Fernando Henrique Antunes de Araújo

Os problemas de otimização caracterizam-se por não mostrarem em seu enunciado a função a ser otimizada, fazendo com que o aluno ponha em evidência conhecimentos prévios e a habilidade de resolver situações-problema.

Nos cursos superiores de Matemática, problemas de otimização costumam ser resolvidos com o uso do cálculo diferencial. No contexto de ensino médio, a maioria dos problemas de otimização conduz a uma função polinomial do segundo grau, mas é claro que há uma ampla gama de problemas elementares que não se enquadram nessa simplificação.

No entanto, mesmo no ensino médio podem ser tratadas situações relativas a otimização que normalmente só seriam abordadas no ensino superior, pois a desigualdade entre as médias aritmética e geométrica mostra-se eficiente na resolução de tais problemas.

A desigualdade das médias é o teorema que diz que, se x1, x2, ..., xn são números reais positivos, então sua média geométrica não supera sua média aritmética, isto é:

E mais: a igualdade só ocorre quando todos os números forem iguais, x1 = x2 = ... = xn. O leitor interessado pode consultar várias demonstrações dessa desigualdade para dois números em [3], onde também há um esboço da demonstração geral para n números, ou ainda na própria RPM [4]. Em [1] e [2], podem-se encontrar diferentes demonstrações que não usam Cálculo, para n números.

Vejamos agora alguns exemplos de problemas de otimização e suas soluções utilizando a desigualdade em questão:

Problema 1

Se 1200 cm2 de material estiverem disponíveis para fazer uma caixa com uma base quadrada e sem tampa, encontre o maior volume possível da caixa e as dimensões para que isso ocorra.

Solução: Seja A a área da superfície e V o volume da caixa. Se h é a altura da caixa, temos A = x2+4xh = 1200 e V = x2 h. Aplicando a desigualdade entre as médias em A:


Logo, 4V 2 4003 ou V 4000.

Esse resultado nos diz que o volume é menor ou igual a 4000 cm3, e o volume será máximo se, e quando, a igualdade ocorrer. A igualdade acontece quando os termos forem iguais, x2 = 2xh. Resolvendo o sistema
obtemos x = 20 cm e h = 10 cm e constata-se que, de fato, ocorre o valor máximo, V = 4000cm3, para esses valores.

 

Problema 2

Se uma lata de zinco de volume 16pcm3 deve ter a forma de um cilindro circular reto, ache a altura e o raio do cilindro para que a quantidade de material usado em sua fabricação seja a menor possível.

Solução: Seja r o raio da base, h a altura e S a área da superfície total do cilindro. Então, temos r2h = 16 e S = 2prh + 2pr2. Usando a desigualdade das médias em S, obtemos

Ou seja, S 24p e S será mínima se, e quando, a igualdade ocorrer, isto é, quando prh = 2pr2. Resolvendo o sistema
obtemos h = 4 cm e r = 2 cm e constata-se que, de fato, o mínimo para S, S = 8pcm2 ocorre para esses valores.

Problema 3

Encontre as dimensões do cilindro circular reto de maior área lateral que pode ser inscrito numa esfera de raio 6 m.

Solução: A figura ao lado mostra a interseção do sólido com o plano que contém o eixo do cilindro. Se S é a área lateral do cilindro, temos S = 4pxy com x2 + y2 = 36. Aplicando a desigualdade das médias, podemos escrever

ou S 72p.

A área lateral do cilindro é então menor ou igual a 72pm2 e será máxima quando, e se, a igualdade ocorrer. A igualdade acontece quando os termos forem iguais, isto é, x2 = y2. Agora basta resolver o sistema

obtendo x = y = 3m.

O leitor deve ter observado que, em cada problema específico, é necessário um pouco de prática para descobrir quais são os termos que devem formar a desigualdade das médias a ser aplicada.

 

Referências bibliográficas


[1] Carneiro, J.P. A poderosa desigualdade das médias. Revista da Sociedade Portuguesa de Matemática, n 36, abril de 1997.
[2] Lima, Elon Lages. Meu professor de matemática e outras histórias. Sociedade Brasileira de Matemática, 1991.
[3] Lima, Elon Lages; Carvalho, Paulo Cezar Pinto; Wagner, Eduardo; Morgado, Augusto César. A Matemática do Ensino Médio, volume 2. Sociedade Brasileira de Matemática, 1998.
[4] RPM 18. Duas médias, Eduardo Wagner, 1991.