GEOMETRIA ESPACIAL COM GEOGEBRA

 

Lenimar Nunes de Andrade
UFPB

INTRODUÇÃO

O famoso programa GeoGebra, a partir da sua recente versão 5.0, pode ser usado como uma valiosa ferramenta nos estudos de geometria espacial. Com ele, diversos sólidos, superfícies e curvas tridimensionais podem ser construídos sem dificuldade, assim como ocorre com o cálculo de seus comprimentos, áreas, volumes e interseções.

O GeoGebra está disponível gratuitamente na internet e pode ser copiado a partir do endereço www.geogebra.org. Em razão da importância e da disponibilidade desse programa, o presente artigo fará uma breve explanação sobre os novos recursos, novos comandos e objetos tridimensionais acrescentados recentemente. Diversas atividades são propostas e podem ser realizadas em sala de aula.

VISUALIZAÇÃO DE OBJETOS TRIDIMENSIONAIS

No GeoGebra, há várias janelas de visualização disponíveis. Uma delas é a Janela de visualização 3D, a qual, como o título já diz, deve ser usada para visualização de objetos tridimensionais tais como planos,
pirâmides, cones, esferas, etc. Essa janela pode ser mostrada tanto através da opção
Exibir → Janela de Visualização 3D no menu principal do programa, que aparece na parte superior da tela, quanto pressionando-se simultaneamente as teclas

A configuração padrão da Janela de Visualização 3D inclui uma caixa, três eixos x, y e z e um plano x0y. Essa configuração pode ser alterada ao gosto do usuário. Se for dado um clique com o botão direito do mouse, aparecerá uma pequena janela intitulada “Janela de Visualização 3D” com opções de alteração. Nessa janelinha aparece uma opção “Janela de Visualização” que leva a muitas opções de configuração.

Para eliminar a caixa da janela de visualização, deve-se desmarcar a opção “Habilitar clipping”. As partes dos objetos que não couberem dentro dessa caixa não são mostradas, a não ser que a opção “Usar clipping” seja desmarcada.

Na parte superior da tela, logo abaixo da linha no menu principal, aparece uma barra de ferramentas formada por vários ícones, cada um correspondendo a um determinado tipo de ação do programa. Ao se clicar na maioria desses ícones, tem-se acesso a outras opções. Por exemplo, o nono ícone da esquerda para a direita dá acesso à seguinte lista:

DESENHANDO E MOVENDO PONTOS

Ao se pressionar no segundo ícone da barra intitulado “Ponto”, pode-se desenhar pontos na janela de visualização clicando-se com o mouse em cima de um plano tal como o plano x0y, que é mostrado como padrão. Nessa hora, o indicador do mouse assume o formato de um “x” e, ao se clicar, é definido um ponto naquela posição. É possível também marcar um ponto em cima de uma reta ou da aresta de um polígono.

Um ponto também pode ser definido através de suas coordenadas x, y e z. Para isso, basta digitar o nome do ponto e suas coordenadas entre parênteses na janela de entrada, na parte de baixo da tela. Por exemplo, um ponto P localizado no eixo z, a uma altura de 4 unidades, pode ser definido escrevendo P = (0, 0, 4) nessa janela.

Há dois movimentos permitidos para um ponto previamente definido: ao longo de uma reta (modo eixo z) ou ao longo de um plano (modo eixo x0y). Deve-se dar um ou dois cliques no ponto para se definir o modo de movimento. Nessa hora aparecem em torno do ponto as setas

e elas identificam o tipo de movimento permitido.

O último ícone da barra de ferramentas dá acesso a um menu onde são permitidas várias operações de visualização, tais como girar, mover, ampliar ou reduzir a janela de visualização 3D.

NOVOS COMANDOS

Em geral, os diversos objetos tridimensionais podem ser definidos de duas maneiras: usando os
menus da barra de ferramentas ou digitando-se comandos na janela de entrada. Esses comandos podem ser digitados em português. Os objetos recebem nomes (rótulos) quando vão sendo definidos e suas equações aparecem na Janela de Álgebra. Esses nomes podem ser referenciados por outros comandos definidos posteriormente.

RETAS E PLANOS

Reta[ponto1, ponto2] Reta que passa por dois pontos.
Exemplo: Reta [A, B].

Reta[ponto, reta] Reta paralela a outra e que passa por um ponto dado.
Exemplo: Reta[P, r].

Plano[ponto1, ponto2, ponto3] Plano que passa por três pontos.
Exemplo: Plano[A, B, C].

Plano[reta1, reta2] Plano que passa por duas retas.
Exemplo: Plano[r, s].

Plano[polígono] Plano que contém um polígono.
Exemplo: Plano[pol1].

Plano[ponto, plano] Plano que passa por um ponto eé paralelo a outro plano.
Exemplo: Plano[P, a].

Plano[ponto, reta] Plano que passa por um ponto e por uma reta.
Exemplo: Plano[Q, r].

PRISMAS E PIRÂMIDES

Prisma[ponto1, ponto2, …] Prisma cujos vértices são dados, o último vértice em uma base diferente de base dos outros.
Exemplo: Prisma[A, B, C, D, E].

Prisma[polígono, ponto] Prisma com base definida por um polígono e um vértice da outra base.
Exemplo: Prisma[polig1, F].

Prisma[polígono, altura] Prisma com base e altura dadas.
Exemplo: Prisma[polig2, 4].

Pirâmide[ponto1, ponto2] Pirâmide com os vértices dados.
Exemplo: Pirâmide[A, B, C, D].

Pirâmide[polígono, ponto] Pirâmide com base definida por um polígono e vértice dado. Exemplo: Pirâmide[pol1, V].

Pirâmide[polígono, altura] Pirâmide com base e altura dadas.
Exemplo: Pirâmide[pol2,5].

CILINDROS E CONES

Cilindro[curva, altura] Cilindro com base e altura dados.
Exemplo: Cilindro [c, 5].

Cilindro[ponto1, ponto2, raio] Cilindro circular com centros das bases e raio dados.
Exemplo: Cilindro[c1, c2, 3].

CilindroInfinito[reta, raio] Cilindro circular ilimitado com eixo central e raio dados.
Exemplo: CilindroInfinito[r, 4].

Cone[círculo, altura] Cone circular com base e altura dados.
Exemplo: Cone[c, 5].

Cone[ponto1, ponto2, raio] Cone circular com base de centro no primeiro ponto, vértice no segundo ponto e raio dados.
Exemplo: Cone[P, Q, 3].

Cone[ponto, reta, ângulo] Cone circular ilimitado com centro da base, eixo central e ângulo (em radianos) entre o eixo e uma geratriz dados.
Exemplo: Cone[P, r, 0.3].

ConeInfinito[ponto1, ponto2, ângulo] Cone circular ilimitado com centro da base, eixo central e ângulo entre o eixo e uma geratriz dados.
Exemplo: Cone Infinito[P, Q, 0.4].

ESFERAS

Esfera[ponto, raio] Esfera com centro e raio dados.
Exemplo: Esfera[C, 2].

Esfera[ponto1, ponto2] Esfera com centro no primeiro ponto e que passa pelo segundo.
Exemplo: Esfera[C, P].

SÓLIDOS DE PLATÃO

Cubo[ponto1, ponto2] Cubo com aresta definida pelos pontos dados.
Exemplo: Cubo[A, B].

Tetraedro[ponto1, ponto2] Tetraedro com aresta definida pelos pontos dados.
Exemplo: Tetraedro[A, B].

Octaedro[ponto1, ponto2] Octaedro com aresta definida pelos pontos dados.
Exemplo: Octaedro[A, B].

Dodecaedro[ponto1, ponto2] Dodecaedro com aresta definida pelos pontos dados.
Exemplo: Dodecaedro[A, B].

Icosaedro[ponto1, ponto2] Icosaedro com aresta definida pelos pontos dados.
Exemplo: Icosaedro[A, B].

Esses comandos dos sólidos de Platão constroem o sólido com umas das faces paralelas ao plano x0y, a não ser que seja fornecido um terceiro parâmetro que possa ser usado para se obter a direção de uma face.
Exemplo: Cubo[A, B, reta], Tetraedro[P, Q, plano]

SUGESTÕES DE ATIVIDADES

A seguir, forneceremos vários exemplos de utilização do programa que podem ser usados como
atividades de exploração de diversos conceitos de geometria espacial.

RETAS E REVERSAS

Inicialmente, exploramos o conceito de retas reversas, observando duas retas em diferentes posições. Para isso:

– Eliminamos os eixos da janela de visualização (basta pressionar com o botão direito do mouse na janela e dar um clique em “Eixos”)

– Construímos dois planos: um é o plano z = 0 (que já aparece na tela de início) e o outro é o plano x = 0. Para isso, basta digitar na janela de entrada suas equações.

– Selecionamos a opção “Ponto” na barra de ferramentas e marcamos três pontos A, B, C em um plano e um ponto D no outro plano.

– Selecionamos “Reta” na barra de ferramentas e clicamos em A e B para definir a reta AB e, depois, em C e D para definir a reta CD.

– Selecionamos a opção “Girar janela de visualização 3D” na barra de ferramentas e, com o mouse, giramos a caixa da janela de visualização e observamos que as retas AB e CD não são paralelas, nem coincidentes nem concorrentes. Logo, são reversas.

 

PIRÂMIDE E PRISMA -ALTURAS E VOLUMES

Neste exemplo, construímos uma pirâmide e um prisma de mesma base e mesma altura. Observamos nas relações entre seus volumes (que aparecem na “Janela de Álgebra”), que um é o triplo do outro. Podemos observar também que, quando os vértices se deslocam mantendo-se a mesma altura de cada sólido, os volumes não variam.

– Definimos um plano de altura 4. Para isso, basta escrever a equação z = 4 na janela de entrada.

– Desenhamos um polígono no plano de base (z = 0), por exemplo um quadrilátero ABCD. Para isso, bata usar a opção “Polígono” da barra de ferramentas e marcar os pontos. Deve-se fechar o polígono clicando em cima do primeiro ponto marcado.

– Definimos dois pontos E e F pertencentes ao plano z = 4. Para isso, usamos a opção “Ponto em objeto” da barra de ferramentas e clicamos em duas posições no plano.

– Desenhamos uma pirâmide de base ABCD e vértice E. Para isso, digitamos o comando Pirâmide[A, B, C, D, E] na janela de entrada ou usamos a opção “Pirâmide” da barra de ferramentas.

– Desenhamos um prisma de base ABCD e um dos vértices como sendo o ponto F. Para isso, basta digitar Prisma[A, B, C, D, F] na janela de entrada ou usar a opção “Prisma” da barra de ferramentas.

– Depois de construídos, podemos mover os pontos E ou F à vontade e verificar que os volumes do prisma e da pirâmide não mudam de valor, pois a altura (que é a distância entre os planos e igual a 4) não varia.

 

CUBO - ÁREAS, DIAGONAIS E PLANIFICAÇÃO

Neste exemplo, desenhamos um cubo e exploramos alguns conceitos como volume, áreas das faces, comprimentos das arestas, comprimentos de diagonais e planificação.

– Eliminamos da janela de visualização os eixos, o plano x0y e a caixa de “clipping” que são mostrados no início. Para isso, basta clicar na janela com o botão direito do mouse e alterar a configuração.

– Definimos dois pontos A e B. Isso pode ser feito de duas maneiras: usando a opção “Ponto” da barra de ferramentas ou digitando-se as coordenadas de cada ponto na janela de entrada: A = (0, 0, 0) e B = (4, 0, 0), por exemplo.

– Desenhamos um cubo de aresta AB. Para isso, podemos usar a opção “Cubo” da barra de ferramentas e clicar nos pontos A e B ou digitar o comando Cubo[A, B] na janela de entrada. Podemos alterar as propriedades (cores, etc.) do cubo clicando com o botão direito do mouse.

– Desenhamos a planificação desse cubo, ou seja, sua área total. Pode ser usada a opção “Planificação” da barra de ferramentas ou um comando Planificação[nome, número] na janela de entrada, onde “nome” é o nome do cubo desenhado e “número” é um valor de 0 a 1 e que corresponde à posição do desenho do cubo planificado. Por exemplo, Planificação[a, 0.5] desenha a planificação “a meio caminho”, enquanto que Planificação[a, 1] desenha a planificação completamente no plano da base do cubo.

– Depois de definido um sólido (como o cubo), podemos calcular seu volume e todas as suas áreas e comprimentos. Para isso, podemos observar esses valores que aparecem na Janela de Álgebra ou usar as opções “Distância, Comprimento ou Perímetro”, “Área”, “Volume” da barra de ferramentas, ou digitar na janela de entrada comandos como Comprimento [arestaAB], Área[faceCDHG] ou Volume[a].

– Podemos calcular o comprimento de diagonais, bastando defini-la como um segmento do sólido e calcular seu comprimento.

 

INTERSEÇÕES DE UM CONE COM UM PLANO

Neste exemplo, visualizamos as interseções de um plano com um cone e podemos verificar que elas são as curvas conhecidas como “cônicas”.

– Selecionamos "Ponto” na barra de ferramentas e marcamos três pontos A e B.

– Na janela de entrada, digitamos o comando ConeInfinito[A, B, 0.5] para desenhar um cone com eixo AB e ângulo entre o eixo e uma geratriz de 0.5 radianos.

– Selecionamos “Ponto” novamente e marcamos três pontos C, D, E.

– Selecionamos “Plano por três pontos” na barra de ferramentas e clicamos nos pontos C, D, E. Com isso, é desenhado o plano que passa por esses pontos.

– Selecionamos “Interseção de Duas Superfícies” e clicamos no cone e no plano. Depois, clica mos com o botão direito do mouse na interseção obtida e alteramos suas propriedades, aumentando a espessura da linha.

– Selecionamos “Mover”, clicamos em um dos pontos A, B, C e movemos o ponto selecionado ao longo da janela e observamos as modificações na interseção. Dependendo da posição do plano com relação ao cone, podemos obter uma elipse, uma parábola ou uma hipérbole.