Roberto Ribeiro Paterlini
UFSCar, SP 
O problema do retângulo inscrito aparece no ensino médio sob várias versões:

Problema do retângulo inscrito: Dado um triângulo retângulo, dentre os retângulos inscritos conforme a figura, encontre o que tem área máxima.

Eis o mesmo problema com um enunciado mais amigável:

Problema da casa: (Vestibular da FUVEST)

Num terreno, na forma de um triângulo retângulo com catetos de medidas 20 e 30 metros, deseja-se construir uma casa retangular de dimensões  x  e  y,  como na figura.

a)   Exprima  y  em função de  x.

b)  Para que valores de  x  e de  y  a área ocupada pela casa será máxima?

A idéia usual para a resolução deste problema é observar a semelhança entre os triângulos da figura e obter, por exemplo, a relação

,

donde  . Usando essa relação para substituir  y  em  temos  ,  função que nos dá a área do retângulo. A função quadrática  A  tem ponto de máximo, e nosso problema estará resolvido quando encontrarmos a abcissa desse ponto, o vértice da parábola que é o gráfico da função. As raízes de  A  são  0  e  30,  cuja média aritmética é  15.  Portanto,    é a abcissa do vértice, e o valor correspondente para  y  é  10.  Vemos que a altura e a base do retângulo inscrito de área máxima são a metade, respectivamente, da altura e da base do triângulo.

Em um triângulo retângulo qualquer com base  b  e altura  h  o resultado é o mesmo: o retângulo inscrito de maior área (entre os retângulos posicionados como na figura) é o que tem base 



 

     Usando dobradura

No ano de 2000 estava lecionando uma disciplina de problemas para alunos do Curso Noturno de Licenciatura em Matemática da UFSCar, e certo dia sugeri aos estudantes resolverem esse problema. Minha expectativa era que utilizassem o método descrito acima, e de fato muitos assim o fizeram. Mas tive a agradável surpresa de ver que a estudante Tatiana Gaion Malosso, juntamente com os colegas de seu grupo de trabalho, resolveu facilmente o problema usando dobraduras. Quando incentivamos a criatividade, podemos ver as soluções mais interessantes e aprendemos a pensar com liberdade.

Vamos descrever a solução por dobradura apresentada pela estudante. Tomamos uma folha de papel e a cortamos no formato de um triângulo retângulo ABC.

Dobramos o papel de modo a fazer coincidir o ponto  A  com o ponto  B, e em seguida dobramos de modo a fazer coincidir o ponto  C  com o ponto  B,  como nas figuras abaixo.

Desdobrando e voltando ao triângulo original, vemos que marcamos duas linhas que se encontram no ponto médio de  .

De fato, por construção,  D  é o ponto médio de    e    é paralelo a  , logo,  E  é o ponto médio de  .  Da mesma forma,  F  é o ponto médio de    e    é paralelo a  ,  logo,    é o ponto médio de  ,  e  .

As duas linhas que marcamos no triângulo determinam um retângulo cuja altura é a metade da altura do triângulo e cuja base é a metade da base do triângulo. Observamos que o triângulo original ficou subdividido em três figuras, dois triângulos menores e o retângulo, e a dobradura deixa claro que a soma das áreas dos dois triângulos menores é igual à do retângulo. Portanto, a área do retângulo é a metade da área do triângulo original.

Vamos verificar, usando dobradura, que esse retângulo é o de maior área que se pode obter. Tomamos um outro retângulo inscrito,  

Dobramos o papel na linha  (veja as figuras) e tracejamos o segmento    indicado na terceira figura. Em seguida dobramos na linha     passando pelo ponto  A  marcado.

O triângulo original fica subdividido em quatro regiões, 1, 2, 3 e 4, de modo que somando as áreas de 1 e 3 obtemos a área de 2 (confira na figura). Mas, como temos a área de 4, vemos que a área de 2 é menor do que a metade da área do triângulo. Portanto, o retângulo  não tem área máxima

 

     Outros desenvolvimentos

Em qualquer triângulo existe um retângulo inscrito. De fato, um triângulo tem pelo menos dois ângulos agudos. Na figura a seguir supomos     e    ângulos agudos e construímos o segmento    paralelo a  . Em virtude de serem    e    agudos, os segmentos perpendiculares a    por  D  e  E  intersectam  ,  e obtemos um retângulo inscrito no triângulo.

O leitor pode observar que em um triângulo podem existir retângulos inscritos em até três posições diferentes,  com um lado do retângulo sobre um lado diferente do triângulo.

Qualquer que seja a posição, a maior área do retângulo inscrito que se pode obter é a metade da área do triângulo.

Podemos novamente usar dobradura para encontrar o retângulo inscrito de área máxima. Seja    um triângulo qualquer, e suponhamos que    e    são agudos. Cortamos um papel na forma do triângulo dado. Usando dobradura, marcamos a altura do triângulo relativa ao lado  .  Dobramos o triângulo de modo a fazer coincidir o ponto  C  com o pé desta altura no lado  .  Continuamos procedendo de modo análogo ao caso do triângulo retângulo.  

 

Referências bibliográficas

[1]  MALOSSO, T. G., Nucci E. e Yshimine, M. K. 6a Lista de exercícios da disciplina ensino de Matemática através de problemas. Curso Noturno de Licenciatura em Matemática. UFSCar, 2000.

[2]  IEZZI, G., Dolce, O., Degenszajn, D. M. e Périgo, R. Matemática. Volume Único. São Paulo: Editora Atual., 1998.

[3]   LIMA, E. L., Carvalho, P. C. P., Wagner, E. e Morgado, A. C. A Matemática do ensino médio. Volume 1. Coleção do Professor de Matemática. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática., 1996.