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Escreve-nos o colega Joaquim Trotta,
do Rio de Janeiro, RJ, contando uma experiência da década de 50 que não perdeu a
validade, podendo ser adaptada aos dias de hoje. Foi no Colégio Nova Friburgo,
da Fundação Getúlio Vargas, onde os alunos eram muito incentivados nas suas
iniciativas. Lá, estudantes eram destacados como “alunos explicadores” para
ministrarem explicações a colegas com dificuldades na aprendizagem. Outros
escreviam apostilas: começando na 1a série (hoje, 5a
série do ensino fundamental) a participar na elaboração dos planos do curso,
continuavam nas séries seguintes colecionando provas de exames de admissão às
escolas militares (às quais alguns se destinavam) e, por fim, na 4a
série (hoje, 8a série), podiam escrever suas próprias
apostilas, que eram mimeografadas. Em 1955, os alunos da 4a
série ginasial, tendo visitado uma gráfica, tiveram a idéia de publicar as
apostilas em forma de livro. Acontece que naquela época era tudo muito
rudimentar: cada página devia ser composta, tipo por tipo, a raiz quadrada, por
exemplo, exigia uma letra V e alguns travessões! Montada uma página, tiradas as
100 cópias, era tudo desmontado para se passar à página seguinte. As cópias
prontas iam se amontoando na sala dos professores, até que todas estivessem
prontas. Os estudantes se mostravam ansiosos por verem seus nomes como autores
de um LIVRO, enquanto professores, incomodados no seu ambiente de palestra e
cafezinho pelo acúmulo da papelada, se mostravam céticos quanto ao sucesso da
empreitada. Uma placa com os dizeres “Favor não tocar nem dar palpites”
colocada na sala dos professores de nada adiantou para calar os pessimistas. Foi
aí que surgiu a idéia de usar uma frase de Platão: “É indigno de se chamar
homem, quem ignora que o lado e a diagonal de um quadrado são grandezas
incomensuráveis”. Essa frase, impressa para a introdução da parte de Geometria
do livro, foi colocada em cima de cada pilha da papelada na sala dos
professores. Fez-se o silêncio, não mais houve reclamações e, afinal, o livro
saiu. Com uma vista aérea da escola na capa, prefácio do professor Oldemar
Ferreira dos Santos, do Colégio Pedro II, e sob o título Matemática de aluno
para aluno, o livro foi publicado. O professor Trotta conclui, lembrando que
as escolas de hoje dispõem de mais recursos tecnológicos que facilitam a
implantação de projetos como esse, e acrescenta que o jovem de hoje é o mesmo
que o de décadas passadas e não deve ser encarado como objeto, mas como sujeito
de sua aprendizagem. RPM: Esta e outras experiências daquele colégio estão contadas no livro de autoria do professor Joaquim Trotta, Atividades extraclasse e liderança. Esse livro, de 1960, foi reeditado em 1990, numa edição especial da Revista DELFOS, uma publicação da Associação dos diplomados da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Rua São Francisco Xavier, 524, 12o andar, Bloco A, sala 12025, Mangueira, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 20559-900). Em 1960, esse livro foi premiado pelo Serviço Cultural da Embaixada da França, e seu autor, o professor Trotta, recebeu uma bolsa de estudos em Paris.
Escreve-nos o colega Marcelo Figueiró, de Recife, PE, contando sua experiência na realização de Oficinas de Geometria no Colégio ATUAL de Caruaru, PE. As oficinas são dirigidas a alunos de 7a e 8a séries e se realizam fora do horário das aulas regulares. Cada oficina consta de cinco encontros e são 26 os participantes que trabalham em duplas. O Tangram é usado como ferramenta em vários conteúdos sobre triângulos e quadriláteros. Um trabalho interessante é realizado em madeira, com pregos que fazem o papel de vértices e fios de lã que fazem o papel de lados e diagonais de um polígono. São confeccionados cartazes, jogos, quebra-cabeças, figuras espaciais em cartolina ou palitos de churrasquinho e borracha (aquela que serve de garrote para injeções na veia). São feitos quebra-cabeças que ilustram provas do Teorema de Pitágoras, mosaicos que utilizam as relações de ângulos internos e externos de um polígono com material emborrachado e muito mais. O colega conta que a idéia de montar tais Oficinas surgiu quando ele estudava na PUC – RS. Ele conta também que as experiências realizadas mostraram um alto índice de aprovação e aproveitamento dos participantes. Considera que “pensar, sentir e agir formam os três pilares de uma Oficina de Ensino”. O colega envia cinco fotos ilustrando essa matéria.
A RPM
já publicou vários artigos numa seção com esse nome. Nestes dias, têm chegado à
Revista cartas abordando o mesmo tema, como relatos de experiências, crônicas ou
questionamentos. Resumimos duas dessas cartas e
Escreve-nos o colega João Calixto Garcia, de Cerquilho, SP, sobre a freqüência com que ouve de seu aluno a pergunta: “Professor, quando usarei isto que o senhor está me passando?”. Refletindo sobre isso, o colega concluiu que a escola não acompanha o ritmo do desenvolvimento, principalmente no que diz respeito às mudanças da tecnologia. Ele considera que se prioriza o desenvolvimento do raciocínio e da lógica, em detrimento da contextualização. Sente que há carência de conteúdos que contemplem as necessidades da vida prática ou esclareçam e ajudem a resolver problemas desafiadores do dia-a-dia. Reclama das provas de seleção (vestibulares, concursos, etc.) que, segundo ele, constituem-se nos principais entraves às necessárias mudanças no ensino médio. Conclui afirmando que precisamos construir logo uma ponte que ligue o mundo da escola ao exterior a ela.
Escreve-nos a colega Lea Fernandes,
de Santos, SP, reclamando da ditadura dos modismos no ensino. Destaca que,
atualmente no ensino da Matemática, essa pressão se manifesta na necessidade de
contextualizar todos os assuntos na vida do dia-a-dia. Ela afirma que gosta de
contextualizar os temas ensinados, sempre que possível, na vivência atual ou
numa eventual profissão no futuro do estudante, mas não considera que esses
sejam os únicos temas de interesse. Ela procura sempre ilustrar o que ensina a
partir do que seu aluno já conheça e encontra contextualização para o ensino de
porcentagem, de funções, do cálculo de perímetros, áreas e volumes e muitos
outros assuntos, mas gosta de trabalhar, por exemplo, com números irracionais,
mesmo não havendo experiências práticas em que eles apareçam. Lembra que até há
pouco tempo, o formalismo algébrico era de uso restrito de cientistas ou poucos
outros técnicos. Hoje, com a popularização das planilhas eletrônicas, ele se
tornou necessário para muita gente, em particular, para qualquer
microempresário. Salienta em sua carta que, se até há alguns anos, era muito
difícil prever o que seria ou não de utilidade prática para a vida do estudante,
hoje, com a rapidez do desenvolvimento, essa dificuldade aumentou. Conclui
afirmando que a utilidade na vida prática do conteúdo ensinado perde em
importância para o desenvolvimento do estudante na arte de aprender e aplicar
conhecimentos, quaisquer que sejam eles.
RPM: E você, leitor professor, qual a sua opinião sobre esse tema?
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