Rogério César dos Santos
Sandra A. de Oliveira Baccarin

Você deve ter observado que várias marcas de sabão em pó tiveram uma mudança na embalagem de 1kg: passaram de um paralelepípedo "mais estreito e alto" para um "mais largo e baixo".

As embalagens têm medidas aproximadamente iguais a:

embalagem antiga: 4,8 cm x 16,8 cm para a base e 24 cm para a altura

embalagem nova: 19 cm x 7 cm para a base e 14,5 cm para a altura

Isso despertou minha curiosidade: teria sido o motivo puramente estético ou houve intenção das empresas de procurar menor custo para as embalagens dos produtos, uma vez que o custo incide diretamente sobre o lucro final?

Primeiro, fiz o cálculo do volume dos paralelepípedos das duas embalagens para verificar se ficara mantido:

4,8 x 16,8 x 24 cm3 = 1935,36 cm3

19 x 7 x 14,5 cm3 = 1928,5 cm3

Logo, a menos de aproximações nas medidas, podemos supor o volume mantido e suficiente para embalar 1kg do produto.

Agora, os cálculos das áreas superficiais dos paralelepípedos, em cm2:

 
Embalagem antiga
Embalagem nova
24 x 16,8 x 2 = 806,40
16,8 x 4,8 x 2 = 161,28
4,8 x 24 x 2 = 230,40
Total = 1198,08 cm2
19 x 14,5 x 2 = 551
19 x 7 x 2 = 266
7 x 14,5 x 2 = 203
Total = 1020 cm2

Bingo! A caixa atual utiliza menos material para ser confeccionada que a caixa antiga.

Considerando que a população do Brasil seja aproximadamente 180 milhões de habitantes e supondo que um terço dessa população use uma caixa de sabão por mês, isso resultaria numa economia de:

60 000 000 Total = 1198,08 cm2 (1 198,08 1 020) cm2 = 10 684 800 000 cm2 =
1 068 480 m2 de papelão por mês.

Você já parou para pensar nisso?

Será que haveria uma possibilidade de conseguir uma área ainda menor que a caixa atual, mantendo o mesmo volume? Esse é um problema que pode ser resolvido usando cálculo diferencial para determinar o ponto de mínimo da função que fornece a área superficial da embalagem com volume fixado. O que acontece é que a embalagem que forneceria o valor mínimo (um cubo) não é apropriada para ser manuseada; logo, as empresas têm que fazer uma adaptação entre o mínimo matemático e o prático.

Para uma atividade em sala de aula, podemos, por tentativa, buscar a área superficial mínima, fixando em 7 cm a medida lateral da base da caixa, que julgamos adequada ao manuseio.

Considerando o volume da caixa igual a 1 928,5 cm3, denotando por c a outra dimensão da base e por h a altura da caixa, temos:

A área superficial do paralelepípedo será dada por , e substituindo o valor de h na expressão obtemos:

Com essas expressões, podemos pedir aos alunos que utilizem o programa Excel para construir a tabela abaixo.

c
Área
h
5
1392,4
55,1
6
1277,833
45,91667
7
1200
39,35714
8
1145,125
34,4375
9
1105,556
30,61111
10
1076,7
27,55
11
1055,636
25,04545
12
1040,417
22,95833
13
1029,692
21,19231
14
1022,5
19,67857
15
1018,133
18,36667
16
1016,063
17,21875
16,5
10015,758
16,69697
17
1015,882
16,20588
18
1017,278
15,30556
19
1020
14,5
20
1023,85
13,775

Pelos cálculos, podemos perceber que a área mínima será obtida para valores de c e h por volta de 16,5 cm. Para manter o volume próximo de 1928,5, escolhemos c = h = 16,6, obtendo V = 1 928,92 e A = 1 015,92.

Com essas medidas, em relação à caixa atual, haveria uma economia mensal de papel igual a

60 000 000(1 020 1 015,92) = 24 480 m2.