Painel I:
A regra dos 70
Antonio Carlos Gilli Martins
IMECC, Unicamp, SP
 

 

Dias atrás presenciei uma conversa na qual um cliente perguntava, ao gerente de um banco, quanto tempo levaria para duplicar uma quantia a ser aplicada a uma taxa de i%

Eu, muito curioso, pedi ao gerente uma explicação para o cálculo e ele me disse que “era uma regra usada em finanças conhecida como a regra dos 70”. O porquê do  70  ele não sabia, mas dava certo.

 
 

       Regra dos 70

Para calcular o tempo aproximado de duplicação de um investimento, divida  70  pela taxa percentual anual de juros.

Vamos justificar o cálculo do gerente. Para isso, usaremos a função logaritmo natural de  x,x>0, denotada por  ,  que pode ser definida como sendo a função inversa da exponencial  .  Logo,

“o logaritmo natural de  x  é a potência de  e  necessária para se obter  x.”

.

Precisamos de uma forma prática para calcular o valor numérico do logaritmo, mesmo que aproximado. Usaremos a expressão apresentada, com notas históricas, na RPM 26, pág. 6, que é a seguinte:

Tal expressão, conhecida como a série de Taylor da função  ,  permite a aproximação

  para  valores de  x  positivos e próximos de  0.

Podemos também perceber essa aproximação graficamente:

Ao lado temos os gráficos das funções  e   que fornecem uma justificativa gráfica para a aproximação .

Voltemos à regra dos 70.

Um capital  C,  aplicado à taxa anual de  %  transforma-se, após 1 ano, em

A regra também vale para estimar a meia-vida de uma quantidade  Q  que decai exponencialmente com taxa de decrescimento de i% ao ano. Após  t  anos, o valor da

   

 

Painel II: 
Polinômios gerando primos

 

Wilson Carlos da Silva Ramos
Belém, PA

Os primos aparecem com muita irregularidade na seqüência dos números inteiros, e por isso foram criadas muitas fórmulas que fornecem números primos.

Há certos polinômios  , com coeficientes inteiros, cujos valores numéricos são primos para valores inteiros da variável  x.  Vejamos alguns:

1) Os valores assumidos por   (trinômio de Euler)  são primos para    (observe que  ).  Entretanto, para    e  ,  os valores numéricos desse trinômio não são primos, pois, temos:

Para  ,  temos  ,  um primo, mas não se sabe se o trinômio de Euler produz um número infinito de primos para valores inteiros de  x.

2)      Outro trinômio campeão de primos é  Q(x) = P(x 40) = x2 79x + 1601.  Para  x=0,1,2,...,79Q  fornece números primos (ver RPM 09, pág. 33).

3)      O binômio de Legendre  P(x) = 2x2 + 29  produz  primos  para  x=28,27,...,28.

4)      P(x) = x2 2999x + 2248541 produz primos para  x=1460,...,1539.

5)      P(x) = x2 + x + 17 produz primos para  x=15,14,...,15.

6)      P(x) = 3x2 + 3x + 23   produz primos para  x=21,20,...,21.

7)      P(x) = 6x2 + 6x + 31 produz primos para   x=29,28,...,28.

Agora façamos a seguinte pergunta: existirá algum polinômio  P(x) , com coeficientes inteiros, cujos valores numéricos são sempre números primos para valores inteiros da variável  x?

A resposta é não,  e é conseqüência do seguinte teorema:

Teorema: Não existe polinômio algum, com coeficientes inteiros, cujos valores numéricos são sempre números primos para valores inteiros da variável  x.

Demonstração:

Suponhamos que o polinômio P(x) = akxk + ak-1xk-1 + ... + a2x2 + a1x + a0, com os coeficientes  ak, ak-1,..., a2, a1, a0  todos inteiros e  ak 0,  produz sempre primos para valores inteiros da variável  x.  Então, para  x = n ,  sendo  n  um inteiro fixo, P(x)=p  é primo, e qualquer que seja o inteiro  t,  temos:

P(n + pf) = ak(n + pf)k + ak-1(n + pf)k-1 + ... + a1(n + pf) + a0,  ou seja, P(n+pf)=(aknk+ak-1nk-1+ ... +a2n2=a1n=a0)+pg(t)

 

,

sendo  g(t) um polinômio em  t  com coeficientes inteiros.

Portanto,  p  é um divisor de  P(n + pt)  e  P(n + pt) é um inteiro composto, a não ser que: P(n+pt)= p    ou  P(a+pt)=0.

Como um polinômio do grau  k  não pode assumir o mesmo valor numérico para mais de  k  valores numéricos da sua variável, segue-se que as três igualdades anteriores podem subsistir somente para  3k  valores do inteiro  t,  quando muito, de modo que, para todos os demais valores de  tP(n + pt)  é um inteiro composto, o que é uma contradição, visto que o polinômio    produz sempre primos para valores inteiros da variável  x.

Assim, por exemplo, com  P(x)=x2+2x+3,  para  x=2  temos  P(2)=11, um primo,  e  P(2+11t)=11(1+6t+11t2) é um inteiro composto, divisível por 11,  para todo t 0.