Algumas técnicas operatórias
(de outros tempos e de outros lugares)

Ronaldo Nicolai
Campinas – SP

Aprendemos  na infância – e usamos inúmeras vezes – algoritmos para efetuar 4 operações elementares: adição, subtração, multiplicação e divisão.

Esses algoritmos estão intrinsecamente e ligados  ao nosso sistema de numeração mas podemos nos perguntar: será que são os únicos existentes? Foram sempre usados? São universalmente reconhecido como os melhores?

Neste artigo descrevemos algumas técnicas operatórias, de aparências talvez exótica, usadas em outros tempos e outros lugares. Apresentaremos também pequenas variações dos algoritmos habituais   que ajudam a compreender porque estes algoritmos fornecem as respostas desejadas.

 

     Adição

 

  ou

             

             

                

             

              

  O algoritmo da adição realiza, simultaneamente, a maior parte das operações acima detalhadas.

 

     Multiplicação

a)    Usando uma decomposição como a anterior e aplicando a propriedade distributiva, temos

              

ou, de modo um pouco mais prático

 

b)      Multiplicação em gelosia

Os dois quadros abaixo ilustram o algoritmo em gelosia para efetuar 584X 97. Não se sabe quando ou onde a multiplicação em gelosia apareceu, mas a Índia parece ser a fonte mais provável. Lá foi usada pelo menos desde o século doze e depois parece ter sido levada à China e à Arábia.

c)       Técnica camponesa ou russa

Foi uma técnica comum na Europa medieval. Chamou-se multiplicação russa pois era supostamente usada pelos camponeses russos até a 1ª Guerra Mundial. A multiplicação de 584 por 97 ilustrará o processo:

97

584*

584

48

1168

 

24

2336

 

12

4672

 

6

9344

 

3

1688*

18688

1

37376*

37376

 

 

56648

O processo consiste em dividir por 2 um dos fatores (com aproximação para menos, se for ímpar) e, simultaneamente, dobrar o outro fator. Somam-se os resultados das linhas dobradas onde a correspondente metade for ímpar. Tente descobrir por que funciona.

 

     Subtração  

Várias técnicas podem ser usadas para efetuar uma subtração:

a)       Adicionar o mesmo aos dois termos da subtração:  

Outro exemplo?

b)      Podemos também subtrair o mesmo número dos dois termos

c) Quanto devemos acrescentar ao 97 para obter 584?  

97

+

3

=

100

100

+

400

=

500

500

+

84

=

584

 

 

487

 

 

  d) Quanto devemos tirar de 584 para obter 97?

584

4

=

580

580

80

=

500

500

400

=

100

100

3

=

97

 

 

487

 

 

 

     Divisão  

Sabemos que, dados dois números inteiros positivos a e b, existe um único par de números inteiros q e r, chamados quociente e resto, tais que a = bq + r e 0 £ r < b. O algoritmo da divisão nos fornece o quociente q e o resto r.

Em alguns países, como a Inglaterra e os Estados Unidos, o algoritmo inicial para achar q e r é diferente do nosso. (Também a maneira de dispor a, b, q e r difere um pouco da nossa.)

Vamos exemplificar:

317

8

ou, começar por exemplo, com 30 no quociente:

317

8

– 80

10

–240

30

237

20

77

9

–160

 

–72

39

77

5

5

 

–40

 

 

 

37

4

 

 

–32

39

 

 

5

 

 

 

Qualquer número poderia ser colocado no lugar reservado ao quociente desde que o produto deste número pelo divisor seja menor do que ou igual ao respectivo dividendo. Na prática, o que fazemos é tomar o maior número possível nessas condições, a fim de abreviar o processo. O quociente da divisão é a soma do quocientes parciais.
Mais um exemplo:

509

37

ou, como os americanos e ingleses escrevem:

 

37)

10 + 2 + 1

=13

– 370

10

 

509

 

139

2

 

370

 

– 74

 

 

139

 

65

1

 

74

 

– 37

13

 

65

 

28

 

 

37

 

 

 

 

 

 

28

 

Cada criança, a seu tempo, vai encurtando o processo, chegando eventualmente ao algoritmo usual:

317

8

ou

317

8

– 24

39

77

39

77

 

5

 

– 72

 

 

 

5

 

 

 

Convém observar que o último algoritmo, predominante em nossas escolas, é o que exige um cálculo mental maior.

 

Referências

[1]   Atividades Matemáticas I e II – CENP/ Secretaria de Estado da Educação –      São Paulo.

[2]   Subsídios para a Implementação do Guia Curricular de Matemática – Álgebra para o 1º grau – 1ª a 4ª  séries    CENP/SE.

[3]   Conferência da Prof. Lídia Conde Lamparelli – Rio Claro, SP, novembro de 1983.

[4]   História da Matemática     Carl B. Boyer – Editora E. Bucher.

 

Ronaldo Nicolai, licenciado em Matemática pela UNICAMP, é professor efetivo da rede estadual de São Paulo e atua como monitor de Matemática junto à 1ª Delegacia de Ensino de Campinas, SP.