O DIABO DOS NÚMEROS

Um livro de cabeceira para todos aqueles
que têm medo de Matemática.

Hans Magnus Enzensberger
Editora Companhia das Letras, 1997.
Título original: Der Zahlenteufel
Tradução: Sérgio Tellalori

O autor deste livro é um renomado poeta e intelectual alemão que colocou sua sensibilidade literária a serviço da divulgação da Matemática e do combate ao temor que tantas pessoas sentem só de ouvir falar em números, triângulos ou cálculos.

O livro foi escrito numa linguagem de conto de fadas, sendo de leitura fácil e agradável para leigos ou especialistas em Matemática. É uma pequena obra-prima, com impressão de qualidade rara: papel couché reflex, com ilustrações coloridas que dão ao livro um aspecto de clássico da literatura infantil.

Os dois personagens centrais são o garoto Robert de 11 anos e um simpático “diabo dos números” que aparece em doze sonhos de Robert, levando-o a descobrir aspectos que ele jamais imaginara existir na Matemática.

A maioria dos capítulos-sonhos trata de números: a seqüência de Fibonacci, o número áureo, números primos, números triangulares, o triângulo de Pascal e suas propriedades e até a convergência da série geométrica e a não-convergência da série harmônica. Alguns problemas de contagem são analisados de forma muito instrutiva, além de algumas propriedades geométricas de figuras planas e espaciais (a relação de Euler!).

Os temas acabam se relacionando ao longo dos capítulos: por exemplo, as propriedades do triângulo de Pascal aparecem na sétima noite e são recuperadas nas aventuras seguintes em várias ocasiões.

Sempre há, em cada capítulo, algumas contas e raciocínios lógicos para resolver alguns problemas motivadores. Por exemplo: de quantas maneiras Robert e mais dez amigos podem se sentar lado a lado num banco da escola? Quantos apertos de mão ocorrem quando um grupo de pessoas se despede? Qual é a figura formada no triângulo de Pascal pelos números múltiplos de 4? de 5?

No décimo primeiro sonho Robert percebe a diferença entre “conjecturar” e “demonstrar”.

Uma advertência quanto ao estilo: o autor, sendo um poeta e visando a um público leigo, escreve de maneira que pode chocar um purista em termos de rigor. Confesso que, no início, fiquei um pouco preocupado com o excesso de “liberdades de estilo”, mas no fim da leitura esse mal-estar havia passado: o livro é motivador e o estilo adequado a seus propósitos.

A tradução de Sérgio Tellalori e a revisão técnica dos professores do IME-USP, Iole de Freitas Druck e Carlos Edgard Harle, garantem a qualidade do texto em português. As licenças de estilo são do próprio texto original.

Eu faria alguns reparos: no capítulo em que potências são apresentadas como “números saltando” e os “saltos para trás” motivam o conceito de raízes, o texto fica confuso e parece sugerir que raiz de dezesseis é oito; o tempo para os coelhinhos da seqüência de Fibonacci se tornarem adultos não é o mesmo na figura e no texto.

Essas observações não tiram o mérito e o encanto do livro. Tenho depoimentos de várias crianças que o leram com proveito e prazer e suas mais de 250 páginas são uma demonstração de como fatos profundos e elegantes da Matemática podem ser apresentados ao público jovem de maneira sensível e agradável.

Cláudio Possani
IME – USP

 

     GEOMETRIA NA ERA DA IMAGEM E DO MOVIMENTO

Equipe do Projeto Fundão, UFRJ.

Coordenadoras: Maria Laura M. L. Lopes e Lilian Nasser.

Editora UFRJ, 1996.

Neste livro a equipe do Projeto Fundão do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro reuniu e reformulou alguns dos materiais produzidos de 1982 a 1992 dentro do SPEC/PADCT/CAPES. Resultou uma coleção de atividades para o ensino da Geometria no nível fundamental.

O suporte teórico das atividades propostas foi fornecido pelo modelo pesquisado a partir dos anos 50 pelo casal holandês Pierre e Dina Van Hiele, que identificou cinco níveis hierárquicos para o pensamento geométrico: visualização ou reconhecimento (nível zero); análise (nível um); síntese ou dedução informal ou  ainda ordenação (nível dois); dedução (nível três) e rigor (nível quatro).

A equipe do Projeto Fundão adotou os resultados da pesquisa dos Van Hiele, que indica a necessidade de o estudante passar pelos níveis anteriores antes de atingir as competências de determinado nível. As atividades apresentadas são sugeridas como um caminho que começa no pré-escolar e vai até o fim do ensino fundamental e conduz a uma sólida construção do edifício geométrico nos estudos posteriores. Após uma breve explicação da teoria dos Van Hiele, o texto separa as atividades nos seguintes tópicos: exploração dos alicerces do edifício geométrico; sólidos geométricos; figuras planas; áreas e perímetros de figuras planas; ângulo; transformações no plano; congruência.

Cada uma das seções traz, além da descrição das atividades, seus objetivos e comentários. Vale a pena destacar a simplicidade e o bom-gosto das tarefas propostas, bem como a preocupação constante com a atuação do professor.

Embora todas as seções do livro apresentem aspectos interessantes, destacamos duas delas: a de áreas e perímetros de figuras planas e a de transformações no plano.

Na primeira, a abordagem é diferenciada em relação àquela em que as fórmulas para o cálculo da área e do perímetro são memorizadas e usadas sem o aluno conferir um significado ao número obtido como resultado. Não se pretende definir “área”, mas vê-la como um atributo comum a uma classe de superfícies que pode ser medido, já que se estabelecem comparações entre superfícies. As tarefas propostas utilizam inicialmente os quadriculados e as peças do Tangram para construir o conceito de perímetro e área. Sugere-se ainda a possibilidade de usar outro material didático – o geoplano, descrito num apêndice do livro. Somente depois desse tipo de trabalho são propostas atividades destinadas à obtenção das fórmulas usuais das áreas de figuras planas.

Na seção Transformações no Plano, o livro destaca os aspectos da Geometria “na era da imagem e do movimento”. Enfatizando que em condições ideais aqui se deveriam usar os recursos da informática, mostra-se que mesmo sem esses recursos é possível realizar um bom trabalho. As atividades envolvem o reconhecimento das simetrias, passando em seguida às isometrias do plano – reflexões, translações e rotações. Chama a atenção a apresentação de numerosos logotipos para que neles sejam reconhecidas simetrias e outras transformações.

O trabalho da equipe do Projeto Fundão vem proporcionar aos professores alternativas simples e de baixo custo para uma abordagem natural da Geometria, capaz de permitir um desenvolvimento posterior mais formalizado. O livro torna-se assim um recurso de grande valor para que seja promovido um ensino de Geometria interessante, agradável e correto.

 

Maria Laura Magalhães Gomes
UFMG