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________________________________ Um
dos teoremas mais antigos e mais famosos
da Matemática é o Teorema de Pitágoras que data de aproximadamente 500
a.C. e afirma que
, onde a,b e c são,
respectivamente os comprimentos de dois catetos e da hipotenusa de um triângulo
retângulo. Segundo uma lenda, quando Pitágoras descobriu o teorema,
ficou tão exultante que ordenou que
bois fossem sacrificados aos deuses. Porém a descoberta posterior
da irracionalidade de
(**)[e
sua conseqüência: o comprimento da hipotenusa de um triangulo retângulo
isósceles com catetos de comprimento dado por um inteiro, não pode ser
representado por uma razão de inteiros – perturbou imensamente Pitágoras
e seus seguidores pois eles estavam profundamente convictos de que dois
comprimentos quaisquer fossem sempre múltiplos inteiros de algum
comprimento unitário. Tentativas foram feitas para esconder o
conhecimento da irracionalidade de
e conta-se que o homem que divulgou o segredo foi afogado no mar. Três
números inteiros positivos que satisfazem a equação
são chamados números pitagóricos. DEFINIÇÃO:
O termo (a, b,c) chama-se terno pitagórico se e somente se a, b e c
forem inteiros positivos tais que
. Por
exemplo, (3, 4, 5) é um termo pitagórico pois
enquanto (2, 3, 4) não é um
termo pitagórico pois
A designação de “pitagórico”
talvez não seja muito apropriada pois há evidência de que os babilônios
que viveram há mais de 1000 anos antes de Pitágoras conheciam um maior número
de termos pitagóricos do que seus sucessores gregos(*)[2].
Em todo caso, os pitagóricos sabiam que qualquer terno da forma
Seus alunos poderão, intuir esta fórmula examinando a lista abaixo de
ternos pitagóricos:
A
solução deste problema costuma ser encontrada em livros sobre Teoria dos
Números e consiste em observar, inicialmente, que (a, b, c) é um terno
pitagórico se e somente se para todo inteiro positivo k. (ka, kb, kc) for
um terno pitagórico. (Observe que a2 + b2 = c2
se e somente se, para todo número inteiro positivo k, (ka)2
+ (kb)2 = (kc)2). Portanto é suficiente obter uma fórmula
que gere aqueles ternos pitagóricos (a, b, c) cujos componentes a, b e c
não possuem fator comum k > 1. Tais ternos se dizem primitivos.
(Por exemplo, (3, 4, 5) é um terno pitagórico primitivo, enquanto (6, 8,
10) = (2 . 3, 2 . 4, 2 . 5) é não
primitivo). A fórmula mais comum para gerar ternos pitagóricos
primitivos é dada pelo seguinte teorema: TEOREMA:
(a, b, c) é um terno pitagórico primitivo se e somente se existirem
inteiros positivos u e v, u > v, u e v primos entre si e não ambos ímpares,
tais que (Por
exemplo, u = 3, v = 2, dá o terno pitagórico primitivo (9 – 4, 2 .
3 . 2, 9 + 4 = (5, 12, 13)). A
demonstração deste teorema requer o uso de propriedades da decomposição
de números em fatores primos. O objetivo principal deste artigo é
apresentar uma outra fórmula que gera todos os ternos pitagóricos, não
apenas os primitivos. O leitor verá que esta nova fórmula é de fácil
dedução e sugere um método para resolver alguns problemas de Geometria.
TEOREMA:
(a, b, c) é um terno pitagórico se e somente se existirem inteiros
positivos u e v, u > v, de igual paridade, tais que u . v
seja um quadrado perfeito e
. A
demonstração deste teorema requer apenas noções elementares de Álgebra.
Demonstração.
Suponhamos que (a, b, c) seja um terno pitagórico. Então a2 +
b2 = c2, de modo que a2 = c2
– b2 = (c + b) (c – b). Sejam u = c + b e v = c – b. Então:
1.
u . v é um quadrado perfeito. 2.
u e v são inteiros positivos de mesma paridade pois b e c são
inteiros positivos e c > b. 3.
u > b pois c + b > c – b. 4. De u = c + b e v = c – b, tirando os valores de c e b em função de u e v, temos Reciprocamente,
suponhamos que u e v sejam inteiros positivos de mesma paridade,
1.
a é um inteiro positivo pois u . v é um quadrado
perfeito. 2.
b e c são inteiros positivos pois u – v e u + v são ambos pares
(lembre-se que u e v têm a mesma paridade e u > v).
mesmo que u e v não sejam primos entre si. (Por exemplo, u = 8 e v = 2). Apresentaremos
agora duas aplicações geométricas desta fórmula. Considere o problema
de achar todos os triângulos pitagóricos (triângulos retângulos cujos
lados têm comprimentos dados por números inteiros) com um cateto dado.
Por exemplo: Problema
1. Determine todos os triângulos pitagóricos que têm um cateto a =
12. 1. Inicialmente fatoramos a2, de todos os modos possíveis,
como produto de dois inteiros positivos u e v distintos e de mesma
paridade. Assim, a2 = 144 = 72
x
2 = 36
x
4 = 24
x
6 =18 x
8. 2. Para cada produto, seja u o fator maior e v o menor e calculemos b
e c pelas fórmulas:
Portanto,
existem exatamente 4 triângulos pitagóricos com um cateto de comprimento
12. Os comprimentos dos lados destes triângulos são dados por (12, 35,
37), (12, 16, 20), (12, 9, 15) e (12, 5, 13). Observe que para qualquer inteiro a > 2, a2 pode ser escrito como um produto de dois inteiros positivos distintos, u e v, de mesma paridade. (Se a for ímpar, fazemos u = a2 e Assim,
dado um inteiro qualquer a > 2, existe pelo menos um triângulo pitagórico
com um cateto de comprimento a. E o processo descrito acima dará todos os
triângulos com estas características. Esta
fórmula também é útil na construção, com régua e compasso, de um
segmento de comprimento
onde n é um inteiro positivo
maior do que 2. Por exemplo: Problema
2. Usando régua e
compasso, construa um segmento de comprimento
. 1
- Escreva n = 24 como um produto u e v onde u e v são inteiros positivos
distintos, de mesma paridade. Por exemplo, podemos fazer u = 6 e v = 4.
3
- Usando régua e compasso, desenhe duas retas perpendiculares
e
. Chame de B o ponto de intersecção. (Veja a figura)
4
- Escolha uma unidade de comprimento. Em
marque um segmento BA de
comprimento b, neste caso, de comprimento 1. 5
- Com a ponta do compasso em A e abertura c, neste caso 5, desenhe um arco
e chame de C um dos pontos onde o arco intercepta
. Sendo
ABC um triângulo retângulo, AB = 1 e AC = 5, segue-se que
Bibliografia
BARNETT,
I.A., Elementos of Number Theory. Boston: Prindle, Weber &
Schmidt, 1969. SHANKS, D., Solved and Unsolved Problems in Number Theory. Vol. 1 Washington, D.C.: Spartan Books, 1962.
_____________________ (*)[2N.T. Veja “Episódios da Historia Antiga da Matemática” pg. 38, uma publicação da SBM.
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