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No
Livro 6 dos Elementos de Euclides aparece a questão de como encontrar em um
segmento o ponto que o divide em sua razão
áurea (Proposição 30). Isso significa determinar em um dado
segmento de reta um ponto que o divide satisfazendo a seguinte
propriedade: a razão entre a parte menor e a parte maior obtidas pela
divisão é a mesma que a razão entre a parte maior e o comprimento do
segmento original. Denotemos
o segmento dado por AB, que podemos supor
unitário, e suponhamos que G seja um ponto no seu
interior de tal modo que AG
> GB. O ponto G
dividirá então AB
em sua razão áurea se
.
A
determinação de G
é muito simples: temos
GB = 1
AG
e, portanto,
(1
AG)/AG=AG, de tal modo que
AG2 + AG
1 = 0
. A única solução maior que zero dessa equação é
AG = (
1) /2
e o problema fica
resolvido. É comum, porém não universalmente aceito, denotarmos tal número
(razão áurea) pela letra
, enquanto
denota o chamado número
de ouro, que nada mais é que o inverso multiplicativo da razão áurea:
partir da primeira casa decimal:
Essas
e outras propriedades relacionadas ao número de ouro formam material
interessante para um texto auxiliar a ser utilizado em cursos de Matemática,
Ciências em geral e mesmo de História. Apesar de este ser o objetivo
precípuo do livro Número de ouro e
secção áurea: considerações e sugestões para a sala de aula
escrito pela professora Maria Salett Biembengut,
a imprecisão e a quantidade de falhas conceituais contidas no texto
fazem o projeto, infelizmente, não vingar. Não há um maior esmero e
cuidado na apresentação e, lendo o livro, não foram poucos os momentos
em que senti uma possível existência de pressão do tempo sobre a
autora. Talvez isso justifique os erros apresentados, alguns dos quais
podendo confundir bastante o maior público-alvo do texto: os alunos. O
livro aborda no início as noções de razão áurea e número de ouro e a
seguir estuda os polígonos áureos, a espiral logarítmica e os sólidos
de Platão. Há também uma seção que discute a relação entre o número
de ouro e a seqüência de Fibonacci bem como uma pequena seção
denominada “O número de ouro em diversas áreas”. Como conclusão são
apresentadas sugestões para discussões em sala de aula. Notamos
acima a existência de erros. Vejamos aqui alguns exemplos. Na discussão
sobre a elipse de ouro, com eixo maior de comprimento
2a = 1,
eixo menor de comprimento 2b
=
e os focos
, conclui-se, após uns
tantos cálculos, que 2c
=
. Isso, porém, é claramente impossível
já que devemos ter
! O erro advém do fato de
ter sido usada incorretamente a propriedade que caracteriza a elipse como
um lugar geométrico (página 41, primeira linha). Como se isso não
bastasse, no meio dos cálculos a
se torna igual a 1
e b
igual a
. Há
outros pontos no texto que requerem correção. Por exemplo, a construção
da espiral que começa na página 35 fugiu da compreensão deste revisor,
uma vez que seu centro não fica determinado; além disso, não é correto
afirmar (mesma página): O gráfico
polar de uma função exponencial é
(assim mesmo, sem nem ao
menos explicar o que significam
r1, r2
e q).
Mais à frente, na página 64, a autora justifica um cálculo chamando a
atenção para o fato de a seqüência ser infinita.
A seqüência na realidade é finita
e isto sim justifica seu cálculo. E
a lista de imperfeições não pára por aqui... Em
conclusão, considero a proposta interessante. O tema é bem escolhido
para um texto com as finalidades apontadas acima, mas o livro requer uma
profunda revisão, o que poderia talvez gerar uma nova edição corrigida.
Alguns pontos da revisão histórica merecem maior atenção: por exemplo,
as datas de nascimento e morte do monge italiano Lucas Pacioli estão em
contradição com a Enciclopédia
Britânica. Finalmente, maior atenção deveria ser prestada à língua
portuguesa, bem como à própria apresentação, uma vez que existem seções
no livro que não constam do índice.
Paulo
Domingos Cordaro
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