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Nota
da RPM:
Recebemos
um artigo de Eduardo de Campos
Valadares que trata de somas de inteiros e de cálculos de áreas e
volumes por métodos geométricos. Considerando que o artigo contém
material interessante para o professor de Matemática do ensino
fundamental e médio, resolvemos publicar uma síntese dele, abordando
somas de inteiros e agregando também idéias semelhantes já publicadas
na literatura internacional.
Um
dos maiores prazeres que o ensino de Matemática pode proporcionar aos
alunos é o da descoberta (ou da redescoberta) de resultados matemáticos
já conhecidos a partir de material vista em aula. Iniciamos este artigo
com o problema clássico de calcular a soma dos
n
primeiros números naturais pelo método que Gauss teria utilizado
aos dez anos para somar de 1 a 100 de cabeça, para surpresa do seu
professor. Mostraremos ainda como calcular a soma dos quadrados dos
n
primeiros naturais e outros resultados interessantes. Se
a
soma dos
n
primeiros números naturais. O método utilizado pelo jovem Gauss
para calcular essa soma é bastante simples, embora engenhoso. Ele
escreveu a soma pedida e, embaixo, escreveu a mesma soma ao contrário
Somando,
obtemos
com
n
parcelas, ou seja,
A
demonstração a seguir usa essencialmente a mesma idéia.
I.
A soma dos
n
primeiros números naturais pode ser visualizada
geometricamente através da figura abaixo. Nela vê-se um retângulo
formado por bolinhas. A base do retângulo possui
bolinhas
e a altura tem n
bolinhas. No total, temos então
bolinhas.
Observe
agora que elas estão divididas em duas partes iguais pela linha
poligonal e em cada uma delas aparece a soma
. Obtém-se,
então, a fórmula da soma dos
n
primeiros números naturais.
Nota da RPM: A figura acima apareceu na coluna de Martin Gardner “Mathematical Games”, da Scientific American de outubro de 1973, junto com várias outras chamadas “look-see diagrams” e o autor cita que ela já era conhecida pelos gregos antigos. Posteriormente, figuras demonstrando resultados matemáticos conhecidos apareceram nas revistas Mathematics Magazine e The College Mathematics Journal, publicadas sob o título “Proofs without words” (Demonstrações sem palavras). Em 1993, as melhores demonstrações sem palavras dessas revistas foram reunidas por Roger Nelsen e publicadas no livro Proofs without words – Exercices in visual thinking pela MAA (Mathematical Association of America). Esse livro será a nossa principal referência neste artigo, doravante designado por [Pww]. II.
Uma outra forma de obter a soma dos
n
primeiros números naturais utiliza a figura a seguir e o conceito
de área. Observe que a soma
é
igual à área do triângulo grande (metade de um Quadrado de lado
n)
mais a metade de
n
quadrados.
A
soma dos
n
primeiros números ímpares pode ser visualizada através da figura
a seguir. O fato de que essa soma é igual a
já
era do conhecimento dos antigos pitagóricos, mas a figura é da autoria
de Nicômaco de Gerasa (um pitagórico tardio), que viveu em torno do ano
100 d.C. {Pww].
I. Considere inicialmente três “castelos” iguais como os da figura A. Cada um deles é formado por cubos unitários. Na figura B os três castelos foram reunidos e nota-se que o último andar possui apenas a metade dos cubos necessários para completar um paralelepípedo. A figura C mostra os cubos do último andar cortados horizontalmente pela metade, sendo a parte de cima (mais escura) utilizada para completar o paralelepípedo. Pela figura D vemos que a soma , que é o volume dos
II.
Uma
alternativa para calcular a soma dos quadrados de números naturais
consiste no seguinte. A parte clara da figura abaixo, os quadrados
superpostos de lados
1, 2, 3, ..., n,
representa a soma que denotaremos por
. Seja
.
Note
que a substituição de
por
no
somatório não afeta o resultado final, já que
. Portanto,
Uma abordagem geométrica semelhante permite determinar também
. Na
figura a seguir, é representada pela soma dos volumes de cubos de arestas
1, 2, 3, ..., n. Podemos
associar essa figura a uma mina a céu aberto onde a retirada de minério
deu origem a diversos terraços em forma de
L.
A área
do
i-ésimo terraço é obtida subtraindo-se da área do topo do cubo
correspondente,
, a
área
da
base do bloco cúbico de lado
, de
modo que
.
Nossa
tarefa consiste em obter o volume de minério que ainda resta na mina,
, supondo
que originalmente o local tivesse o formato de um bloco de dimensões
. Assim,
devemos subtrair do volume original,
, o
volume do minério já retirado. A contribuição do i-ésimo terraço,
, é
calculada multiplicando-se a área do terraço, denotado por
, pela
distância
, entre
o terraço e o topo da mina
. Somando
todos os
, notando
que a substituição, no somatório, de
por
não
altera o resultado temos:
. Obtemos,
então,
em
termos de
e
:
Sendo
r
um número positivo menor que
1,
quanto vale a soma infinita
? A
resposta pode ser obtida através de um desenho bastante engenhoso. Na
figura seguinte,
ASPQ
é um quadrado de lado 1
e
. A
reta PR
forma
o triângulo
PTS
no qual
(Essa última igualdade pode ser verificada construindo-se um novo quadrado de lado r obtendo o segmento de medida uma vez que a razão entre as medidas dos segmentos é
O
que cada umas das figuras abaixo pode mostrar?
Observação Demonstrações
visuais ou demonstrações de resultados algébricos que utilizam métodos
geométricos são interessantes para motivar os alunos e fixar resultados.
Em geral, geometria e álgebra são tratadas separadamente, mas, como
vimos aqui, idéias geométricas podem enriquecer o ensino de certos tópicos
de álgebra, tornando o aprendizado mais estimulante. É
certo que, para os alunos, as demonstrações visuais podem parecer, em um
primeiro momento, ter algo de “magia”. É importante que eles percebam
que a mágica é apenas aparente: a descoberta de um resultado matemático
é fruto de experimentação, dedicação e compreensão dos conceitos
envolvidos. Em
suma, demonstrações visuais de resultados algébricos podem ser úteis
como complemento de aprendizagem, sendo usadas com bom-senso sem exageros
e deixando clara a necessidade, no caso de números naturais, por exemplo,
do axioma da indução, para provar definitivamente certos resultados. __________ Agradecimentos
do autor Eduardo de Campos Valadares. O
presente artigo é especialmente dedicado ao Prof. Mozart Coutinho
Dolabela (in memoriam), que nos
constagiou com seu entusiasmo e visão criativa da Matemática. O autor
agradece ao Prof. Emmanuel A. Pereira pelas sugestões e a Allyson M.
Moreira pela elaboração das figuras.
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