Flávio Wagner Rodrigues
IME-USP
 

Os leitores da RPM que estão hoje na casa dos 30, muito provavelmente tiveram seus primeiros contatos com a Matemática aprendendo noções sobre conjuntos e estruturas algébricas. As idéias da chamada Matemática Moderna que surgiram na década de 60 recomendavam que essas noções fossem introduzidas no início do aprendizado. Essa onda durou até o final dos anos 70 e teve opositores ferrenhos e defensores exaltados.

Na edição latino-americana da revista Time de 25 de agosto de 1997 o cenário está pronto para uma nova batalha que promete repetir aquela que se travou envolvendo a Matemática Moderna. Na reportagem intitulada  This is Math?  a revista descreve os novos métodos que vêm sendo utilizados nos Estados Unidos, especialmente no estado da Califórnia.

O objetivo seria tornar a Matemática mais interessante para o estudante, trocando a tabuada e a memorização de teoremas pela discussão de problemas em grupo utilizando calculadoras e materiais didáticos apropriados.

O novo método, chamado de matemática inventiva ou iterativa, pretende ensinar as crianças a pensarem por si mesmas, contribuindo assim para desenvolver  seu  raciocínio  matemático.

Os opositores, que chamam ironicamente o método de  new new Math, argumentam que os estudantes podem estar gostando muito dos jogos e problemas, mas que é questionável se eles estão mesmo aprendendo alguma coisa.

O governo americano que está investindo 10 milhões de dólares por ano no novo programa espera que ele contribua para melhorar o desempenho dos estudantes americanos com relação aos seus colegas dos tigres asiáticos.

Para acalmar os pais enraivecidos que reclamam que bons estudantes precisam de uma calculadora para saber quanto é 10% de 470, o estado da Califórnia está propondo aulas tradicionais de Matemática como opção no currículo escolar.

É interessante observar que, quase sempre, situações como essa conduzem a uma radicalização de posições. De um lado, os proponentes do novo método, com o objetivo de convencer a comunidade (e também de obter recursos para o projeto), adotam a posição dogmática de que fora dele não existe salvação. Por outro lado, os oponentes partem do princípio de que as novas idéias não passam de um amontoado de asneiras.  

Do ponto de vista prático isso impossibilita chegar a um consenso intermediário que permita o aproveitamento de uma ou outra eventual boa idéia que porventura o novo sistema possa conter.

Resta-nos aguardar os acontecimentos lembrando a experiência passada com a Matemática Moderna e o filósofo Santayana, segundo o qual os povos que não aprendem com sua história estão fadados a repeti-la.