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UM POUCO DA OBMEP Eudes Antonio Costa As questões a seguir foram propostas a alunos do PIC – Programa de Iniciação Científica da OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, no ano 2014, e nos motivaram a pesquisar sobre os números repunits (repetição da unidade). Este texto pretende partilhar parte de nossa experiência. AS QUESTÕES Questão1 (Banco de Questões/OBMEP 2008)
Como a soma dos algarismos de 111111 é 6, pelo critério de divisibilidade por 3, temos que 111111 é divisível por 3, logo uma resposta imediata é 111111 = 3 × 37037. Perguntamos aos alunos se existiriam produtos diferentes desse, sem o algarismo 1. Vejamos a solução dessa questão, que chamaremos questão 1'. Resolução da questão 1' Temos R6 = (105 + 104) + (103 + 102) + (101 + 100). Observemos o seguinte resultado: Resultado 1: Se n é um número natural maior do que 1, então 10n – 1 + 10 n é um múltiplo de 11. Para verificar o resultado, basta escrever 10n – 1 + 10 n = 10n – 1(1 + 10) = 10n – 1 × 11. Esse Resultado 1 garante que R6 é soma de múltiplos de 11, logo é um múltiplo de 11. Já observamos que R6 = 111111 = 3 × 37037 e, por ser múltiplo de 11, ainda podemos escrever 111111 = 3 × 11 × 3367; dividindo 3367 por 7 e depois 481 por 13, obtemos: R6 = 111111 = 3 × 7 × 11 × 13 × 37. Escrevendo todas as possibilidades de produtos e evitando os que apresentam o algarismo 1, obtemos: 3 × 37037; 7 × 15873; 13 × 8547; 37 × 3003; 33 × 3367; 39 × 2849; 77 × 1443; 259 × 429; 143 × 777; 407 × 273. Logo, Roberto tem 10 opções para escrever R6 como deseja. Essa Questão 1 motivou a Questão 2, a seguir, que foi proposta no fórum (inserido no Portal do PIC) de discussão online que é utilizado pelos alunos do PIC para estudos complementares. Questão 2 (proposta no Portal do PIC) Seja Rk um número natural formado (na base 10) por k algarismos todos iguais a 1, para algum k ∈ ℕ*, ou seja, R2 = 11, R3 = 111 e sucessivamente.
Resolução do item a) da questão 2 A maioria dos nossos alunos resolveu corretamente o item a) da questão 2, e as soluções apresentadas por eles eram similares à seguinte: Temos:
Assim, os restos das divisões de R1, R2, R3, R4, R5, ... por 7 são respectivamente 1, 4, 6, 5, 2, 0, e isso se repete em ciclos de tamanho 6. Como 2014 = 6 × 335 + 4, ou seja, o resto da divisão de 2014 por 6 é 4, observando o padrão da repetição dos restos, concluímos que o resto da divisão de R2014 por 7 é 5. Quanto à resolução do item b) da questão 2, não obtivemos grande sucesso por parte dos alunos. Poucos foram os que perceberam que R2 = 11 é um divisor de R2014. Sugerimos aos alunos que investigassem se R2 e R3 eram divisores de R6 e se esse fato poderia ser generalizado para outros Rk e seus divisores. Antes de mostrar uma solução desse item b) da questão 2, vamos apresentar o estudo que fizemos dos Rk, alguns exemplos e afirmações. NÚMEROS Rk E SEUS FATORES Números da forma Rk são chamados repunits (repetição de unidade). O termo repunit foi utilizado pela primeira vez por Beiler [3], que apresentou a fatoração de Rk para alguns valores de k. A seguir, reproduzimos uma TABELA com fatorações de Rk para 2 ≤ k ≤ 19 e k = 53.
Existe uma dificuldade computacional para verificar se Rk é um número composto ou não (imagine Rk com milhões de algarismos), apontado em diversos trabalhos, por exemplo, [1], [2] e [5]. Os valores de k para os quais sabemos que Rk é primo são k = 2, 19, 23, 317 e 1031. Sabe-se também que, se k = 49081, 86453, 109297 ou 270343, então Rk passa por diversos testes probabilísticos de primalidade, ou seja, é um provável número primo. Em 2012 foram testados todos os valores de Rk para k < 2.500.000, mas nenhum novo provável primo foi encontrado. Uma questão, ainda em aberto, é se existem infinitos números primos da forma Rk. ALGUNS EXEMPLOS E AFIRMAÇÕES Observando a tabela anterior, apresentaremos alguns exemplos e faremos algumas afirmações sobre os números repunits Rk . Exemplo 1 Observemos que R3 = 111 = 3 × 37, R6 = 111111 = 3 × 37037 e R9 = 111111111 = 3 × 37037037. Isso leva, pelo critério de divisibilidade por 3, à: Afirmação 1
Exemplo 2 Observamos ainda que
Isso sugere: Afirmação 2
A verificação dessa Afirmação 2 é feita usando o Resultado 1, demonstrado anteriormente. Vejamos: é uma soma com k parcelas, logo com um número par de parcelas. Então podemos agrupar as parcelas aos pares: 10k-1 + 10k-2 +...+ 103 + 102 + 10 + 1 = (10k-1 + 10k-2) +...+( 103 + 102) +( 10 + 1). Pelo Resultado 1, cada soma dos pares entre parênteses é um múltiplo de 11, logo a soma toda, ou Rk, é um múltiplo de 11. Exemplo 3 Observamos também que R6 = 111111 = 7 × 13 × 1221 e R12 = 111111111111 = 7 × 13 × 1221001221 o que, junto com as afirmações 1 e 2, sugere: Afirmação 3
Para verificar a Afirmação 3, só falta mostrar que Rk é um múltiplo de 7 e de 13, pois, pelas Afirmações 1 e 2, temos que Rk é múltiplo de 3 e de 11. Para isso, observemos que, se n é um número natural, n ≥ 6, então 10n– 1 + 10n– 2 + 10n– 3 + 10n– 4 + 10n– 5 + 10n– 6 = (10n– 1+10n– 4)+(10n– 2+10n– 5)+(10n– 3+10n– 6) = 10n– 4 (103 + 1) + 10n– 5 (103 + 1) + 10n– 6(103 + 1) = 1001(10n– 4 + 10n– 5 + 10n– 6). .E, como 1001 = 7 × 11 × 13, temos que uma soma de 6 parcelas de potências de 10, com expoentes consecutivos, é um múltiplo de 7 e de 13. Ora, se k é um múltiplo de 6, então Rk é soma de grupos de potências de 10 como a anterior, logo é um múltiplo de 7 e de 13. Exemplo 4 Considere R6 = 111111 = 105 + 104 + 103 + 102 + 101 + 1 = 104(101 + 1) + 102(101 + 1) + (101 + 1) = (104 + 102 + 1)(101 + 1) = 10101 × 11 = 10101 × R2. R6 = 111111 = 105 + 104 + 103 + 102 + 101 + 1 = 103(102 + 101 + 1) + (102+ 101 + 1) = (103 + 1) (102 + 101 + 1) = 1001 × 111 = 1001 × R3. Ou seja, R6 = 10101 × R2 = 1001 × R3. Exemplo 5 R8 = 11111111 = 107 + 106+ 105 + 104 + 103 + 102 + 101 + 1 = 106(101 + 1) + 104(101 + 1) + 102(101 + 1) + (101 + 1) = (106 + 104 + 102 + 1) × 11 = 1010101 × R2. Ou, ainda, R8 = 11111111 = 104 (103+ 102 + 10 + 1) + (103 + 102 + 101 + 1) = (104 + 1) (103 + 102 + 101 + 1) = 10001 × R4. Logo, R8 = 1010101 × R2 = 10001 × R4. Exemplo 6 R9 = 111111111= 1001001 × R3, pois R9 = 108 + 106 + 105 + 104 + 103 + 102 + 101 + 1 = 106(102 + 101 + 1) + 103(102 + 101 + 1) + + (102 + 101 + 1) = (106 + 103 + 1)(102 + 101 + 1). Esses exemplos sugerem: Afirmação 4 Para quaisquer a, k ∈ ℕ*, se a divide k, então Ra divide Rk. Para verificar essa afirmação, basta fazer: Se a é um divisor de k, então k = ab, b um número natural, e Rk = Rab. Rab = 10ab – 1 + 10ab – 2 +... + 10a + 10a – 1 + ... + 101 + 1 = (10a(b – 1) + 10a(b – 2) + ... + 1)(10a – 1 + 10a – 2+ ... + 102 + 101 + 1) = (10a(b – 1) + 10a(b – 2) + ... + 1) × Ra. Resolução do item b) da questão 2 Temos 2014 = 2 × 19 × 53 e então segue da Afirmação 4 que R2, R19 e R53 são divisores do tipo repunits de R2014. CONSIDERAÇÕES É claro que não esperávamos que nossos alunos do PIC percebessem que R19 e R53 são divisores repunits de R2014; esperávamos, contudo, que observassem que R2 é divisor de qualquer Rk com k par. Também esperávamos que concluíssem que R3 não é um divisor de R2014 , pois 3 é um divisor de R3 e 3 não é um divisor de R2014, já que a soma de seus algarismos é 2014, que não é divisível por 3. Também foi possível observar que, embora a Afirmação 4 implique ser necessário que k seja primo para Rk ser primo, essa condição não é suficiente, visto que (ver TABELA): R3 = 111 = 3 × 37, R5 = 11111 = 41 × 271 e R7 = 239 × 4649 são compostos. Para finalizar, propomos aos leitores as questões: Questão 3
Questão 4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ANDREESCU, T. & GELCA, R. Mathematical Olympiad Challenges. New York, Birkhauser – Boston/ Springer-Verlag, 2000. [2] BAXTER, L. R86453 is a New Probable Prime Repunit. 2000. <http://listserv.nodak.edu/scripts/wa.exe?A2=ind0010L=nmbrthryP=2557>. [3] BEILER, A. H. 11111 ... 111. Ch. 11 in Recreations in the Theory of Numbers: The Queen of Mathematics Entertains. New York, Dover, 1966. [4] DUBNER, H. “Repunit R49081 is a Probable Prime”. Math. Comput. vol. 71, p. 833-835, 2002. [5] MAVLO, D. “Absolute Prime Numbers”. The Mathematical Gazette. vol. 485, p. 299 – 304, 1995. [6] WILLIAMS, H. C. & DUBNER, H. A. “Primality de R1031”. Math. of Computation. vol. 47, p. 703-711, 1986.
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