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Euler era
um gênio
lingüístico, falando
fluentemente,
entre outros idiomas, alemão, A coleção completa das obras de
Euler, reunidas em uma publicação moderna denominada Opera
Omnia, é composta por 73 volumes contendo mais de 800 estudos,
tratados, livros e cartas onde se aborda virtualmente toda a Matemática
conhecida no século XVIII. E é em meio àquela inesgotável fonte de
ensinamentos do “mestre de todos nós”, como o definia Laplace, que
pode ser encontrada uma pequena pérola da Análise Combinatória, a solução
engenhosa e surpreendente de uma questão aparentemente simples:
É evidente que, se não for
imposta nenhuma restrição à posição final das letras, existem n!
maneiras de ordenar as n letras,
mas muitas dessas maneiras não satisfazem as condições do problema
porque em algumas o a ocupa a 1a
posição, em outras o b ocupa a
2a e assim por diante. Euler começou criando um símbolo
para o número que estava sendo procurado e chamou de
a quantidade de permutações
das n letras
a,
b,
c,
... nas quais nenhuma
delas ocupa sua posição original. (Uma permutação com tal característica
é chamada de um “desarranjo”
de a,
b,
c,
d, ....) Quando
, ou seja, só há uma letra,
não existe forma de “desarranjá-la”, de modo que
Quando
as letras
a
e b
somente podem ser “desarranjadas” de uma forma: ba.
Logo,
Quando
os “desarranjos” de
abc
são bca
e cab, de modo que
Continuando a análise de casos
particulares, consegue-se verificar que
e
,
, mas a partir daí as
alternativas tornam-se tão numerosas que é preciso deduzir
matematicamente qual a lei de formação de
. Euler raciocinou da seguinte
maneira: seja a,
b,
c,
d,
e, ...,
o arranjo inicial das n
letras. Rearranjando-as de modo que nenhuma retorne à posição de
origem, existem
opções para a
primeira letra, já que ela não pode ser
a.
Podemos supor que a primeira letra será
b e então calcular o número de variações possíveis,
bastando depois multiplicar o resultado por
para se obter
(Princípio da contagem). Sendo
b a primeira letra de
um “desarranjo”, existem duas alternativas, para a segunda letra: Alternativa
1 – A
segunda letra é a.
Nesse caso, precisamos rearranjar as
letras restantes de
modo que nenhuma volte à sua posição original. Mas esse é o mesmo
problema do qual partimos, reduzido de 2 letras, havendo, portanto,
formas de fazê-lo. Alternativa
2 – A
segunda letra não é a.
O problema agora é rearranjar as
letras restantes que
ficarão à direita de b
de modo que nenhuma volte à sua posição original. Assim fazendo,
c
não será a 3a letra,
d
não será a 4a, etc., e, além disso,
a não será a segunda.
Ora, como são
letras a serem
desarranjadas, existem
formas de fazê-lo. Considerando que os rearranjos das
duas alternativas pertencem a conjuntos que não têm elementos em comum,
fica claro que, quando b
é a primeira letra,
existem
desarranjos possíveis.
Uma vez que há
opções para a
primeira letra, então,
. Essa fórmula de recorrência resolve o problema, mas tem o inconveniente de não fornecer como uma função explícita do número n. Procurando simplificá-la, Euler observou que, para qualquer n inteiro maior ou igual a 3, tem-se:
...........................................................
.
Multiplicando-se
essas
igualdades e
simplificando, tem-se:
, mas
e
. Logo,
Embora a igualdade tenha sido
obtida supondo-se
é fácil verificar que
ela também é verdadeira para
(mas não para
n = 1). Procurando uma forma de exprimir
diretamente
como função de
n,
Euler acabou constatando que:
,
E
assim por diante. Pode-se demonstrar, por indução, que
para
e,
lembrando que
tem-se:
Isso
permite responder a uma pergunta adicional: “Se um conjunto ordenado de n
itens é permutado aleatoriamente, qual a probabilidade que nenhum
deles volte à sua posição original?” Ora, essa probabilidade é
, ou seja,
Como imediatamente observou Euler,
essa probabilidade praticamente se estabiliza a partir de valores
relativamente baixos de n. Por exemplo,
, enquanto
valores muito próximos. Em outras palavras, isso significa
que se desarrumarmos um conjunto com 12 ou com 12000000 elementos, por
exemplo, a probabilidade que nenhum volte ao seu lugar de origem é
virtualmente a mesma, em torno de 0,367879441. Esse é um resultado
surpreendente e nada intuitivo. E
esse estranho número 0,367879441...,
quem é ele? O leitor familiarizado com as séries infinitas certamente
lembra-se de que
Em outras palavras,
tende a
quando n
cresce acima de algumas poucas dezenas. É realmente muito “curioso”
(expressão empregada pelo próprio Euler) que o número e
apareça, inesperadamente, nessa que se tornou uma clássica questão da
Análise Combinatória. Mas quem conhece os hábitos dos dois irmãos
peraltas da Matemática, o
e o e, sabe que essa é sua marca registrada: surgir
subitamente nos lugares onde são menos esperados.
NR. O problema dos “desarranjos”, também conhecido como o problema das “permutações caóticas”, já foi abordado nas RPMs 15 e 28 sob o suges
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