SP. Ambos são professores efetivos de Matemática em escolas estaduais de São Paulo.  

 

 

Multiplicando com as mãos

 

Luiz Márcio Imenes
Externato Elvira Brandão
São Paulo, SP  

No interessante livro: “Número, a linguagem da ciência”, de Tobias Dantzig, da Editora Zahar, o autor nos conta um pouco da história dos números. No capítulo I, sugestivamente intitulado “Impressões Digitais”, ele chama a nossa atenção pra a enorme importância que nossas mãos tiveram no desenvolvimento da contagem. À página 23 o autor descreve um curioso processo para fazer multiplicações usando os dedos das mãos. Tal processo era usado por camponeses de uma região da França.

Aqui vamos detalhar um pouco mais a descrição do autor.

Os camponeses citados conheciam a tabuada até a do 5 e usavam as mãos para multiplicar números entre 5 e 10. Vejamos um exemplo: 7 x 9.

1) Numa das mãos, abaixam-se tantos dedos quantas unidades o 7 passa de 5;

2) Na outra mão, abaixam-se tantos dedos quantas unidades o 9 passa de 5; portanto abaixam-se 4 dedos.

3) Os dedos abaixados devem ser somados e representam dezenas. Assim, no nosso exemplo, temos 2 + 4 = 6 dezenas, isto é, 60 unidades.

4) Os dedos que estão em pé devem ser multiplicados e representam unidades. No nosso caso temos 1 x 3 = 3 unidades.

5) Agora somamos: 60 + 3 = 63. Olhe só 7 x 9 = 63!

 Se você gostou da brincadeira faça agora 7 x 8, 8 x 9, 6 x 9 etc.

 Verifique que o processo também vale para os fatores 5 e 10, que são os extremos do intervalo em que o processo pode ser usado.

Agora uma pergunta: como demonstrar que o processo vale sempre, desde que os fatores estejam entre 5 e 10?

Vamos fazer esta prova. Ela é bastante simples.

Consideremos o produto dos inteiros m e n com 5  m, n  10.

Observe o esquema:  

 

mão esquerda (m)

mão direita (n)

abaixados

m - 5

n - 5

em pé

5 – (m – 5) = 10 - m

5 – (n – 5) = 10 - n

Os dedos abaixados são somados: (m – 5) + (n – 5) = m + n – 10;  eles representam dezenas: 10(m + n – 10)                                                                                      (1)

Os dedos em pé são multiplicados: (10 – m) . (10 – n)                            (2)

Agora somamos (1) com (2) e obtemos mn.

No livro citado, Tobias Dantzig afirma que artifícios semelhantes foram encontrados em vários lugares, distantes uns dos outros. Estas idéias ilustram a importância que nossas mãos tiveram no desenvolvimento da contagem.

N.R. 1: Os camponeses, de fato, usavam a identidade

(5 +x)(5 + y) = 10x + 10y + (5 – x)(5 – y),

com 0  x, y  5 pois, conhecendo a tabuada até a do 5, sabiam o valor de (5 – x)(5 – y) e a identidade lhes permitia então calcular o produto (5 + x)(5 + y) de números entre 5 e 10.  

 

N.R. 2: A RPM recebeu outro artigo sobre o mesmo assunto escrito por Revair Altair Benati, de São José do Rio Preto, SP.