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GM
de La Penha Um
ramo da matemática do qual EULER pode ser dito um dos fundadores é hoje
conhecido por “Teoria dos Grafos”, uma parte hoje adulta e
independente da “Topologia”. Esta é, grosseiramente, o estudo das
formas das figuras geométricas e das propriedades qualitativas das
transformações continuas entre tais figuras; o século XVIII a conheceu
como Geometria Situs e mais tarde a denominação topologia
combinatória se disseminou até advir a enorme expansão do assunto neste
século praticamente dissociando-a de suas origens. Em um artigo clássico
de 1736, EULER buscava solucionar um jogo particular, o das sete pontes de
Konigsberg1 (Prússia de então, hoje Kaliningrado, Rússia) constituindo
no seguinte: dadas duas ilhas no rio Pregel, ligadas entre si e ás
margens do rio, por sete pontes, começando em qualquer das quatro áreas
de terra, e sem nadar, voar ou dar a volta ao mundo, cruzar cada uma das
pontes uma única vez e voltar ao ponto de partida. A contribuição de EULER no caso, foi de fato a demonstração de que o problema não admite solução. Isso se depreende (não se constituindo em demonstração) ao tentarmos orientar (percorrendo em mão única e apenas uma vez cada segmento) o esquema simplificado (grafo) da figura, chegando sempre a uma inconsistência (contramão).
Porém como era do seu feito, EULER generalizou seu resultado e enunciou seu teorema em três regras.
De maneira concisa pode-se dizer que uma rota do tipo
especificado (conhecida como “percurso EULERiano”) é possível se e
somente se o número de áreas
servidas por um número impar de pontes é 0 ou 2. Koingsberg tinha quatro
áreas servidas por cinco, três e três pontes respectivamente, de modo
que nenhum trajeto EULERiano era possível; não obstante, a destruição
de pontes pelas guerras, sua reconstrução e a feitura de uma outra mais
recente modificou o problema original, a solução global de EULER
se manteve e, no presente, o problema apresenta um percurso
EULERiano. Concluindo seu artigo, EULER fez mais: mostrou como após haver
sido estabelecida a existência de uma solução, a rota pode ser
determinada. Nota-se que a cidade de Koingsberg não entrou para a Matemática
apenas devido às suas pontes. Ela foi o berço do grande filósofo KANT
(1724-1804) que além de divulgador dos trabalhos de NEWTON na Prússia de
então, veio a deduzir sua própria Metafísica a partir dos estudos filosóficos
de seu contemporâneo EULER, cujo trabalho principal nessa área, só veio
a ser devidamente assimilado após o surgimento das Geometrias não
EUCLIDIANAS (Veja RPM 2 (1983) 28-31) e da Relatividade, isto é,
respectivamente, cem e duzentos anos após sua época. Também o eminente
matemático HILBERT (1862-1943) nela nasceu enquanto JACOBI (1804-1851),
WEIERSTRASS (1815-1897) e H. MINKOWSKI (1864-1909), este mais conhecido em
Física, dentre outros, foram matemáticos ilustres ligados à
Universidade dessa pequena cidade. Dentre as mais
conhecidas descobertas de EULER está aquela contida na fórmula
que relaciona o número de vértices, áreas e faces de um poliedro2.
É tão simples que nos faz pensar ter sua origem nos geômetras gregos
embora na época estivesse sepultada, com desconhecimento por EULER, em um
manuscrito inédito de DESCARTES de 1635. EULER a expôs em uma carta de
1750 dirigida a GOLDBACH (1690-1764) – um prussiano enérgico e
inteligente, para o qual a Matemática era uma distração, o reino das
letras uma ocupação e a espionagem um meio de vida mas que deixou seu
nome registrado na Matemática com um conjectura até hoje não totalmente
comprovada. De fato, não foi senão em 1752 que EULER veio a demonstrá-la
corretamente ao exibir uma prova por dissecção: cortou peças tetraédricas
do sólido até que um único tetraedro restasse. Desde então, demonstrações
mais rigorosas têm sido obtidas e o teorema generalizado de muitas
maneiras. Assim, EULER havia aberto a trilha em um novo território com vértices,
arestas e faces ligadas por: aplicável
a certos poliedros bem comportados (convexos ou simples) porém não a
“monstros” poliédricos como os da figura.
No entanto,
, serve, em um contexto mais, geral, exatamente para definir um número
importante, que se presta à classificação das superfícies, chamado
“característica de EULER” sendo, como usado por H. POINCARÉ
(1854-1912), um dos principais invariantes da moderna Topologia. Todos os poliedros
bem comportados têm
e não é a toa que essa é
característica da superfície de uma esfera; certamente os gomos e as
costuras de uma bola de futebol lembrarão ao leitor a conexão. De fato,
não há outros poliedros regulares ou Platônicos sujeitos
a condição de característica 2 que não são os seguintes: cubo,
tetraedro, octaedro, dodecaedro e o icosaedro.
1N. da R.: Konigsberg era
uma pequena cidade da Alemanha. Havia 7 pontes cruzando o rio Pregel
que corria sinusiosamente através da pequena cidade. “O povo
simples da Alemanha gostava de dar seus passeios e por cima de seus
canecões de cerveja perguntavam: como poderá alguém planejar seu
passeio na tarde de domingo de tal forma que passe por todas as 7
pontes sem voltar a cruzar qualquer uma delas?... Muito longe, em S.
Petersburgo, Euler veio a saber deste problema e o resolveu com sua
habitual agudeza...” Extraído de Matemática e Imaginação.
E. Kasner e J.
Newman. Zahar Editores. 2 V. Teorema de Euler, pág. 15 |