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Todos nós, professores, sabemos o quanto é difícil despertar o interesse dos alunos pelas aulas de Matemática. No geral, em uma turma, poucos são os alunos que gostam de pensar em Matemática e com esses é fácil trabalhar. Com o advento dos recursos de informática, abrem-se possibilidades que podem nos ajudar na tarefa didática e no propósito de ter um maior número de alunos interessados no assunto. Especialmente para o aprendizado da Geometria têm-se os programas que oferecem "figuras em movimento" na tela do computador — são os programas de Geometria Dinâmica (ver RPM 49, p. 22). As figuras são construídas com régua e compasso virtuais e também via opções de menu em linguagem da geometria - retas paralelas, retas perpendiculares, mediatriz, bissetriz, etc. Nessa interface têm-se objetos geométricos que podem ser manipulados, que se modificam, mas que guardam as propriedades geométricas impostas à construção e, conseqüentemente, as propriedades que dessas decorrem. Com o movimento das figuras, os alunos podem fazer muitas experiências, evidenciar novas propriedades geométricas, fazer conjeturas e, com a ajuda do professor, buscar explicações para o que está sendo empiricamente constatado. Estamos aqui falando em aprender a demonstrar — aspecto da formação matemática dos alunos que na escola, cada vez mais, vem sendo desconsiderado. No que segue, para ilustrar como programas de geometria dinâmica podem contribuir para o ensino e aprendizado (mais interessante), apresentamos duas possíveis situações de sala de aula, ambas tendo como intenção a aprendizagem do clássico teorema de Pitágoras. A primeira situação, como veremos, não vai além de uma simples constatação do teorema e indica uma utilização de programas de geometria dinâmica aquém do seu potencial. Já a segunda situação direciona-se para o entendimento da demonstração do teorema, e mais, insere-o como um caso particular de uma propriedade mais geral, a saber, a lei dos cossenos. Veremos como as "figuras em movimento" ajudam a evidenciar e a explicar relações entre as áreas dos quadrados construídos a partir dos lados de um triângulo qualquer. (As figuras apresentadas no artigo podem ser vistas "em movimento" no site Educação Matemática e Tecnologia Informática em http://www.mat.ufrgs.br/edumatec , no link "Atividades".)
Nessa situação, os alunos iniciam a aula recebendo instruções em folha escrita que serve de roteiro para a realização da atividade: "construa um triângulo retângulo ABC, com ângulo reto em A; usando o recurso de medida e de calculadora do programa, meça os comprimentos dos lados a (hipotenusa), b e c (catetos) e calcule a2 e b2 + c2; compare os resultados obtidos; movimente os vértices do triângulo e observe o que acontece com os cálculos feitos ..."
Atendidas as solicitações do professor, ao ser aplicado movimento nos vértices do triângulo ABC, na tela do computador descortinam-se diferentes triângulos retângulos e atualizam-se as medidas dos lados do triângulo e dos cálculos feitos. Mas tem-se em evidência, sempre, a igualdade a2 = b2 + c2. Com esses cálculos, muitos na aula informatizada se comparados com os poucos que são feitos na aula "giz-e-quadro-negro" (aqui, no geral, o exemplo a = 5, b = 4, c = 3), maiores são as evidências que ajudam o professor a convencer seus alunos quanto à veracidade da igualdade. E nisso a autoridade do professor tem um grande peso, tanto é que os alunos, normalmente, aceitam o resultado sem maiores questionamentos: ninguém coloca perguntas tais como "mas, professor, se não testei todos os triângulos retângulos possíveis, como sei que isso sempre é verdade?", "como é que eu tenho certeza que os cálculos do computador são verdadeiros?", "isso só é verdade para triângulos retângulos?"... Ao final da atividade, os alunos passam a "conhecer" o teorema de Pitágoras, mas sem ter a oportunidade de apreciar de que forma a particularidade do triângulo, ser retângulo, é uma condição necessária e suficiente para que se verifique a igualdade obtida. Ou seja, os alunos se mantêm à margem do processo de demonstrar, de explicar a razão de tal propriedade via raciocínios dedutivos. Como isso poderia ser trabalhado pelo professor é o que vamos ilustrar na situação proposta a seguir.
A aula, nesta segunda situação, também inicia com os alunos recebendo instruções do professor que lhes dão espaço para pensar e para estabelecer as primeiras relações entre as áreas dos quadrados construídos a partir dos lados de um triângulo qualquer: "construa um triângulo qualquer ABC; sobre os lados do triângulo construa os quadrados Q1 , Q2 e Q3; movimente o vértice A e compare a área de Q1 com a soma das áreas de Q2 e Q3(1)"
Dada a continuidade de variação das desigualdades, coloca-se naturalmente a pergunta: que propriedade deve ter o triângulo para que se tenha a igualdade entre as áreas? Nesse momento, os recursos de medida e de calculadora que o programa oferece, podem ajudar: conforme a medida do ângulo A se aproxima de noventa graus, mais e mais as desigualdades entre as áreas tendem a uma igualdade, ou seja, o valor de a2 se aproxima de b2+c2. Acrescentando novos elementos geométricos à figura, junto com o uso de "figuras em movimento", o professor pode provocar os alunos para que avancem nos raciocínios que levam à demonstração da lei dos cossenos e que obtenham o teorema de Pitágoras como um caso particular dessa propriedade mais geral. Nesse momento é conveniente desdobrar a exploração em dois casos e, em ambos, os primeiros elementos geométricos a serem acrescentados, elementos chave que levam à dedução da lei dos cossenos, são as retas suporte das alturas do triângulo, relativas aos seus três lados. Caso l: medida do ângulo A entre 0° e 90 °
O movimento inicia com o "deslize" de um dos lados do retângulo BDEF, paralelamente ao lado BD, até que um dos vértices coincida com o vértice C do triângulo. Nesse movimento obtém-se uma coleção de paralelogramos de área constante e igual à área do retângulo BDEF, já que todos eles têm como base o segmento BD e como altura um segmento de medida igual à distância entre duas retas paralelas fixas. O movimento seguinte é uma rotação do paralelogramo obtido ao final do movimento de deslizamento, em torno do vértice B e com ângulo de medida igual a 90°, e assim é obtido um novo paralelogramo sem que haja alteração no valor da área. Finalmente é "deslizado" um dos lados desse paralelogramo, paralelamente ao lado BL, até que um dos vértices coincida com K. Como antes, obtemos uma coleção de paralelogramos de área constante. Isso permite concluir a igualdade (1) entre as áreas dos retângulos BDEF e BJKL. De modo inteiramente análogo obtém-se a igualdade (2).
O
próximo passo é determinar a diferença entre a área de Q1
e a soma das
áreas de Q2 e Q3 Ou seja, quer-se escrever uma relação de igualdade
do tipo: a2 = b2 + c2
Como antes, nesse movimento temos uma coleção de paralelogramos, todos eles com a mesma área. A área do paralelogramo obtido ao final do movimento de "deslize' pode ser dada por:
De modo análogo obtém-se para área do
retângulo, parte do excedente na desigualdade (1) relativa ao quadrado
Q3, o mesmo valor bccos
Caso 2: medida do ângulo A entre 90° e 180° Relembramos que neste caso vale a relação:
A demonstração para este caso é análoga à demonstração feita para os triângulos acutângulos. Omitiremos os detalhes e vamos apenas exibir uma sequência de figuras que sugere como fazer a argumentação. Na primeira sequência a seguir (restrita ao quadrado Q2), indicamos como se explica a igualdade entre a área do quadrado Q1 e a soma das áreas dos retângulos construídos acima, cada um deles contendo um dos quadrados:
Na situação
ern que ,
___________
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