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O livro do Prof. Clóvis Pereira da Silva preenche uma lacuna que existia na bibliografia nacional sobre a história do desenvolvimento da Matemática no Brasil. Com seu foco na evolução da Matemática brasileira como ciência, o livro traça a história de seu ensino nas instituições de nível superior e descreve o início da trajetória de implantação de uma tradição de pesquisa nessa área. Os três primeiros capítulos tratam da origem das Universidades em Portugal, do papel dos jesuítas e da vinda de D. João ao Brasil e consequente criação de cursos superiores em nosso país. Em seguida, o autor analisa as tentativas de criar Universidades no Brasil, as dificuldades encontradas, o ambiente intelectual existente e descreve as primeiras iniciativas bem-sucedidas. No capítulo 7 são descritas as primeiras teses de doutorado em Matemática defendidas no Brasil, sendo a primeira em 1848, na Escola Militar do Rio de Janeiro, por Joaquim Gomes de Souza, o "Souzinha". Outra tese que merece destaque é a de Theodoro Augusto Ramos, defendida na Escola Politécnica do Rio, em 1918. Uma das características positivas do livro é a busca de fontes primárias e de documentos da época dos acontecimentos retratados. Há muitas transcrições de partes de documentos originais, trechos das teses defendidas, bem como trechos de obras de outros historiadores, muitas datadas de décadas atrás. A transcrição desses trechos dá um sabor curioso e agradável à leitura do livro. A análise das teses defendidas no século XIX transmite ao leitor uma boa visão de como o estudo da Matemática estava defasado em relação ao que ocorria nos países mais desenvolvidos. Permite também que avaliemos o quanto a Ciência se desenvolveu no Brasil nas últimas décadas, já que hoje temos uma posição internacional muito competitiva. No capítulo final, o autor traça um perfil do período que vai de 1930 até a década de 80, destacando o papel das nossas atuais instituições de ensino e pesquisa. Infelizmente, o texto não está bem escrito e necessita de uma revisão profunda de português e estilo. Há vários problemas: um excesso de datas, muitas delas repetidas exageradamente, há repetições de frases, há informações e frases fora de contexto, opiniões do autor aparecem misturadas com informações históricas (um exemplo: num parágrafo, o Marquês de Pombal é chamado, de passagem e sem justificativa, de "déspota", o que, além de desnecessário no contexto, é discutível). Isso tudo sem contar os inevitáveis e já esperados pequenos erros de digitação que todo livro possui. Creio que, pelas qualidades que o livro apresenta, o autor e a editora deveriam se empenhar no aprimoramento do texto.
"Matemática" e "pensamento lógico" andam de mãos dadas. Até se aprende um pouco de "Lógica" nos cursos de Matemática, como, por exemplo, a "álgebra das proposições" (v. RPM 17, p. 10 ou RPM 37, p. 01). O que o livro acima faz, com muito bom-humor, é levar o leitor a usar o pensamento lógico em situações não matemáticas e bem divertidas. Ele contém mais de 250 problemas, numa linguagem simples, além de pequenas histórias sobre a vida de matemáticos. O cerne de quase todos os problemas consiste em descobrir se os seus personagens estão mentindo ou falando a verdade. Os cenários dos problemas vão desde uma floresta onde animais falam, passando por delegacias de polícia, tribunais de júri, até a discussão sobre se o conde Drácula ainda está vivo. Apenas para dar aos leitores uma ideia sobre as questões do livro, aí vão uns exemplos; O leão e o unicórnio visitavam frequentemente a floresta do esquecimento. O leão mentia às segundas, terças e quartas feiras e falava a verdade nos outros dias da semana. O unicórnio mentia às quintas, sextas e sábados e falava a verdade nos outros dias da semana. Um dia Alice encontrou o leão e o unicórnio descansando embaixo de uma árvore. Eles fizeram as seguintes afirmações: Leão: Ontem foi um dos meus dias de mentir. Unicórnio: Ontem também foi um dos meus dias de mentir. Com essas informações, Alice descobriu qual era o dia da semana. Que dia era esse? Em que dias da semana é possível que o Leão faça as seguintes afirmações: 1 — Eu menti ontem. 2 - Eu mentirei novamente amanhã. Em que dias da semana o Leão poderá fazer a seguinte afirmação: — Eu menti ontem e mentirei novamente amanhã. Você é capaz de dizer por que as respostas às duas questões não são iguais? Muitos estudantes (e seus familiares) gostam de questões desse tipo, pois elas desafiam o raciocínio sem exigir conhecimentos de Matemática. Mas há uma precaução a ser tomada: o livro não deve ser lido de uma só vez, sob pena de se tornar cansativo. Afinal, durante quanto tempo vamos querer pensar em problemas como os exemplificados acima? Uma boa notícia é a seguinte: se o leitor se cansar durante a leitura mas quiser saber a solução do problema que estava lendo, eis mais uma vantagem do livro - ele traz as soluções de todos os problemas com as respectivas explicações. Em suma, se você é um professor de Matemática, existem, pelo menos, três boas razões para você conhecer esse livro: As questões são formuladas numa linguagem interessante e muitas delas são estimulantes e desafiadoras. Você adquirirá maior traquejo no uso das "regras" da lógica, pois o livro, ao apresentar as resoluções de todas as questões, permitirá que você desenvolva ainda mais a sua habilidade de pensar. Se durante uma aula o interesse dos estudantes estiver caindo, proponha uma questão do livro. E bem possível que o interesse pela aula volte a crescer (e quem não quer que isso aconteça?). O livro não foi traduzido para o português, mas a edição em espanhol poderá ser encontrada em algumas livrarias da capital (na livraria Cultura, por exemplo).
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