Divaldo Portilho F. Junior
Goiana - GO
ohlitropjr@gmail.com

   Introdução

Este artigo trata de uma interessante relação entre um problema de Física e um assunto abordado com pouca freqüência em textos para ensino médio, a teoria das frações contínuas. A solução do problema envolve, de forma intuitiva, o uso de aproximações sucessivas por métodos recursivos.

O problema é o seguinte:

Determine a resistência equivalente (sobre este conceito da Física, ver Apêndice) no circuito ilustrado na figura abaixo, no qual temos uma associação de infinitos resistores de resistência igual a R.

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Para uma primeira abordagem do problema, vamos calcular a resistência equivalente para os primeiros cinco passos do processo, no intuito de nos orientarmos rumo a uma generalização.

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A experiência com este problema em sala de aula conduziu à observação de que aparentemente os valores convergem, ou seja, as variações entre as resistências equivalentes em passos sucessivos vão rapidamente diminuindo e se tornando menores do que qualquer valor positivo, na medida em que se acrescentam novos conjuntos de resistências ao processo. Seguindo o caminho esboçado pelos cálculos iniciais, conseguimos generalizar o caso acima por meio de uma recursão que entusiasmou tanto os alunos quanto os professores de Física.

A respeito da teoria sobre frações contínuas, o leitor pode encontrar valiosas informações nas referências [2] e [3]. Aqui, usaremos apenas alguns fatos simples dessa teoria, para chegar à solução do problema proposto.

Acompanhe os passos, em que o circuito vai sendo montado gradativamente, onde Rn denota a resistência equivalente do circuito apresentado no n-ésimo passo:

1 Passo-

2 Passo-

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3 Passo-

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4 Passo -

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Quando o problema fala da “associação de infinitos resistores”, nosso interesse se volta para o “limite” desse processo. Vamos chamar de x o valor da resistência equivalente para n tendendo ao infinito, ou seja, - que podemos representar por:

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Os “pontinhos” indicam que se trata de um processo infinito. A experiência que fizemos com os cinco primeiros casos sugere que esse limite exista e seja algo próximo de 2,732. Vamos ver por quê. Admitindo a existência desse limite (que pode ser demonstrada), podemos escrever:

 

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Como o processo é infinito, o x que aparece no retângulo da figura é o mesmo x inicial. Isso nos dá a equação:

-Essa equação pode ser escrita como:

x2 − 2Rx − 2R2 = 0, que tem como solução positiva:

x = R( 1 + -), que é a resistência equivalente do circuito apresentado.

Naturalmente, como - ≈1 732, então x ≈ 2 732, R.

 

   Apêndice

Resistência Equivalente em Associação de Resistores
(ver [1] e [4]).

Resistências ligadas em série

Quando duas resistências, R1 e R2, são ligadas em série, como mostrado na figura abaixo, a resistência equivalente desse circuito é dada por Req = R1 + R2.

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De fato: a resistência equivalente é definida como a resistência R que, se substituída a R1 e R2, produz a mesma corrente entre os pontos A e B, que estão sob a diferença de potencial VAB. Tomando um ponto C entre R1 e R2, tem-se:

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. Resistências ligadas em paralelo

Ao ligar duas resistências, R1 e R2, como na figura abaixo, a resistência equivalente desse circuito é dada por -

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De fato, a corrente i que sai de A e chega em B se divide em duas parcelas: i1, que atravessa a resistência R1, e i2, que atravessa a resistência R2. Temos, então:

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Referências bibliográficas

[1] CARLOS, KAZUHITO e FUKE. Os alicerces da Física, vol. 3. Editora Saraiva: 1993.
[2] CARNEIRO, José Paulo Q. Um processo finito para a raiz quadrada. Revista do Professor de Matemática 34, p. 36-44, 1997.
[3] MOREIRA, Carlo Gustavo. Frações contínuas, representação de números e aproximações. Eureka!, n 3, p. 44-55, 1998.
[4] TIPLER, Paul A. Física, vol. 3. Editora LTC, 1995.