A Área do Círculo

  Waldemar D. Bastos
Aparecida F. da Silva

UNESP
São José do Rio Preto, SP

     Introdução

Nesta nota apresentamos um método prático que pode ser utilizado em sala de aula para deduzir a fórmula da área do círculo conhecendo-se o valor do seu raio. Realizamos tal experimento com sucesso na ocasião em que participamos do PEC – Programa de Educação Continuada da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

O material necessário para a aplicação do método consiste em um rolo de papel (papel toalha ou papel higiênico), uma tesoura ou um estilete e um pedaço de fita adesiva. Dividimos o processo em três etapas – primeiro “convencemos” o aluno que podemos transformar uma coroa circular num trapézio de mesma área; em seguida calculamos a área do trapézio em função dos raios da coroa; finalmente observamos que a medida em que o raio interno da coroa “tende” a zero, a coroa “tende” ao círculo e as áreas dos trapézios correspondentes “tendem” ao número esperado.

Passemos à descrição das etapas.

1a etapa:  Tome um rolo de papel e passe a fita adesiva, como na figura. Em seguida, com uma tesoura afiada, ou estilete, corte folha por folha (ou grupos com poucas) em linha reta como ilustrado na figura abaixo.

“Descasque” o rolo até chegar no cilindro de papelão duro, localizado no centro. Não corte esse papelão, pois ele servirá para moldar o rolo quando da sua reconstituição.

Agora, com todas as folhas cortadas, você poderá mostrar à sua classe como a coroa circular (base do rolo de papel) se transforma num trapézio. Ilustramos com a seqüência de figuras abaixo:

 

A primeira figura representa o rolo de papel com parte de suas folhas cortadas, apoiadas sobre a superfície da mesa. Nas outras figuras representamos o trapézio (e o prisma) obtido.

Em seguida você pode mostrar o processo inverso: a transformação do trapézio numa coroa circular, retornando o rolo à sua forma original. Podemos, com isso, “convencer” o aluno de que a área de uma coroa circular pode ser determinada calculando-se a área de um trapézio.

2a etapa:  Calculemos a área da coroa. Sejam  r  o raio da circunferência interna e  R  o raio da externa. Voltando-se ao processo físico da transformação da coroa no trapézio, observa-se que a base maior do trapézio, obtida com a folha externa do rolo, tem comprimento  2R  e a base menor, obtida com a folha interna do rolo, tem comprimento 2r. A altura do trapézio é .  Assim, a área do trapézio ou, equivalentemente, da coroa será:

.

Observe que    é a diferença entre dois números independentes um do outro. O número   depende apenas do círculo maior, e    depende apenas do círculo menor. Como a área da coroa deve ser a diferença entre as áreas dos círculos, temos aqui uma sugestão de que a área de cada um dos círculos envolvidos é    vezes o quadrado de seu raio. Mas o fato de o número  A  se apresentar como diferença de dois números não prova que a área do círculo maior é    e a do círculo menor é  .  Veja que o mesmo número  A  pode ser escrito como

,

onde  k  é qualquer número real, e os valores    e    não representam nenhuma área por estarem indeterminados com a variação de  k.

3a etapa: Nessa última etapa devemos levar o aluno a pensar no círculo de raio  R  como sendo a figura obtida da coroa diminuindo-se o raio interno  r  até zero. Pode-se pensar numa seqüência de valores para  r,  que decresça e se aproxime de zero. As áreas das coroas correspondentes serão dadas por     e observamos que:

ou o limite quando  r  tende a zero de    é igual  .

Assim, confirmamos que a área do círculo de raio  R  é dada por  . Como em todo método de dedução dessa fórmula, não pudemos evitar o uso do conceito de limite, mas acreditamos tê-lo feito de forma bastante natural e prática.

Finalmente observamos que esse mesmo material pode ser usado para estudar o cilindro reto. Veja que o volume do rolo de papel é o mesmo volume de um prisma reto cuja base é o trapézio já estudado.  

Waldemar Donizete Bastos é licenciado em Matemática pela UNESP de São José do Rio Preto, onde é professor desde 1986. É mestre pela UnB e doutor pela Universidade de Minnesota, EUA.  


Aparecida Francisco da Silva é licenciada em Matemática pela UNESP de São José do Rio Preto, onde é professora desde 1987. É doutora em Matemática pela UNICAMP.  


 

   VOCÊ SABIA?

Que para qualquer número natural  n,  os algarismos das unidades de  n  e de    são iguais?

Tente provar!