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Alguns
apelam para palavras cruzadas, outros giram os polegares e eu, como o vício
do cachimbo entorta a boca, traço em folhas de papel as formas que se me
apresentam no ambiente que é alcançado pelas retinas. Lápis e papel na
mão, registrava dois lances de escada e uma escada rolante que surgiram a
minha frente. Mal traçara as primeiras linhas, deparei-me com uma questão
que me intrigou: quantos degraus deveria desenhar na escada rolante? Em vão,
tentei contar os degraus visíveis. Se a escada parasse, poderia contá-los.
Tive ímpetos de apertar o botão vermelho próximo ao corrimão, onde se
lia “PARAR”. Meu censurador não permitiu que o fizesse. Fiquei ali,
inerte, com o cachimbo na mão e sem poder fumar.
Um
menino sentou-se ao meu lado, brincando com uma bolha de sabão. Sem tirar
os olhos da bolha, ele disse em voz clara e pausada:
-
Pepino não parece “inreal”? Olhei-o,
ligeiramente, com o canto dos olhos e, sem nada dizer, retornei ao meu
cachimbo apagado. Alguns instantes depois, senti minha camisa ser puxada e
escutei novamente:
-
Pepino não parece “inreal”?
Dessa
vez, com uma mão segurando a bolha e com a outra puxando a minha camisa,
ele me olhava firmemente. -
Não é “inreal”, é irreal. -
Pois é, não parece? Aquela
insistência irritou-me. Eu, diante do mais intrincado problema da existência
humana – quantos degraus ficam visíveis quando a escada rolante pára
– e aquele menino me questionando sobre a realidade de um pepino!
Tentando dissuadi-lo, resolvi apresentar-lhe a complexidade do problema
que me afligia. -
Olha, menino, estou tentando desenhar aquelas escadas e não sei como
acabar o desenho da escada rolante. Quantos degraus devo desenhar? Meu
desenho está parado e a escada está subindo. Se a escada parasse de
repente, quantos degraus ficariam visíveis? Sem
nada dizer, colocou a bolha de sabão sobre a cadeira, subiu e desceu um
dos vãos da escada. Apontando para o relógio, disse: -
Eu desço a escada duas vezes mais rápido do que subo.
E repetiu sua viagem ao vão da escada, mostrando-me que, no mesmo tempo em
que dava um passo para subir, dava dois para descer. Novamente sem nada
dizer, começou a subir a escada rolante, contando os passos: um, dois,
três ..., um total de 20 passos. Do alto da escada, olhou-me como quem
estivesse fazendo a mais óbvia das coisas, e começou a descer a mesma
escada rolante, contando os passos: um, dois, três..., Em seguida tomou o lápis e o papel de minhas mãos e completou, com traços infantis, o meu desenho. Nenhum censurador poderia me conter. Levantei-me bruscamente e apertei o botão vermelho. Ansioso, comecei a contar os degraus. Para meu espanto, correspondia ao desenho do menino. Com a maior seriedade que já tive em minha vida, voltei-me para o menino e perguntei-lhe: - Por que o pepino parece “inreal”?
Vamos
tomar como unidade de tempo o tempo no qual o menino dá um passo subindo
a escada. Seja n
o número de degraus da escada rolante que desaparecem (ou surgem)
na unidade de tempo. Como o menino deu 20 passos para chegar ao topo da
escada, ele demorou 20 unidades de tempo. Isso significa que desapareceram
20n degraus. Chamando de
N
o número de degraus visíveis, temos:
O menino deu 35 passos para descer a escada rolante (que sobe). Lembremos que a freqüência de seus passos é duas vezes maior na descida que na subida. Ou seja, o tempo de dar dois passos descendo é igual ao de um passo subindo. Cada passo na descida demora 1/2 da unidade de tempo. Ele demorou 35/2 unidades de tempo para descer a e
Igualando
(1) e (2):
,
ou
, de onde
. O
menino desenhou 28 degraus.
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