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Joel
Faria de Abreu Por
imposição do raciocínio lógico, somos levados a demonstrar, na Matemática,
até as proposições “intuitivas”, tidas como óbvias. Vejamos como
estamos sujeitos a erros inesperados deixando de usar o raciocínio lógico
e utilizando apenas a intuição. Suponhamos
que seja possível colocar uma corda circundando a Terra, ajustando-a ao
equador. Em seguida, retiramos esta corda, aumentamos um metro no seu
comprimento e a recolocamos em volta da Terra, formando uma circunferência
concêntrica com o equador. Assim, teremos um vão entre o equador e a
corda, ou melhor, uma diferença x entre os raios das duas circunferências.
Então, perguntamos: usando-se somente a intuição, qual é o valor
aproximado de x? Ou seja, qual é a largura aproximada deste vão entre o
equador e a corda? Cremos
que o leitor dirá: não existe vão algum... E desprezível esta diferença...
Como a Terra é tão grande e só se aumentou um metro na corda, é claro
que o vão é muito pequeno e, por conseguinte, desprezível... Ledo
engano! Este vão é de aproximadamente 16 cm! E estranho, pois a intuição
nos leva a uma diferença muito pequena, mas recursos matemáticos —
estes sim, confiáveis — nos mostram o verdadeiro valor de x. Na
realidade, a intuição é um poderoso recurso da inteligência e tem sido
responsável por muitas descobertas científicas. Mas, às vezes, a intuição
sozinha pode induzir-nos ao erro e o fenômeno que estamos considerando é
um exemplo disto. Passemos
ao cálculo de x, sendo C o comprimento do equador e r o raio da Terra,
temos:
C=
2 P
r C
+ 1 =
2 P (r + x) C
+ 1 =
2 P
r + 2 P
x C
+ 1 = C + 2 P
x 2
P
x = 1
Notamos
que x é independente de r; independente portanto, do comprimento da
circunferência. Repetindo-se o mesmo processo da experiência anterior,
por maior que fosse o comprimento da circunferência, teríamos os mesmos
16 cm. Passemos,
agora, ao segundo exemplo: consideremos um círculo com raio igual ao raio
da Terra. Suponhamos ser possível cobrir toda a superfície deste círculo
por uma outra superfície, modelável, ajustada a ele. Retiramos, em
seguida, esta segunda superfície, aumentamos sua área de um metro
quadrado, e a remodelamos, até se transformar novamente num círculo, com
área, obviamente, um metro quadrado maior. Em seguida, justapomos as
duas superfícies de modo a obter dois círculos concêntricos. Assim,
haverá uma diferença x entre os raios dos dois círculos. Perguntamos
novamente: usando-se apenas a intuição, qual é um valor aproximado de
x? Cremos
que o leitor, desta vez, alertado pelo problema anterior, teria maior
cautela para emitir um juízo, baseado apenas em sua intuição. De fato,
poderíamos pensar, como conseqüência do erro cometido anteriormente,
que x tenha um valor constante. Mas, neste problema, tratando-se de um
circulo de enorme área, a diferença é desprezível. Isto porque, agora,
pela fórmula A
= P
r2, e
por um cálculo análogo ao primeiro, concluímos que x depende de r. Lançando
mão do cálculo do limite, notamos também que x decresce na medida em
que r cresce. Na realidade, para o valor de r = 6.355.000 m (raio da
Terra), a diferença dos respectivos raios representa uma fração de milímetro.
Portanto, desprezível...
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