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Uma experiência docente interessante para mim tem sido trabalhar com sistemas de numeração posicional não decimais com alunos do segundo segmento do ensino fundamental (5 O sistema de numeração utilizado universalmente é o sistema decimal ou de base 10. O que isso significa? Que 10 unidades de uma ordem representam 1 unidade de ordem imediatamente superior. Com isso, precisamos de apenas 10 símbolos, que chamamos de algarismos, para escrever qualquer numeral. Imagina-se que o surgimento da base decimal se deve ao fato da utilização dos dedos das mãos para efetuar operações aritméticas elementares. Se nós tivéssemos 8 dedos nas mãos, provavelmente nosso sistema de numeração seria, hoje, octal. Usar sistemas de numeração posicional não decimal com os alunos do ensino básico é útil para provocar questionamentos e testar a compreensão sobre procedimentos já automatizados na base 10, uma vez que devem ser reproduzidos em outra base. Vejamos, inicialmente, como escreveríamos alguns numerais no sistema de base 2. No sistema decimal, ao juntarmos 10 unidades simples, temos uma dezena, ao juntarmos 10 dezenas, temos uma centena e assim por diante. No sistema de base 2, a cada duas unidades de 1
Os números sem indicação de base estão na base 10. Essa forma de explicar a construção de numerais (212 é o numeral que representa, na base 3, o número que é representado por 23 na base 10) em bases diferentes de 10 pode ser interessante para a compreensão da lógica dos sistemas de numeração. Após isso, o professor pode apresentar o algoritmo conhecido e tradicional de conversão de bases:
Também é interessante praticar com os alunos as operações fundamentais em bases não decimais. Fiz essa experiência em várias turmas, sempre com bons resultados. Vejamos alguns exemplos. 1. (45353)6 + (23524)6
Continuando de modo análogo, obtemos a soma (113321)6.
3. Multiplicar pela base acrescenta zero no final. Verifique: (1311)4 x 4 = (13110)4 4. Como ficariam, em uma base não decimal, os numerais com parte fracionária? Considere (211,12)3. (211,12)3 = (211)3 + (0,12)3 (211)3 2 x 32 + 1 x 31 + 1 x 30 = 22. Vejamos o que significa (0,12)3. Observe que (0,1)3 representa tomar uma parte de 3, assim equivale a 1/3. Já (0,02)3 representa tomar duas partes de 9, assim equivale a 2/32. É a mesma estrutura do sistema decimal. Então, Dependendo da série da turma, continuamos trabalhando com a multiplicação e divisão e com alguns problemas de solução mais algébrica. A resposta dos alunos, independentemente de menor ou maior habilidade em Matemática, tem sido ótima, proporcionando aulas bem motivadoras e participativas. Bibliografia ALENCAR FILHO, Edgar de. Aritmética dos inteiros. São Paulo: Nobel, 1987. TREMBLAY, Jean-Paul. Ciência dos computadores: uma abordagem algorítmica. São Paulo: McGraw-Hill, 1983.
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Esse jogo já foi apresentado na RPM9, p.39, no artigo Vale para 1, para 2, para 3,... . Vale sempre?, no qual está demonstrado por indução que o menor número possível de movimentos necessários para transferir todos os discos é igual a 2n −1, sendo n o número de discos. Eu estava lecionando nas 8 A surpresa foi grande quando entrei para realizar o jogo na primeira turma de 8 Comecei solicitando que os alunos tentassem transpor dois discos seguindo a regra. Houve dificuldade em entender o que fora pedido. Foram necessárias explicações individuais. Nesse momento, um aluno perguntou se podia sentar ao lado de um colega que fizera o material. Percebi que outros sem material tentavam ajudar aqueles que tinham o jogo, mas não tinham entendido o que deveriam fazer. Anotei o menor número de movimentos que um aluno conseguiu em uma tabela na lousa. Antes de passar para 3 discos, um aluno perguntou “Professor, posso fazer agora o jogo?”. Fiquei surpreso e perguntei para a turma como poderíamos confeccionar rapidamente a torre de Hanói para poder jogar. “Ora, rasga uma folha de caderno!”, disse um aluno. “Como?”, perguntei. “Faz cinco quadrinhos de papel!”, disse outro. Paramos a atividade e todos os que não tinham feito o jogo fizeram-no com uma folha de caderno da mesma forma como era para ser feito em cartolina. O melhor desempenho para 3 discos foi anotado na tabela da lousa. Um aluno disse que teria conseguido com 5 movimentos. Houve tumulto, pois alguns alunos disseram que só era possível com pelo menos 7. Fizemos a verificação de que eram mesmo 7 movimentos, no mínimo, para 3 discos – o aluno que disse ter conseguido com 5 se convenceu que errou em alguma passagem ou na contagem de movimentos. Para 4 discos a dificuldade foi grande. Procurei ajudar nos pequenos grupos que foram se formando pela sala. Muitos se perdiam na contagem de movimentos. Pedi que anotassem os movimentos com tracinhos. Somente foi possível concluir que seriam necessários 15 movimentos com a minha interferência.
O problema é que com essa idéia de que a solução é “o dobro do anterior mais um” não poderíamos saber o número mínimo de movimentos para, por exemplo, 64 discos, como na lenda, exceto se o soubéssemos para 63 discos, o qual necessitaria da solução para 62 discos e, assim, sucessivamente. Fiz então mais uma coluna na tabela e escrevi potências de base 2, em que o expoente era o número de discos. Rapidamente os alunos perceberam que deveríamos subtrair uma unidade das potências escritas para obter o número de movimentos. Solicitei que verificassem se a “fórmula encontrada para n discos” funcionava para os casos já estudados, com n = 1, 2, 3 ou 4 (primeiro passo numa demonstração por indução). Esse foi um exemplo que mostra que devemos apostar na eficácia da resolução de problemas e dos jogos no ensino da Matemática, mesmo enfrentando alguns desafios, como a resistência inicial dos alunos ou falta de material. Observo ainda que há um longo caminho a ser percorrido das primeiras constatações matemáticas dos alunos no ensino fundamental até uma formalização rigorosa; portanto, devemos, sempre que possível, apresentar nas aulas situações que levem a generalizações ou induções.
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