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Geraldo
Ávila
Os
autores de livros didáticos, ao tratarem da circunferência, da elipse e
da hipérbole, cometem excessos e omissões. Assim, no caso da circunferência,
eles se preocupam em pesquisar a equação geral do 2o
grau, em x
e y,
para
determinar as condições que os coeficientes devem satisfazer para que a
equação represente uma circunferência. Ora, isso é desnecessário;
basta observar que a condição
necessária e suficiente para que um ponto
pertença à circunferência
de centro
e raio r
é que
satisfaça a equação
, ou
seja,
. Daqui
decorre que a equação de qualquer circunferência é do tipo
as
coordenadas do centro sendo dadas por
e
, e o raio por
propósito, a RPM 29 traz um interessante artigo
do Professor Elon Lages Lima, no qual ele aponta erros em que incorrem os
livros ao discutirem essa equação (1).
Os
mesmos autores, ao tratarem a elipse, provam que se
o ponto
pertence
à elipse de semi-eixos a
e b, disposta simetricamente em relação aos dois eixos de
coordenadas, então
satisfaz
a equação
Mas
isso não basta para provar que essa é a equação da elipse; é preciso
demonstrar também a recíproca: se
satisfaz a equação (2),
então esse ponto pertence à elipse
de semi-eixos a e b,
disposta simetricamente em relação aos eixos de coordenadas.
Essa omissão não acontece só nos livros do ensino médio, mas também
nos livros universitários de Geometria Analítica. Faremos adiante a
demonstração desse fato.
Primeiramente
vamos recordar alguns pontos para compreensão do que vem a seguir. A
elipse costuma ser definida como sendo o
lugar geométrico dos pontos P do plano, cuja soma das distâncias a dois pontos fixos
F e F'
é constante. Isso
significa que, se P, P'
, P''
etc. são pontos da
elipse, então (Figura 1):
Os
pontos
F
e F'
são os focos
da elipse e o ponto médio do segmento
FF'
é o seu centro.
Pondo
e
, e notando que
a
equação da elipse,
(3), assume a forma
Para
eliminarmos os radicais, elevamos ambos os membros dessa equação ao
quadrado, donde resulta
ou
ainda, após simplificações,
O
radical desaparece com uma nova operação de elevar ao quadrado:
isto
é,
que
equivale a
Observe
que
; logo, pondo
e dividindo ambos os
membros de (8)
por
, obtemos finalmente a equação
Voltamos
a insistir em que ainda não podemos dizer que esta é a equação da
elipse, pois provamos apenas que ela é condição
necessária para que um ponto
pertença à elipse.
Falta provar que a condição é suficiente, como faremos logo adiante.
O
que acabamos de fazer foi provar que
(3) Þ (9). Devemos estabelecer a recíproca
Feitas
essas observações, fica fácil demonstrar de vez que
(9)
(3), o que engloba a recíproca
(9) Þ (3). Começamos
observando que as equações (3) e (4)
são idênticas, (4) sendo apenas outra maneira de escrever a
(3). As equações (4) e (5) são
equivalentes porque já sabemos, de antemão, que
d
e
são números
positivos, quaisquer que sejam os valores de
x e y; d e
desempenham aqui os
mesmos papéis que a
e b desempenham em (10). As equações (5) e
(6) são equivalentes
porque (6) resulta de
(5) por simplificações
todas reversíveis. Vejamos agora a passagem de
(6) a (7): os parênteses
no radical de (6)
são
e
, positivos; e é também positivo o membro direito de
(6), de forma que
(6) e
(7) são equivalentes pela mesma razão que prova a equivalência
de (4)
e (5). Finalmente,
(9) resulta de
(7) por transformações
todas elas reversíveis. Isso completa a demonstração de que
(3) e (9) são
equivalentes.
O
caso da hipérbole é análogo ao da elipse. Vejamos: a hipérbole é
definida como sendo o lugar geométrico
dos pontos P do plano, cuja diferença das distâncias a dois pontos fixos
F
e
F'
é uma constante
2a
. Mas a hipérbole possui dois ramos (Figura 4), conforme seja
Essa
equação é a análoga da (4). A partir dela, procedendo como no caso da
elipse, somos levados, sucessivamente, às seguintes equações:
Observe
que, enquanto no caso da elipse,
, agora, no caso da hipérbole,
. Pondo, então,
, a última equação nos dá,
após divisão por
:
As
equivalências (12)
(13), (13)
(14) e
(14)
(15) são
justificadas como no caso da elipse. Falta provar que
(12) Þ
(11), visto que já
provamos (11)
Þ (12) ao
deduzirmos esta última equação. Mas a prova de que
(12) Þ
(11) segue por extração
da raiz quadrada de (12). De
fato, ao fazermos isso, obtemos as duas possibilidades indicadas em (11) pelo duplo
sinal do 1o membro. Observe que ambas essas
possibilidades conduzem a valores positivos do 1o
membro, cada um correspondendo a um ramo da hipérbole; num caso temos
; no outro,
. |