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Ampliar, reduzir, rotar, inverter, deformar imagens atualmente são operações tão simples que podem ser realizadas quase sem pensar, basta um “clicar e arrastar” e tudo está pronto. A informática proporciona, mesmo para aqueles sem talento algum para o desenho, uma infinidade de recursos para facilitar a manipulação de imagens. Mas como eram feitas essas transformações antes dos avanços tecnológicos? A resposta a essa pergunta foi encontrada em alguns livros que descrevem sistemas articulados desenvolvidos para fins específicos. Exemplos simples de sistemas articulados são os guarda-chuvas ou o sistema que ligava as rodas das antigas locomotivas a vapor. De modo geral, um sistema articulado consiste em um conjunto de hastes interligadas por pontos fixos e ou móveis, permitindo-lhes uma série de movimentos pré-definidos que visam à realização de uma determinada tarefa. Nossas pesquisas resultaram em algumas surpresas, como a de, em algumas lojas de material para desenho, ainda poderem ser encontrados pantógrafos, sistemas destinados a ampliar ou reduzir figuras. A origem do pantógrafo é desconhecida, mas há registros de que já era utilizado, por alguns povos, mesmo antes de Cristo. Também descobrimos que James Joseph Sylvester (1814-1897), matemático bastante conhecido por seus estudos na área de Álgebra, deu atenção aos sistemas articulados, desenvolvendo um sistema destinado a realizar rotações de figuras (rotor de Sylvester). Outro matemático que trabalhou com esses instrumentos foi Kempe (1841-1920), sendo inventor de dois sistemas, um que permite refletir figuras e outro que permite transladá-las. Apresentaremos neste artigo o pantógrafo e o rotor, instrumentos mecânicos de fácil construção, descrevendo as transformações que realizam e demonstrando os teoremas que comprovam o seu funcionamento.
Fixado um ponto F no plano e dado um número real , a homotetia de centro F e razão k é a transformação H que a cada ponto S do plano associa o ponto tal que . Pode-se mostrar [2] que, se J é uma figura, então é semelhante a J com razão de semelhança k. Em linguagem corrente, diz-se que é uma ampliação de J se para alguma homotetia H com (e uma redução se ). O pantógrafo é um sistema articulado que realiza mecanicamente a ampliação (ou redução) de figuras. Ele consiste essencialmente em quatro hastes, AL, AF, CS e BS conforme ilustrado na figura. O sistema é montado como na figura, sendo articulado nos pontos A, B, C e S de forma a permitir rotação das hastes em torno desses pontos. O instrumento deve ser montado de forma que ABSC seja um paralelogramo e de forma que, na posição inicial (e portanto em qualquer outra como veremos), S esteja no segmento FL.
(Pergunta: Que figuras podem ser ampliadas ou, mais precisamente, fixado F, em qual região do plano podem estar os pontos das figuras a serem ampliadas?) Usualmente são feitos vários furos em AL e AF de modo a permitir a montagem em outras configurações. Por razões práticas, é conveniente que as hastes AF e AL tenham o mesmo comprimento, mas isso não é realmente necessário para que o instrumento funcione. O que se precisa é que a aplicação seja uma homotetia e da definição vemos que, para tanto, basta que S esteja
Fixado um ponto F em um plano p orientado (como é usual, suporemos que a orientação é a anti-horária) e estabelecida uma medida de ângulo , a rotação de centro F é a transformação R que, a cada ponto S do plano, associa o ponto de tal forma que se tenha , , e também se tenha o sentido de L para (tomando F como origem) positivo.
O rotor de Sylvester consiste, essencialmente, em quatro hastes articuladas formando um paralelogramo ABCF e mais duas hastes AS e CL, com e , articuladas em A e C, formando um ângulo de mesma medida a com os lados AB e CB, respectivamente.
Quando a ponta seca S percorrer uma figura J, o lápis em L percorrerá uma figura que é uma rotação de ângulo . Para verificar que isso de fato ocorre precisamos mostrar que, em qualquer posição do rotor com F fixo, temos .
Como mencionamos na introdução, podemos construir sistemas articulados que realizam translações ou reflexões. Para o leitor interessado recomendamos a referência [3] na bibliografia.
Referências bibliográficas [1] BOYER, Carl B. História da Matemática. São Paulo, Edgard Blücher, 1974. [2] Lima, Elon L. Coordenadas no Plano. Coleção do Professor de Matematica, Rio de Janeiro, SBM, 1992. [3] PINHEIRO, Vírgilio A. Geometografia, volume 2. Rio de Janeiro. Aula Editora, 1986. |