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Flavio Wagner
Rodrigues
formam-se filas gigantescas nas casas lotéricas e os jornais, o rádio e a televisão fazem matérias sobre o assunto que tratam desde as chances de que alguém ganhe o prêmio máximo até o que o felizardo poderá fazer com todo aquele dinheiro. Os professores que dão aulas de Probabilidade e de Análise Combinatória são consultados sobre o funcionamento do jogo e especialmente sobre a eventual existência de alguma estratégia que melhore as chances de vitória do apostador. Este artigo é um relato sobre as perguntas que me fizeram e sobre as respostas que eu fui capaz de dar.
Embora eu acredite que a maioria dos leitores da
RPM, assim como eu, já tenha tentado a sorte na Mega Sena,
vamos dar uma breve descrição do jogo para atender aos leitores que, ou
por princípio, ou por serem mais inteligentes do que nós jogadores, nunca
arriscaram. Para apostar, você escolhe um mínimo de seis e um máximo de
quinze dezenas no conjunto
. Cada aposta simples de seis dezenas custa um real e,
portanto,
O cálculo das probabilidades de que um apostador ganhe os prêmios
oferecidos é um exercício simples de Análise Combinatória. Vamos
mostrar como esse problema é resolvido, através de um exemplo.
Nas
diversas loterias administradas pela Caixa, sempre que o prêmio maior não
saía e a quantia a ele destinada acumulava para o concurso seguinte, o
interesse dos apostadores crescia, resultando num aumento considerável no
número de apostas. Embora essa situação fosse interessante para a
Caixa, o governo e os lotéricos, a sua ocorrência dependia do acaso. Com
o objetivo de manter o interesse dos apostadores e conseqüentemente
aumentar a arrecadação, foi criada a acumulação forçada que reserva
uma parte do prêmio (vinte por cento do total destinado à Sena) para ser
acrescentada ao rateio dos concursos cujos números terminam em
zero.
Assim, por exemplo, em cada um dos concursos de números
201, 202, ....., 209, vinte
por cento do prêmio da Sena ficam retidos para serem acrescentados ao prêmio
do concurso 210. Em várias ocasiões o acaso também faz sua parte e isso
acaba elevando o valor do prêmio a um patamar bastante alto. No segundo
semestre de 1999, repetidas acumulações fizeram com que o prêmio
superasse 60 milhões de reais. Esse valor, superior a 30 milhões de dólares,
está no nível dos prêmios de loterias do primeiro mundo, principalmente
se levarmos em conta que, aqui no Brasil, ele é isento de imposto de
renda.
1.Intuitivamente o que significa ter uma chance em cinqüenta milhões?
Com
o objetivo de fazer com que seus leitores entendam o que significa essa
probabilidade tão pequena, os jornalistas pedem que façamos comparações
com a possibilidade da ocorrência de outros eventos. É curioso que as
comparações solicitadas quase sempre envolvem um evento auspicioso
(ganhar o prêmio máximo da Mega Sena) com tragédias tais como morrer em
desastre de avião, ser atingido por um raio ou morrer de câncer. A maior
dificuldade em fazer essas comparações está no fato de que nem todos os
indivíduos da população têm a mesma probabilidade de sofrer uma dessas
desgraças, enquanto todos os que apostam 6 dezenas têm a mesma chance de
acertar a Mega Sena. Eu acredito que a maneira mais fácil de fazer as
pessoas entenderem é usando um outro exemplo puramente aleatório. O número
de habitantes do Brasil é quase igual a três vezes o número de
resultados possíveis do sorteio. Se fosse realizado um sorteio de três
prêmios entre toda a população brasileira, a sua chance de ganhar um
deles seria igual à de ganhar
o prêmio máximo da Mega Sena com um jogo de seis dezenas. No Você
sabia? da RPM
4l, pág. 29, foi observado que é mais fácil obter 25 caras em 25 lançamentos
de uma moeda do que ganhar na Mega Sena com uma aposta de 6 dezenas.
2.Existe
uma forma de apostar que melhore as chances do jogador?
Essa pergunta é geralmente feita na sala de aula por alunos
curiosos em saber se o professor conhece algum truque ou algum sistema que
preferencialmente garanta a vitória. A análise dos resultados dos
sorteios realizados até hoje parece indicar que todas as dezenas são
igualmente prováveis e que os resultados de diferentes sorteios são
independentes. Não existem, portanto, elementos que nos permitam
construir um sistema que melhore as nossas chances de vitória. Na sala de
aula comento também que, se eu conhecesse um sistema, não iria contar
para ninguém e provavelmente não estaria mais dando aulas.
3.Devo
jogar no 13 que é a dezena que mais vezes foi sorteada, ou no
48,
que foi a que saiu menos vezes? O mesmo argumento usado na resposta da questão 2 nos leva a afirmar que, do ponto de vista teórico, tanto faz jogar no 13, no 48 ou em qualquer outra dezena. Agora, se você fizer questão de escolher com base nos resultados de concursos anteriores, eu recomendaria o 13 e não o 48. Isso porque, se tudo estiver funcionando corretamente, tanto faz, mas, caso exista uma pequena distorção (que os testes estatísticos não conseguem detectar), tudo indica que ela estaria favorecendo o 13 e não o 48. 4.
4. Se eu estiver disposto a jogar 28 reais, é melhor fazer um único jogo de 8 dezenas ou vinte e oito jogos de 6 dezenas?
Essa é uma questão interessante, pois, embora as duas
formas de jogar sejam equivalentes (supondo 28 jogos distintos de 6
dezenas) no que diz respeito à sena, isso não é verdade com relação à quadra e à quina. De fato, com um único jogo de 8 dezenas
existirão.
5. Vale a pena jogar? Do ponto de vista teórico, é fácil ver que a resposta é não. De fato, você estaria colocando dinheiro num jogo que destina apenas 44% da arrecadação para os prêmios e no qual a sua probabilidade de ganhar alguma coisa que valha a pena é muito pequena. Para aqueles que acreditam na sorte e gostam de arriscar de vez em quando, aí vão algumas sugestões:
a) Nunca aposte muito dinheiro.
b)
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