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Marcelo Viana No dia 13 de agosto de 2014, teve início na cidade de Seul, Coreia do Sul, o Congresso Internacional de Matemáticos 2014. Na cerimônia de abertura, realizada no dia 13 de manhã, a presidente da União Matemática Internacional, professora Ingrid Daubechies, anunciou os ganhadores do prêmio mais renomado da Matemática mundial, a Medalha Fields, bem como do Prêmio Nevanlinna, do Prêmio Gauss, da Medalha Chern e do Prêmio Leelavati. O primeiro nome anunciado foi de um brasileiro: Artur Avila, pesquisador do IMPA. A notícia imediatamente invadiu todos os meios de comunicação nacionais e internacionais, em todas as mídias. Não é para menos. A Medalha Fields acumulou ao longo dos seus quase 80 anos de existência um prestígio sem paralelo no mundo da Matemática. E Artur Avila foi o primeiro galardoado que não só nasceu e cresceu, como teve toda a sua formação acadêmica em um país em desenvolvimento. País esse, o Brasil, que começou a dar os primeiros passos na pesquisa matemática há apenas seis décadas. A notável façanha do Artur mostra que é possível alcançar o topo da excelência mesmo num país com evidentes carências sociais e educacionais, quando se aposta no brilho, sem concessões à falta de qualidade. A Medalha Fields do Artur é, antes de tudo, um reconhecimento do seu talento excepcional. Mas, pelas razões que já mencionei, ela é também uma homenagem da comunidade mundial a uma instituição, o IMPA, e a uma comunidade matemática, a comunidade brasileira, pelo extraordinário caminho percorrido em tão pouco tempo. E representa um enorme desafio que é lançado a todos nós, de fazer jus e dar continuidade a esse progresso. Ainda mais dada a circunstância, fortuita mas muito feliz, de que o próximo Congresso Internacional de Matemáticos será realizado no nosso país, no Rio de Janeiro e em São Paulo, em 2018. A Medalha Fields foi criada nos anos 30 do século passado, por sugestão do matemático canadense John Charles Fields, organizador do ICM 1924 em Toronto, Canadá. Os objetivos de Fields eram: promover a cooperação internacional, num período tão conturbado da história mundial, e, no que respeita aos ganhadores do prêmio, reconhecer suas realizações passadas e incentivar novas contribuições à Matemática. Por esta última razão, foi entendido que o prêmio deveria ser concedido apenas a matemáticos jovens, com no máximo 40 anos, e essa regra persiste até hoje. O Congresso Internacional de Matemáticos (mais conhecido por sua sigla em inglês, ICM), durante o qual são concedidas as Medalhas Fields, é o evento mais importante e abrangente de toda a Matemática. Ele foi realizado pela primeira vez em 1897 e de então para cá vem sendo organizado a cada 4 anos, apenas com interrupções por ocasião das duas guerras mundiais. No Congresso Internacional de Matemáticos são apresentados os últimos avanços da pesquisa em Matemática e são estabelecidas novas colaborações entre pesquisadores. Além disso, o ICM serve como forte instrumento para divulgar a Matemática, e a sua importância, em toda a sociedade. Esse último aspecto é particularmente relevante para nós, organizadores do ICM: queremos que toda a sociedade brasileira, especialmente a comunidade escolar, tenha consciência do ICM 2018 do Rio de Janeiro e do que representa o fato de a União Matemática Internacional ter decidido, por unanimidade, conceder ao nosso país a oportunidade de organizar esse evento. Trata-se de uma grande honra, de um importante reconhecimento de tudo que a Matemática brasileira já alcançou, e de um grande desafio perante as gerações futuras de matemáticos e estudantes de Matemática. Por essa razão, o tema escolhido para ICM 2018 é Semeando o Futuro. Recentemente, participei de um debate promovido pelo Instituto de Estudos Avançados e pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, intitulado "Artur Avila, a Medalha Fields e a Matemática Brasileira". O debate foi moderado pelo professor Edson de Faria, da USP, e contou também com a participação dos meus colegas, professores Maurício Peixoto e Welington de Melo, do IMPA. Fomos solicitados a comentar quais foram as circunstâncias, particularmente no IMPA, que conduziram a esse feito notável. O debate destacou especialmente alguns aspectos do modo como o IMPA foi construído e vem atuando:
Artur Avila, que começou a frequentar o IMPA quando ainda aluno do segundo grau, e nele encontrou um ambiente acolhedor e todas as facilides para realizar plenamente o seu potencial, é a melhor demonstração do acerto dessas políticas. Não importa quão estranhas elas possam parecer a determinados setores da nossa comunidade escolar acadêmica, que perfilham interpretações abusivas do "princípio da isonomia’’ e consideram meritocracia um palavrão. Em 7 de agosto de 2018, o Rio de Janeiro se converterá na capital mundial da Matemática, por ocasião da abertura do ICM 2018. Alguns dias antes, o campus da Universidade de São Paulo receberá os delegados da Assembleia Geral da União Matemática Internacional, na qual serão tomadas importantes decisões para o futuro da área. Para saber mais sobre os dois eventos acesse www.icm2018.org. Temos certeza de que a organização desses eventos contará com o apoio da nossa comunidade, a qual sairá ainda mais enobrecida. Esperamos que, entre os nomes de laureados anunciados na abertura desse Congresso, volte a haver nomes de pesquisadores brasileiros. Esperamos que, ao assistir à cerimônia, meninos e meninas vindos de todo esse imenso país sonhem em ser matemáticos e, um dia, ouvir seus nomes anunciados também como ganhadores da Medalha Fields.
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