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PAINEL I: ÁLGEBRA E MAGIA Rubens Vilhena Fonseca
Uma das coisas divertidas que podem ser feitas com Matemática é criar a ilusão que ela nos dá poderes especiais e com isso impressionar pessoas, já que a maioria delas gosta muito de surpresas matemáticas. Os tais poderes nada mais são do que certo domínio sobre a Álgebra, como veremos nos exemplos a seguir.
Pense numa resposta e a Álgebra cria o problema Nosso primeiro truque será para impressionar seus colegas com o místico número 13. Veja:
Para quem tem medo do número 13, esse é um truque assustador, mas a explicação não é nada complicada. Denotando o número pensado por n, vamos escrever as ordens dadas em linguagem algébrica: n; n + 11; 6n + 66; 6n + 63; 2n + 21; 2n + 21 – (n – 6) = n + 27; Mágicas numéricas não podem deixar de fora o elegante número 1.
Se os passos forem seguidos corretamente, a resposta será sempre 1, independentemente do inteiro positivo escolhido. Segue abaixo a explicação algébrica, denotando o número pensado por n: n; n + 3; 2n + 6; 2n + 2; n + 1; n + 1 – n = 1 Aqui temos que revelar nossos segredos, mas, como se pode ver, é apenas a boa e velha Álgebra em ação.
Centavos no bolso, idades e aniversários Peça ao seu amigo para contar a quantia menor do que 1 real que ele tenha no bolso. Diga-lhe que você pode adivinhar quanto ele tem em centavos, determinando, além disso, a idade dele, contanto que ele lhe mostre a resposta final depois de fazer algumas contas às suas ordens. Vamos supor que seu amigo tenha 16 anos de idade e 30 centavos no bolso. Solicite a ele que faça os seguintes cálculos
Quando seu amigo disser a resposta, imediatamente você lhe dirá a sua idade juntamente com a quantidade de centavos que ele possui. Os dois primeiros algarismos na resposta é o numero 16, a idade, e os dois últimos correspondem ao trocado, 30 centavos. Explicando com linguagem algébrica, indicando a idade por I e o trocado em centavos por T: I; 4I; 4I + 10; 25(4I + 10) = 100I + 250; 100I + 250 – 365; 100I – 115; 100I – 115 + T; 100I – 115 + T + 115 = 100I + T Portanto, 100I ocupa a casa das centenas simples e unidades de milhar na resposta final, enquanto T aparece na casa das unidades e dezenas simples. Depois de adivinhar a idade do seu amigo, você pode aproveitar para comer um bolo na casa dele descobrindo o dia e o mês do aniversário dele. Vamos supor que ele faça aniversário no dia 25 de abril (25/04), então peça ao seu amigo para efetuar os seguintes cálculos:
Quando seu amigo lhe der a resposta, você deve subtrair 205 e obterá 425. O 4 representará o mês de abril e o 25 o dia do mês. Deixamos para o leitor a verificação algébrica deste caso.
PAINEL II: ARREDONDAMENTOS PERIGOSOS Rogério César dos Santos O problema hipotético a seguir mostra os perigos do arredondamento no cálculo de frações com denominador próximo de zero. Considere infinitos quadrados, postos lado a lado, tais que as medidas dos seus lados estão em progressão geométrica de razão x, com 0 < x < 1, sendo também x a medida do lado do primeiro quadrado. Como 1 > x, temos x > x2 > x3 > ..., de forma que os quadrados possuem as medidas dos lados decrescentes, como ilustrado na figura acima. Sobre a soma das áreas desses infinitos quadrados para x = 0,99408, podemos afirmar que ela é
Bem, as áreas também estão em PG de primeiro termo e razão iguais a x2 com x2 < 1; logo, a soma de seus infinitos termos é dada por . Calculemos essa soma para x = 0,99408. Para facilitar os cálculos, vamos arredondar para x = 0,99, de modo que a soma será 49,25. Portanto, item c). Será? Observe, porém, que, se não arredondássemos o valor de x, teríamos: 83,71. Logo, item d). Mas, que diferença! Certos arredondamentos são mesmo perigosos. Mas, como saber se o arredondamento é perigoso assim? Analisando o gráfico da função, podemos tirar algumas conclusões. Vamos construir o gráfico da função f(x) = no software gratuito WINPLOT: Observe que a reta x = 1 é uma assíntota ao gráfico da função f. Ou seja, quando x se aproxima de 1 pela esquerda, como foi o nosso caso, f tende a mais infinito, como mostra o gráfico. Por exemplo, tomando x = 0,99 e depois x = 0,99408, verificamos que a função aumenta drasticamente de valor. O gráfico também informa que, se, por exemplo, tivermos x = 0,023379 e fizermos uma aproximação para x = 0,02, o valor obtido será bem próximo do valor real, sem aproximações.
PAINEL III: BALANÇA E A BASE 3 Leonardo Barichello1 A analogia entre uma balança de braços e uma igualdade numérica é tão boa que problemas utilizando esse contexto são bastante comuns em livros didáticos, provas olímpicas e textos de divulgação. Por exemplo, o texto Com a ajuda da balança, de Celina Augusto, publicado na RPM 3, explora como essa analogia pode ser utilizada para introduzir equações no ensino fundamental II. Uma questão sobre o assunto (utilizada na prova ([1]) de seleção para o mestrado profissional em Matemática oferecido pela SBM, conhecido como Profmat) nos chamou a atenção, por utilizar potências de 3 como pesos. Eis o enunciado e as alternativas da questão:
A) 1, 9 e 27 B) 3 e 27 C) 9 e 27 D) 1 e 9 E) 3 e 9 Para resolver essa questão específica, devemos colocar os 5 pesos disponíveis e a pera nos pratos da balança até que ela se equilibre, ou seja, até que a soma dos pesos em cada lado seja igual. Isso ocorre quando colocamos de um lado a pera, o peso de 27 gramas e o de 3 gramas (totalizando 91 gramas) e do outro lado os pesos com 1, 9 e 81 gramas (totalizando 91 gramas), já que 61 + 27 + 3 = 8 1 + 9 + 1. (*) Portanto, a alternativa correta é a B). A pergunta que surgiu ao ler a questão foi: para quais valores será possível equilibrar uma pera (supondo que seu peso em gramas seja um número inteiro), utilizando os mesmos pesos? O fato de os pesos serem todos potências de 3 nos levou a pensar na representação de números naturais na base 3, e esse foi o caminho escolhido para tentar resolver o problema.
A base 3 Dados dois números naturais a e b, b > 1, é possível encontrar números naturais a = c0 + c1b1 + c2 b2 + … + cn bn. Esse resultado garante a possibilidade de escrever qualquer número natural a, em qualquer base b, sendo b > 1. A demonstração pode ser encontrada, por exemplo, em [2]. Retomando o problema, note que um número escrito na base 3 usa apenas os dígitos 0, 1 e 2. Mas como isso poderia se relacionar com o problema que queremos resolver? Para responder a essa pergunta, vamos tomar como ponto de partida a representação de 61 na base 3: 6110 = 20213 = 2 × 33 + 0 × 32 + 2 × 31 + 1 × 30 Como 2 = 3 – 1, podemos “eliminar” os 2 da representação: 61 = (3 – 1) × 33 + 0 × 32 + (3 – 1) × 31 + 1 × 30 = 1 × 34 – 1 × 33 + 1 × 32 – 1 × 31 + 1 × 30. Agora, trazendo para o lado esquerdo da equação todos os termos negativos e efetuando parte das operações indicadas, obtemos: 61 + 27 + 3 = 81 + 9 + 1, que é a igualdade (*), mostrada no começo do texto para representar a solução do problema inicial.
Conclusão Observemos que o procedimento apresentado pode ser repetido para qualquer número natural escrito na base 3 e, portanto, nos permite concluir que qualquer que fosse o peso (inteiro) da pera seria possível equilibrá-la na balança usando pesos que são potências de 3. É claro que, se a pera for muito pesada, será necessário utilizar potências de 3 maiores para equilibrar a balança. De fato, o maior peso que pode ser pesado com os pesos dados é p = 1 + 3 + 9 + 27 + 81 = 121. Para terminar, mencionamos alguns outros problemas que poderiam ser propostos: É possível realizar as mesmas pesagens com um número menor de pesos? É possível realizar as mesmas pesagens com outros 5 pesos? O que ocorre se os pesos só forem colocados em um dos pratos?
Referências [1] http://www.profmat-sbm.org.br/docs/Exame_de_Acesso_2012_Objetivas.pdf (acessado em 12/07/2012). Exame de acesso à pós-graduação stricto sensu para aprimoramento da formação profi ssional de professores da educação básica. 1 Agradecimento à Rita Santos Guimarães pela ajuda na resolução da questão e pela revisão do texto.
PAINEL IV: PROBLEMA E RESPOSTA "DO CÃO" Luiz Roberto Rosa da Silva
x4 + 2x3 + x2 – 2x –1 = 0, que é satisfeita pela medida x do segmento indicado na figura do enunciado do problema. Depois, na RPM 18, na mesma seção, o antigo membro do Comitê Editorial da RPM, Augusto Cesar Morgado, apresenta uma solução do mesmo problema sem cair na equação acima, usando semelhança de triângulos e funções trigonométricas. A resposta obtida nessas soluções é x = . Recentemente, o autor acima mandou para a RPM o mesmo problema com solução que recai na mesma equação, mas resolvendo-a de modo diferente dos apresentados anteriormente. Sendo assim, a RPM resolveu publicar essa nova solução.
O problema O lado AD, de medida 1, do quadrado ABCD é prolongado, formando o segmento AE de modo que B, F e E sejam colineares. Se FE mede 1, obter a medida x do segmento DE.
A solução Pela semelhança dos triângulos EFD e EBA, temos . Em EBA, pelo teorema de Pitágoras: + x2 = 1 ou + = 1. Fazendo = y, obtemos + = 1. Completando o quadrado: A última igualdade leva a (2y + 1)2 = (y2 + y + 2)(y2 + y) ou 4(y2 + y) + 1 = (y2 + y + 2)(y2 + y). Fazendo y2 + y = w, temos w2 – 2w –1 = 0. Como y > 0, temos w > 0; logo, w = +1. Então, y2 + y −( +1) = 0 ou y = . Portanto, x = E, agora, ? |
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