A Crise no Ensino da Matemática no Brasil |
Suely Druck
Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática
presidente@sbm.org.br
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A preocupação com a crise
pela qual passa o ensino da Matemática nas escolas levou a SBM a fazer uma
análise minuciosa da situação visando elaborar um diagnóstico e propor
soluções. Para esse trabalho, além de discussões no seio da comunidade
matemática, a SBM estabeleceu contato direto com grupos de professores do
ensino básico de várias regiões do país para conhecer de perto os problemas
a serem enfrentados. Em paralelo a SBM promoveu no Rio de Janeiro, com apoio
da FAPERJ, um curso de capacitação para professores dos níveis médio e
fundamental. Desse curso brotaram depoimentos e experiências que
enriqueceram a nossa visão da crise que aflige o ensino da Matemática no
país. Outra fonte de informações importantes sobre a questão é o projeto
Numeratizar, recém-iniciado no Ceará com o apoio do MEC, da UFC, das
Secretarias estaduais de Educação e Ciência & Tecnologia, da FACEP e da SBM.
A análise foi completada com o mapeamento de diversas iniciativas nacionais
para a melhoria do ensino obtidas através da 1a Bienal da SBM, evento
dedicado ao ensino da Matemática realizado no ano passado, na UFMG.
No Provão, a Matemática
tem sido a última colocada em todos os anos entre as áreas avaliadas. |
A questão principal a ser enfrentada é a baixíssima qualidade do ensino
básico, principalmente nas escolas públicas, onde estuda a maioria dos
brasileiros. Claro está que uma situação desse porte não nasce de repente; é
construída ao longo de décadas de ensino deficiente, quadro que tristemente
se agrava a cada geração. A progressiva decadência da qualidade do ensino da
Matemática atinge hoje a própria Licenciatura em Matemática, completando
assim um círculo vicioso. Dados objetivos evidenciam o problema: no Provão,
a Matemática tem sido a última colocada, em todos os anos entre as áreas
avaliadas. As médias (sobre DEZ) dos licenciandos na parte discursiva do
Provão foram: 0,43 (1998), 0,94 (1999), 0,65 (2000) e 1,12 (2001). Como a
maior parte dessa prova consta de tópicos do ensino médio, conclui-se que a
maioria dos professores de Matemática vem sendo formada sem conhecer o
conteúdo do que deve lecionar. O SAEB/2001- Matemática revela que apenas
5,99% dos alunos do ensino médio alcançaram o nível desejado e, na 4a série
do ensino fundamental, apenas 6,78%. Indica ainda uma piora (em relação ao
SAEB/1999) do nível matemático de nossas crianças em 11 Estados, enquanto
nos demais Estados parece não revelar alteração. Completa esse quadro o
baixíssimo nível de cultura matemática cotidiana do brasileiro, que na sua
maioria desconhece as quatro operações e unidades de medida. Um parecer do
Instituto Paulo Montenegro (IBOPE) em 17-12-2002 sobre o índice de
conhecimento matemático da população no país, entre 15 e 64 anos, mostra a
que ponto chegou a calamidade nacional na questão do ensino da Matemática:
“A indicação de que apenas 21% da população consegue compreender informações
a partir de gráficos e tabelas, freqüentemente estampadas nos veículos de
comunicação, sugere que boa parte dos brasileiros encontra-se privada de uma
participação efetiva na vida social, por não acessar dados e relações que
podem ser importantes para auxiliá-la na avaliação de situações e na tomada
de decisões.”
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