Vanessa Botta
FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente

De acordo com o Censo da Educação Superior do ano de 2007, realizado pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), existem no Brasil poucas instituições de ensino superior que oferecem cursos de graduação voltados à Matemática Aplicada, como podemos ver na tabela abaixo, obtida no site do INEP. Em compensação, o número de instituições que oferecem cursos de Licenciatura em Matemática é significativamente grande, correspondendo a aproximadamente 88% dos cursos de formação em Matemática no Brasil.

Número de cursos de graduação presenciais, em 30/06, por organização acadêmica e categoria administrativa das IES, segundo as áreas gerais, áreas detalhadas e programas e/ou cursos – Brasil – 2007

Fonte: http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/superior/news09_01.htm - acesso em 09/09/09

É importante ressaltar aqui que os cursos de Matemática Industrial e Matemática Computacional também fazem parte da Matemática Aplicada que estou considerando neste artigo. Então, através do último censo da educação superior divulgado pelo INEP, temos, no Brasil, apenas 12 cursos de graduação em Matemática Aplicada num total de 644 cursos relacionados à Matemática, ou seja, aproximadamente 1.9%, o que é, sem sombra de dúvidas, um número muito pequeno. Mas esse número é justificado se levarmos em consideração que a profissão de “matemático aplicado” ainda é novidade para a maioria dos jovens brasileiros, que costumam ver a Matemática como uma disciplina complicada e também relacionada somente à docência. Porém, nos últimos anos, vem crescendo o número de matemáticos que trabalham em grandes empresas.

Então, com o objetivo de divulgar outras áreas (diferentes da docência) em que os matemáticos (não somente os aplicados) podem atuar, venho aqui enumerar algumas atividades em que o profi ssional formado em Matemática é sempre bem-vindo.

Começarei pelas instituições financeiras. Nessas empresas, é importante que os profissionais tenham raciocínio lógico e facilidade para lidar com números, qualidade que a maioria dos matemáticos possui. Além disso, com o aumento da necessidade do uso de computadores, os matemáticos também podem atuar na área de desenvolvimento de softwares e sistemas bancários.

Uma outra área de atuação para os matemáticos é a de pesquisador em grandes empresas ou instituições públicas. Como exemplo, segundo dados do ex-presidente da Embrapa, Dr. Silvio Crestana, cerca de 95 matemáticos fazem parte do quadro de funcionários dessa empresa, sendo 74 graduados, 1 especialista, 12 mestres e 8 doutores. Alguns desses profissionais trabalham no desenvolvimento de modelos matemáticos voltados à agricultura, como, por exemplo, na modelagem de pragas agrícolas, em modelos para representar o comportamento de pesticidas no ambiente e na simulação do crescimento de plantas, entre outros.

Outro exemplo interessante está relacionado às pesquisas meteorológicas e de previsão de tempo, onde a Matemática está presente através das simulações numéricas. Além disso, grandes empresas exploradoras de petróleo também precisam de matemáticos para realizar simulações numéricas, pois muitos problemas nessa área (como o escoamento de petróleo num tubo) são modelados através de equações diferenciais.

Na área médica, através da solução de modelos mecânico-biológicos, pesquisas estão sendo realizadas para antecipar, com razoável grau de precisão, resultados de importantes procedimentos médicos como ponte de safena e transplante renal, por exemplo.

Os matemáticos também podem atuar como consultores em empresas privadas geralmente no desenvolvimento de novos produtos, no estudo da otimização de vendas, no aumento da eficiência de determinado produto, etc. Mas esse trabalho exige do profi ssional em Matemática conhecimentos em outras áreas, como na Física, na Engenharia e na Administração, entre outras.

Chamo a atenção para o curso de Matemática Industrial, que segundo dados disponibilizados no site (http://www.ufpr.br/graduação/matind) do único curso do país nessa área, da Universidade Federal do Paraná, o profissional denominado “matemático industrial” detecta vários tipos de problemas em uma organização, trabalha pela otimização dos recursos e da produção, propondo soluções, sempre visando ao melhor desempenho, tanto da empresa como dos trabalhadores. “O campo de trabalho é o mais diversifi cado possível e está em franca expansão no Brasil, seguindo uma tendência mundial. Algumas áreas de atuação, agregadas dentro das três grandes áreas de formação do curso, são: formulação de misturas (alimentos, rações e adubos), blendagem de ligas metálicas e petróleo, transporte, localização ótima de indústrias, investimentos, políticas de vacinação, escoamento de fluidos, ... ”

Portanto, podemos perceber que a área da modelagem matemática está em crescente expansão nos últimos anos, sendo cada vez mais comum a necessidade de utilizar ferramentas matemáticas para representar problemas reais. E, do meu ponto de vista, esse crescimento ainda é pequeno diante da grandiosidade das ferramentas matemáticas que temos para “tentar” modelar fenômenos físicos, meteorológicos, ambientais, biológicos, químicos, etc.

Bem, imagino que os matemáticos podem trabalhar em muitas outras coisas, mas paro aqui com a enumeração dessas atividades para levantar outra questão importante: como inserir os recém-formados em Matemática nesse mercado de trabalho? De fato essa questão é muito polêmica, pois talvez nós, professores de cursos de graduação, formadores de matemáticos, ainda não sabemos lidar com a forma de orientar nossos alunos para atuarem em outras áreas diferentes da docência, pois nossa formação foi (e penso que ainda é) completamente focada para trabalharmos como professores. Na verdade, eu vejo a profissão de professor como uma das mais belas, pois temos o compromisso de transmitir não somente o conhecimento aos nossos alunos, mas também dignidade, cidadania e caráter, por exemplo, e também aprendemos muito com eles. Ao mesmo tempo em que ensinamos, também aprendemos. Mas, voltando à discussão, é importante que as empresas se aproximem mais de nossos alunos. De que forma, ainda não sei. Mas o que está ao alcance de nós, professores, é mudar gradualmente a forma de orientar nossos alunos, incentivando-os à pesquisa científica, pois através dela eles desenvolvem a criatividade, a independência e o raciocínio, por exemplo, que são qualidades importantes para qualquer profissional inserir-se no competitivo mercado de trabalho. Também penso que é importante os professores do ensino fundamental e médio trabalharem com atividades que proporcionam o desenvolvimento da curiosidade dos alunos, incentivando-os à pesquisa e, no caso da Matemática, mostrando-lhes a beleza dessa ciência através das inúmeras aplicações que temos no nosso ambiente, ao nosso redor. Sei que não é uma tarefa fácil, mas, se cada um colaborar um pouco, talvez consigamos mudar a real situação da educação no Brasil.

Este artigo é uma pequena síntese de atividades que o mercado de trabalho oferece para profissionais da área da Matemática, lembrando que inúmeras outras não foram citadas aqui. Mas cabe ao público interessado buscar mais informações sobre o assunto, de modo a achar uma área de aplicação da Matemática que mais se adeque ao seu perfil.

Para finalizar, gostaria de destacar que o assunto aqui abordado foi amplamente discutido no XXXII Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional (CNMAC), realizado no período de 08 a 11 de setembro de 2009, na cidade de Cuiabá, MT, evento promovido pela Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) e Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), de onde tirei algumas ideias e dados para escrever este artigo.