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Adalberto
A. Dornelles Filho
Neste artigo vamos mostrar que o estudo de sistemas lineares indeterminados pode ser útil para abordar um problema nutricional. O leitor já deve ter reparado que as embalagens de alimentos trazem informações sobre o valor energético, quantidades de carboidratos, gorduras, sódio, proteínas, etc. contidas nos produtos e quanto cada uma dessas quantidades representa percentualmente nos Valores Diários de Referência - VDR para uma alimentação adequada. Após vasculhar a geladeira e os armários da cozinha, montamos a tabela a seguir, que mostra os valores nutricionais de alguns alimentos encontrados: arroz e feijão in natura, peito de frango empanado congelado, suco de laranja pasteurizado e adoçado, pão tipo francês e margarina sem sal.
Principais nutrientes de alguns alimentos
Para montar uma dieta é necessário determinar as quantidades x1, ..., x6 (em porções) de cada alimento, necessárias para compor o VDR. Isso corresponde a resolver o sistema linear.
Observe que o sistema (1) possui quatro equações, correspondentes ao número de nutrientes, e seis incógnitas, correspondentes ao número de alimentos. A melhor maneira de resolver o sistema é por escalonamento, utilizando operações elementares-linha, conforme descrito em [1] ou [2], transformando o sistema (1) na forma escalonada reduzida.
O sistema (2) é possível e indeterminado, isto é, possui infinitas soluções. Os valores para x1, ..., x4 dependem de valores escolhidos para x5 e x6, ditas variáveis livres. Assim, podemos expressar x1, ..., x4 em termos de x5 e x6. Temos então:
Observe-se, no entanto, que nem toda solução matemática é utilizável na situação prática, já que numa dieta é necessário escolher x5 > 0 e x6 > 0 de modo que também tenhamos x1 > 0, ..., x4 > 0. Assim, a partir de (3) obtemos as condições:
Cada uma das inequações de (4) corresponde a um semiplano no sistema de eixos x5 x6. Os valores de x5 e x6 que satisfazem simultaneamente todas as inequações pertencem à região de interseção dos semiplanos. Essa região está hachurada na figura a seguir.
De acordo com a figura, uma possível dieta pode ser obtida escolhendo x5 = 5 e x6 = 6. Substituindo esses valores em (3), obtemos: x1 = 0,81; x2 = 1,71; x3 = 2,91 e x4 = 2,64, o que corresponde, aproximadamente, a 40 g de arroz, 50 g de feijão, 230 g de frango, 520 ml de suco, 250 g de pão e 84 g de margarina. Bom apetite! Observações O colega professor pode propor outros problemas mais interessantes (e mais complicados) se mais nutrientes e alimentos forem considerados. Além da dieta "normal", outras podem ser trabalhadas, como dietas de redução ou aumento de calorias, de restrição de sódio, restrição de gorduras, etc. O envolvimento dos alunos na solução de problemas do tipo considerado pode oferecer uma oportunidade para a reflexão de temas como agricultura e produção de alimentos, fome e desigualdade social e econômica, etc. Por fim, não custa lembrar que, evidentemente, a dieta aqui proposta tem caráter didático; apenas médicos ou nutricionistas podem prescrever dietas alimentares.
Referências bibliográficas [1] LAY, David C. Álgebra linear
e suas aplicações. 2a edição.
LTC, 1999.
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