Alciléa Augusto
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RPM – Cartas do leitor
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♦ A colega Tereza Gomez, por e-mail, envia-nos duas belas provas de um problema proposto na RPM e termina com uma frase, que pode gerar controvérsias. Conta a colega:

Outro dia, conversando com uma pessoa amiga sobre as vantagens e desvantagens de demonstrações usando “geometria clássica” ou “geometria analítica”, ela me mostrou duas demonstrações, via geometria clássica, do problema 255 cuja solução, por geometria analítica, foi publicada na RPM 62.

-Achei as demonstrações muito simples e pensei que talvez outros leitores da RPM gostariam de conhecê-las. O enunciado do problema 255 é o seguinte: Na figura, ABCD é um quadrado, AOB é uma semicircunferência e X é um ponto do quadrado tal que XQ = XP, sendo XQ a distância de X ao lado BC e P a intersecção de XA com a semicircunferência. Qual é o lugar geométrico desses pontos X?

1 solução

-Inicialmente, suponhamos AX > AP (o ponto X está fora do semicírculo).

No ∆AXN, AN = AX cos α eno ∆APB, AP = ABcos α

XQ = NB = AB AN = AB AX cos α .

XP = AX AP = AX−AB cos α

Pelo enunciado, XQ = XP.

Então, AB(1 + cos α) = AX(1 + cos α) ⇒ ΑΧ = ΑΒ.

Ou seja, os pontos X descrevem um arco de circunferência de raio AB e centro A.

Um argumento semelhante mostra que, sendo AX < AP, temos α = 0, e, então, X estará no segmento AB.

2a solução

Suponhamos, novamente, AX > AP.

-PEX ≡∆NEB (- = - = 90°; PX = NB por hipótese e os ângulos em E são opostos pelo vértice). Logo, PE = NE

.∆AEN ≡∆AEP (-=-= 90; PE = NE (acima) e AE é lado comum). Logo, AP = AN.

Mas AX = AP + PX = AN + NB = AB e, novamente, os pontos X descrevem um arco de circunferência de raio AB.

Se AX < AP, argumentos de natureza geométrica mostrarão que X estará no segmento AB.

A pessoa que fez essas demonstrações gosta de citar uma frase de Jacob Steiner (1796-1863): “Os cálculos substituem o pensamento, enquanto a Geometria o estimula”. Será verdade?

Escreve-nos o colega Paulo Argolo, por e-mail:

Embora os conceitos de proporcionalidade direta e inversa já tenham sido abordados várias vezes na RPM, penso que cabe mais alguma coisinha. Em suas definições de grandezas proporcionais, o Prof. Geraldo Ávila explicita que a constante de proporcionalidade deve ser positiva. Por outro lado, o Prof. Elon Lages Lima não faz tal restrição à constante. Bem, admitir valor negativo para tal constante conduz ao seguinte: grandezas diretamente proporcionais crescem em sentidos contrários, enquanto grandezas inversamente proporcionais crescem no mesmo sentido, o que contraria a noção habitual. Vejamos os exemplos: em y = −2x, quando x aumenta, y diminui. Em y = −2/x, quando x aumenta, y também aumenta.

RPM

Os exemplos dados pelo colega estão certos e vale a pena chamar a atenção para o fato. Lembramos, entretanto, que considerar a constante positiva ou um real qualquer depende do contexto. Quando as variáveis são medidas positivas, tomam-se as constantes positivas, mas quando se consideram números reais quaisquer para as variáveis, não há necessidade de se restringir a constante. É o que acontece quando se estudam as funções lineares, por exemplo. Os próprios autores citados consideram ora uma constante qualquer, ora só constantes positivas, como nos trechos a seguir.

Na RPM 8, Geraldo Ávila dá as seguintes definições: Definição1. Diz-se que duas variáveis (ou grandezas) x e y são proporcionais - mais especificamente, diretamente proporcionais - se estiverem assim relacionadas: y = kx ou y/x = k, onde k é uma constante positiva, chamada constante de proporcionalidade.

Definição 3. Se várias variáveis, digamos, x, y, z, w, r, s estão relacionadas por uma equação do tipo - k constante, então dizemos que z é diretamente proporcional a x, a y e a w; e inversamente proporcional a r e a s.

Elon Lages Lima, na RPM 12, considera c como um número real qualquer para logo depois se restringir aos números positivos:

... diz respeito a uma grandeza proporcional a várias outras. Recordemos essa noção. Para que ela faça sentido é necessário, em primeiro lugar, que se tenha uma grandeza z que seja função de outras, digamos x e y. Isso significa que, cada vez que se atribuem valores específicos a x e y, fica determinado o valor de z. Nessas condições, diz-se que z é diretamente proporcional a x quando, mantendo-se y constante, o valor de z fica multiplicado por c quando se multiplica x por um número real c. Essa noção fica muito mais clara quando se utiliza a notação funcional z = f(x, y) para indicar a relação de dependência entre x, y e z. Nesse caso, a afirmação de que z é diretamente proporcional a x exprime-se pela igualdade f (c x, y) = c f (x, y), válida para quaisquer c, x, y.

Como se sabe (ver o livro Meu Professor de Matemática, p. 160), para que z = f(x, y) seja diretamente proporcional a x basta que se tenha f (n x, y) = n f (x, y) para n inteiro, desde que z seja uma função crescente de x, isto é, x < x' f(x,y) < f (x,' y) .Como no livro citado, não consideraremos aqui grandezas representadas por números negativos.

Como em outras situações, em que falta uniformidade, o importante é manter, localmente, a coerência e a conveniência.

 

   Respostas dos ...probleminhas

 

1. 6.
2.
31/12
3.-