Conversão de unidades

Fui assessor de uma empresa estatal que precisava desapropriar enorme área rural. Depois de muito discutir com os sitiantes e mini fazendeiros que iam ter suas terras desapropriadas, chegamos a um consenso de valor para a desapropriação amigável, algo próximo de R$ 24 000,00 por alqueire. Fiquei incumbido de preparar o contrato. Ao fazê-lo, lembrei-me do meu juramento ao professor de Física, Professor Hermann, e ao Engo Max Lothar Hess, meu primeiro chefe (ambos de formação germânica), de nunca, mas nunca mesmo, trair o sistema métrico em minha vida profissional. Como o alqueire paulista tem  24 000 m2, fiz a conversão, e o texto do contrato para ser assinado dizia que o valor da desapropriação seria de R$1,00 o m2.

Não sei o que aconteceu por causa disso, pois todos os proprietários das fazendolas e dos sítios que tinham acertado o valor, ao lerem o texto do contrato, acharam um absurdo vender as terras que tinham seu suor por R$1,00 o m2. Outra coisa muito diferente seria receber os combinados R$ 24 000,00 por alqueire.

Aí descobri que acima da Matemática e Física existe uma coisa chamada “aspecto humano”, fato que, em geral, nós, engenheiros, esquecemos.

 

 

     O loteamento de 1010 km2. O conflito rural e urbano

Faz muitos anos. Um jovem engenheiro de origem interiorana fez parte de uma comissão de licitação para escolher uma firma que iria fazer desenhos de loteamentos da cidade de São Paulo, no esforço de regularizar loteamentos clandestinos. Para contratar a firma de desenhos, incluiu-se no edital em preparação uma série de exigências de praxe, como capital social, prova que o titular da firma estava em dia com o serviço militar, etc. Na hora de fixar a exigência “experiência anterior”, perguntou-se ao engenheiro qual área de desenho dos loteamentos a firma deveria já ter executado. O pobre do engenheiro, sem nenhuma experiência em “desenho de loteamentos”, pensou e chutou um número redondo: - 10 km2.

Por que 10? Nenhuma razão, mas pelo menos atendia ao sistema decimal. E o edital saiu com essa exigência.

Mal saiu, choveram reclamações de protecionismo e direcionamento da concorrência. Nenhuma firma dizia ter feito nada próximo a essa área de desenho. Talvez fosse uma malandragem da comissão de concorrência.

Acuado pelas acusações, o jovem engenheiro, então, imaginou que uma área de 10 km2 é algo como um quadrado de lado 3,1 km e colocou no mapa da cidade de São Paulo um quadrado com essa medida, na escala do mapa, com um dos vértices no centro da cidade. A área resultante era simplesmente um monstro. Aí o engenheiro lembrou que, tendo nascido e sido criado no interior, três quilômetros na área rural é uma distância mínima, mas em uma área urbana é uma grandiosidade. O velho hábito de fumar cachimbo deixa a boca torta....

O edital foi revisto e a nova exigência caiu para 0,5 km2, algo bem mais razoável.