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Todos os objetos do mundo físico em que vivemos possuem
alguma forma, algum tamanho ou ocupam alguma posição no espaço. Medir (qual é a altura daquela
torre?), examinar formas (a Terra é redonda?), comparar tamanhos (a água
deste copo cabe naquela xícara?) analisar posições (a rua A é
perpendicular ou paralela à rua B?), são preocupações cotidianas do
ser humano. Geometria é a ferramenta que ele criou para estudar estes
problemas. Algumas das formas encontradas ao
nosso redor são formas geométricas clássicas, conhecidas, estudadas e já
receberam nomes: o dado é cúbico, a bola de futebol é esférica, a lata
de cerveja é cilíndrica, ao azulejo é quadrado, etc. Podemos contrapor a estas, a forma
de uma pedra, por exemplo, que, em geral, é irregular
Muitos são os
objetos e coisas de
forma poliédrica. Esta é “bem definida”. Os poliedros são sólidos
delimitados por faces planas poligonais.
As latas de cerveja não têm forma
poliédrica, pois são delimitadas por uma
superfície cilíndrica não plana. O cone e a esfera também não
são poliedros.
As formas poliédricas são
encontradas na natureza. Os alvéolos que compõem o favo de mel das
abelhas européias são poliédricos.
Estes alvéolos lembram prismas
hexagonais que se encaixam perfeitamente compondo o favo de mel.
Prismas triangulares e prismas de
base quadrada também se encaixam (os prismas regulares pentagonais também
se encaixam perfeitamente bem?). Entretanto, com os alvéolos hexagonais
as abelhas obtêm, para uma certa quantidade de cera, um máximo de espaço.
(Tente provar isto!). (Nos textos de matemática do
Telecurso 1º grau – aulas 47 e 66 – discute-se esta questão). Algumas abelhas silvestres constróem
colméias com uma “arquitetura” diferente da das abelhas européias.
Elas armazenam o mel que produzem em pequenos potinhos cuja forma é a de
um poliedro pouco conhecido: o octaedro truncado. Para obtê-lo, comecemos por um octaedro cujas arestas foram divididas em três partes iguais (Fig. a). Agora vamos seccionar (truncar) cada uma das suas seis pontas, como mostra a figura seguinte (Fig. b). Retirando as 6 pontas sobra o octaedro truncado. (Fig. c).
Quantos vértices, arestas e faces
possui este poliedro? Esta é a forma dos potinhos onde
aquelas abelhas silvestres guardam o seu mel. Uma propriedade
muito interessante do octaedro truncado é que se tivermos vários
deles, do mesmo tamanho, podemos empilhá-los, numa aglomeração
perfeita, que não deixa espaços vazios:
É assim que ficam empilhados os
potinhos de mel daquelas abelhas silvestres. Diversos cubos de mesmo tamanho também
podem ser aglomerados sem deixar espaços vazios. Será possível empilhar
octaedros regulares sem deixar espaços vazios? Mais uma propriedade muito
interessante do octaedro truncado: de todos os poliedros que podem ser
aglomerados sem deixar vazios ele é o mais econômico: para uma dada
superfície ele é o de maior volume. Como poderíamos provar isto?
Podemos lhe garantir que não é muito simples. Como se vê, as abelhas
são mestres em Economia!
Dentre as infinitas formas poliédricas,
existem algumas que, pelo seu “equilíbrio”, pela sua simetria, há
muito tempo exercem fascinação sobre os homens. Como exemplo podemos
citar a forma poliédrica das pirâmides egípcias. E dentre estas formas
“esteticamente harmoniosas” destacam-se os poliedros regulares. Assim
são chamados aqueles poliedros convexos
que satisfazem simultaneamente às seguintes condições: a)
todas as faces do poliedro são polígonos regulares congruentes
entre si; b)
de cada vértice do poliedro parte o mesmo número de arestas. Assim, por exemplo, o cubo é um poliedro regular:
O paralelepípedo retângulo (forma
da caixa de fósforo) é um poliedro regular? Imagine um poliedro tal que, de cada
vértice parte o mesmo número de arestas, mas suas faces não têm
todas o mesmo número de lados. Ele será regular? É possível provar que só existem
cinco tipos de poliedros regulares. Esta demonstração costuma ser
encontrada nos textos de Geometria Elementar.
Os cinco poliedros regulares já
eram conhecidos pelos geômetras da Grécia Antiga. Como se vê, há séculos
que estas formas geométricas encantam os homens. Este encantamento não
é só no plano abstrato das idéias. Estas formas aparecem nos cristais
da natureza e é possível que os geômetros gregos conhecessem tais
cristais. Mais incrível ainda é que os cinco poliedros regulares são
encontrados nas estruturas dos radiolários que pertencem ao plâncton
marinho.
Em fins do século XVI, Kepler usou
os poliedros regulares numa imaginosa explicação sobre os movimentos dos
astros. Na época eram conhecidos apenas seis planetas do sistema solar:
Mercúrio, Vênus, Terra , Marte, Júpiter e Saturno. Kepler acreditou que
“nada no mundo foi criado por Deus sem prévio planejamento”. Na sua
primeira obra, intitulada Mysterium Cosmographicum, Kepler explica
o sistema planetário: O Sol está no centro de uma esfera e a órbita da
Terra é uma circunferência máxima desta esfera. Agora imaginamos um
dodecaedro regular circunscrito a esta esfera (suas 12 faces tangenciam a
esfera). Agora consideramos uma outra esfera circunscrita a este
dodecaedro (esta outra esfera passa pelos vértices do dodecaedro). A órbita
de marte está contida nesta esfera. À esfera de Marte circunscrevemos
um tetraedro regular e a seguir consideramos a
esfera circunscrita ao tetraedro. Nesta, teremos a órbita de Júpiter. Imaginemos o cubo circunscrito à
esfera de Júpiter e a esfera circunscrita a ele. Nesta última estará a
trajetória de Saturno. Assim ele explica as órbitas dos planetas que, em relação ao Sol, estão mais afastadosdo que a Terra. Para explicar as órbitas de Mercúrio e Vênus, que estão entre o Sol e a Terra, ele age de modo análogo usando o octaedro (circunscrito à esfera de Mercúrio) e o icosaedro (circunscrito à esfera que envolve o octaedro – é nesta esfera que está a órbita de Vênus). A esfera correspondente à Terra circunscreve o icosaedro.* Aos olhos de quem vive no século
XX, na era das viagens espaciais, as idéias de Kepler parecem, sem dúvida,
bastante fantasiosas. Ele próprio as destruiu, ao descobrir, que as órbitas
planetárias são elípticas.
Já vimos que as casas das abelhas são
poliédricas. Nossas casas também, em geral, são poliédricas.
Esquematicamente, muitas casas podem ser pensadas como combinação de
paralelepípedo retângulo e prisma triangular (telhado). As estruturas poliédricas têm muita importância na Arquitetura. Existe um livro bastante interessante, escrito por dois arquitetos brasileiros, e que revela uma série de aplicações muito interessantes dos poliedros na Arquitetura: Geodésicas & Cia, de Vitor Amaral Lotufo e João Marcos A. Lopes.[2] A ilustração seguinte foi retirada
da referida obra e mostra uma casa poliédrica. As geodésicas que dão titulo ao livro, são estruturas poliédricas,
de faces triangulares, com todos os vértices sobre uma esfera (a esfera
circunscrita ao poliedro). Existe um parque de diversões em São Paulo, o
Play-Center, onde se pode ver uma bonita geodésica. Geodésica no Play-Center (São Paulo)
Vamos enchê-lo de ar até que vire
uma esfera. Observe bem este poliedro. De todos
os seus vértices partem 6 arestas? Ele é um poliedro regular? As estruturas geodésicas vêm tendo
uma importância crescente na Arquitetura. São leves, econômicas e versáteis.
No dimensionamento destas estruturas, os Arquitetos usam muita Matemática!
Nas aulas de Geometria costumamos
pedir aos nossos alunos que construam poliedros de cartolina. Está é,
sem dúvida, uma tarefa importante para um bom aprendizado da Geometria.
Também podem ser construídos, de cartolina, o cilindro e o cone. Dizemos então que os poliedros, o
cilindro e o cone têm superfícies planificáveis. Não podemos construir uma superfície
esférica desta maneira, pois esta não é planificável. E este não é
um problema que afeta somente os matemáticos. As fábricas de bola de
futebol também são atingidas por ele! Observe esta bola de futebol. Trata-se de um poliedro inflado. Tal
poliedro é o icosaedro truncado, que possui 60 vértices, 90 arestas e 32
faces, sendo 12 pentagonais e 20 hexagonais.
De que maneira devemos seccionar
(truncar) um icosaedro para obter aquele icosaedro truncado? Quem diria: até chutando bola
estamos envolvidos com os poliedros!
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