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A publicação desse livro merece ser comemorada por todos os entusiastas da Matemática e pelas pessoas interessadas no seu ensino e divulgação. Há muito tempo não se publicava, no Brasil, um livro de divulgação em Matemática de leitura tão agradável e acessível a um público amplo. O autor é engenheiro formado pelo ITA, foi professor e atualmente é presidente da Nec do Brasil. O livro, de 255 páginas, está dividido em 23 capítulos, cada um dedicado a um aspecto específico da Teoria das Equações Algébricas. Os primeiros capítulos explicam o que é uma equação, o que é uma equação algébrica, e analisam as primeiras manifestações da Matemática na história do pensamento humano. A partir daí o autor apresenta aspectos importantes da história das idéias matemáticas tendo como linha central o desenvolvimento da Teoria das Equações Algébricas. Vale destacar que o autor, além de apresentar os aspectos históricos de cada tópico abordado, também apresenta os conteúdos matemáticos associados. Assim, por exemplo, além dos aspectos fascinantes que envolveram a descoberta das soluções das equações do 3o grau (no capítulo “A disputa entre Tartaglia e Cardano”), o livro apresenta de forma bastante clara o método de resolução dessas equações. O mesmo ocorre em outros capítulos. Seguindo o roteiro mencionado, o livro aborda as equações do 4o grau, o aparecimento da Geometria Analítica, do Cálculo Diferencial e dos Números Complexos, o Teorema Fundamental da Álgebra e o trabalho de Gauss sobre o assunto e chega até o conceito de números algébricos e transcendentes. O capítulo dedicado à vida e à obra de Galois e Abel é excelente em todos os sentidos. Sua leitura me proporcionou momentos de uma agradável reflexão sobre a Matemática e a maneira como os matemáticos vivenciam sua paixão por essa ciência. O último capítulo trata de alguns temas interessantes de Matemática e que não se enquadram no tema central do livro: Tales e semelhança de triângulos; Euclides e números primos; Eratóstenes e a circunferência da Terra; Arquimedes, o número p e o volume da esfera; Pascal e a esfera; Roberval e a ciclóide; Leibniz e o sistema binário; Newton, Euler e séries. Recomendo, com convicção, a leitura do livro: o conteúdo é ótimo, com informações históricas precisas e o estilo despojado de tecnicidades é muito agradável.
Claudio Possani
A inteligência dos homens contada pelos números e pelo cálculo. Tomo I Georges Ifrah Editora Nova Fronteira, 1997 Título original: Histoire universalle des chiffres Tradução: Alberto Muñoz e Ana Beatriz Katinsky
De onde vêm os algarismos? Quem inventou o zero? Como calculavam os romanos com seus algarismos? Essas e outras perguntas bombardearam certa manhã o jovem professor Georges Ifrah quando se propunha a dar uma aula a seus alunos de um liceu da França abordando os sistemas de numeração. Consciente da sua ignorância, o professor desculpou-a diante de si próprio pelo fato de a questão a respeito dos algarismos estar ausente tanto dos livros de Matemática com os quais trabalhava, quanto dos textos de História que falavam das mais diversas criações da humanidade. Se o professor de Matemática tiver em suas mãos o verdadeiro tesouro que representa esse livro, definitivamente não passará pelas dificuldades relatadas por seu autor, que, ao constatar que a curiosidade de seus alunos era maior do que tinha sido a sua até então, decidiu lançar-se na aventura praticamente infindável de pesquisar as origens e a evolução da grande invenção dos algarismos. Visitando os locais onde se desenvolveram as mais variadas civilizações, museus e bibliotecas do mundo todo, devorando toda a literatura que lhe passava pela frente, entrevistando pesquisadores e professores de todas as disciplinas, Ifrah vem se dedicando desde aquela época a conhecer a realização humana dos números nos cinco continentes. O resultado desse trabalho, que não considera encerrado, é esse livro “que propõe a um público amplo, de uma maneira razoavelmente confiável, em termos simples, por texto bem como por imagem, sem exigir conhecimentos matemáticos e pedindo além disso um pouco de atenção, uma história aproximadamente universal e sintética dos algarismos e do cálculo, ordenando e encadeando os fatos num sistema lógico-cronológico” (palavras da introdução do livro). O período coberto pela obra se estende da pré-história à era dos computadores; esse primeiro volume termina anunciando o feito da genial civilização indiana que, conjugando três idéias básicas – sinais gráficos aperfeiçoados, o princípio da posição e um zero com sentido simultâneo de número nulo e de marca do vazio nas unidades de certa posição –, atingiu a perfeição das numerações escritas. O livro, ampliação quintuplicada de um trabalho anterior, a Histoire universalle des chiffres, de 1981, é uma enciclopédia que pode ser consultada em qualquer ordem, dependendo do interesse do leitor. Os vinte e três capítulos se aprofundam no tratamento dos aspectos das simbolizações concretas, orais e escritas dos números; fornecem explicações claras sobre as bases e o princípio posicional; mostram uma profusão de ilustrações feitas pelo próprio autor; podem satisfazer a curiosidade de todos os tipos de leitores. Como ilustração particularmente interessante dessa riqueza, citamos o capítulo IX, “A enigmática base sessenta”, no qual são apresentadas várias hipóteses para explicar a origem da escolha dessa base pelos povos sumérios. Na opinião de Ifrah, embora não se tenha podido obter uma prova, essa explicação é dada pela fusão de duas culturas – a originária da própria Mesopotâmia, que usava a base cinco, e a dos sumérios, estrangeiros que vieram para a região no quarto milênio antes de Cristo, que contavam na base doze. A razão da base cinco é a contagem numa mão, enquanto a origem da base doze pode ser explicada pela contagem usando as três articulações (falanges) de cada um dos quatro dedos da mão excluindo-se o polegar.
A seguinte técnica digital descrita no
livro faz aparecer a base sessenta: 1) Na mão direita conta-se de 1 a 12 apoiando o polegar sucessivamente em cada uma das três falanges dos outros quatro dedos da mesma mão. 2) Dobra-se então o dedo mínimo esquerdo para marcar a primeira dúzia. 3) Volta-se à primeira mão e prossegue-se a contagem de 13 a 24, repetindo a técnica e dobrando-se o anular esquerdo para assinalar a segunda dúzia. 4) Repetindo-se o processo dobrando o dedo médio, o indicador e o polegar da mão esquerda, chegamos ao sessenta. A base 60 ter-se-ia imposto como grande unidade de contagem graças à combinação de dois sistemas manuais. Com a História universal dos algarismos, Georges Ifrah compartilha suas descobertas e seu amor pelo conhecimento de uma das maiores criações do ser humano com um público potencialmente muito amplo. Esperamos ansiosamente pelo tomo II.
Maria Laura
Magalhães Gomes
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