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Jaime
Poniachik
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1. Impactos |
Em
uma tira com n
casas, dois jogadores alternam-se, colocando nas casas uma ficha de
cada vez. Um coloca fichas brancas, o outro, pretas, sempre em casas que
estiverem vazias. A partida acaba quando não existirem mais casas vazias.
Contam-se, então, os “impactos”. Há impacto quando duas casas
vizinhas tiverem fichas de cores distintas. Se, no final, a quantidade de
impactos for ímpar, Branco ganha a partida; se for par, ganha o Preto. O
diagrama mostra uma partida terminada. Os impactos estão marcados com
estrelas. Houve 5 impactos. Branco ganhou.
Branco
começa. Qual é a estratégia vencedora?
Resposta
Em
um segmento, dividido em segmentos menores, marcamos o extremo esquerdo
com 0, o direito com 1 e cada ponto de divisão intermediário com 0 ou 1.
Dizemos que um segmento é “bom” se os seus extremos estiverem
marcados com números distintos.
a)
Demonstra-se que o número de segmentos bons é ímpar.
b)
Demonstra-se que os segmentos bons do tipo
(0, 1) são um a mais
do que os segmentos bons do tipo (1,
0).
A
demonstração é muito simples e engenhosa:
Contam-se
os segmentos bons indo da esquerda para a direita. O 1 que estiver mais à
esquerda fecha o primeiro segmento bom que é de tipo (0,
1). O próximo segmento bom deverá ser de tipo (1, 0).
E,
sucessivamente, os segmentos bons irão alternando-se entre os de um e de
outro tipo. O último será do tipo (0 1).
Daí
concluí-se que a quantidade de segmentos bons é ímpar e que há um
segmento a mais do tipo (0,1) que o do tipo (1, 0).
Observações:
Se os extremos do segmento inicial receberem ambos o mesmo rótulo, a
quantidade de segmentos bons será par e haverá tantos segmentos de um
tipo quanto do outro.
Voltemos
ao jogo dos impactos. Para ganhar, Branco apenas precisa assegurar que os
extremos tenham fichas de cores distintas. Isso é fácil: ele joga
fichas, à vontade, nas casas internas e, assim que Preto colocar uma
ficha em uma das extremidades, Branco coloca sua ficha na outra
extremidade.
2. Impactos em duas carreiras |
As
mesmas regras poderiam ser usadas em tabuleiros mais complexos. Por
exemplo:
Qual é a estratégia para ganhar?
3. Corolário do lema de Spener |
Uma
linha contínua que começa subindo e termina descendo tem um número ímpar
de extremos (máximos e mínimos).
4. Jogo do sobe-desce |
Numa tira de n
casas escrevem-se os números 1, 2, 3, ..., n
da seguinte maneira: cada jogador escreve um número por vez numa
casa livre, número que até então não tenha sido usado. A partida
termina quando todas as casas estiverem preenchidas. Se resultar uma
quantidade ímpar de extremos, a vitória será do primeiro jogador; se a
quantidade for par, ganhará o segundo. O diagrama mostra uma partida
acabada:
Jogando
um tabuleiro quadriculado, a partida anterior ficaria assim:
Qual a estratégia para ganhar?
5. Notícia histórica |
O Lema de Spener completo refere-se à triangulação de triângulos,
equivalente ao que foi nossa segmentação de segmentos. Ele diz:
Um
triângulo, cujos vértices estão marcados com os números 1, 2 e 3, é
dividido em triângulos e os novos vértices são numerados com esses três
algarismos, respeitando a seguinte condição de fronteira: todo novo vértice
que cair em um lado do triângulo maior levará um dos algarismos dos
extremos desse lado. Demonstra-se que pelo menos um dos triângulos da
partição está numerado com três algarismos distintos. E mais, o número
total desses triângulos é ímpar.
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A
partição deve ser tal que dois triângulos pequenos quaisquer, ou
não têm ponto comum, ou somente têm um vértice comum, ou têm um
lado comum. |
Emannuel
Sperner (1905-180)
foi um matemático alemão, que em 1928 demosntrou o lema da partição do
triângulo (e, em geral, do simplexo n-dimensional).
Um lema é, em Matemática, uma proposição simples que antecede um
teorema. O de Sperner antecede o teorema do ponto fixo.
Para maiores detalhes e extensões veja, Yu Shashkin. Pontos fixos.
Editora Mei, Moscou, 1991.
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Jaime Poniachik é um aficionado pela Matemática e editor de livros e revistas, alguns sobre Matemática recreativa. É editor responsável pela revista El Acertijo, publicada em Buenos Aires, Argentina, fonte de alguns dos probleminhas publicados pela RPM. |
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