Eduardo Wagner
Rio de Janeiro, RJ

Neste mesmo número da RPM, o professor José Paulo Carneiro nos mostra uma elegante demonstração da desigualdade de Cauchy-Schwarz para o caso  n = 2:

 

onde   a1, a2, b1 e b2   são reais quaisquer.

Entretanto, é natural a curiosidade sobre o caso geral. Vamos, neste artigo, mostrar uma demonstração simples (sem recursos da Álgebra Linear) e algumas aplicações do caso geral dessa desigualdade.

TEOREMA:

Dados 2n  números reais:   a1, a2, . . . ,an, b1 b2, . . . ,bn,  temos:

valendo a igualdade se, e somente se,

Demonstração:

Inicialmemte, vamos observar que, para dois reais quaisquer a e b,  temos:

valendo a igualdade se, e só se,   a = b. Façamos agora

e consideremos os números

Observe que

Temos então as desigualdades:

Somando, obtemos

 

Portanto,

como queríamos demonstrar.

Observemos ainda que a igualdade vale se, e somente se,


 

EXEMPLOS

Vamos começar com um problema que, aparentemente, não tem relação com o que acabamos de demonstrar.

1) Em um trapézio de bases a e b, determinar o comprimento x de um segmento paralelo às bases que divida esse trapézio em dois outros de mesma área.

A figura ao lado ilustra o enunciado do problema.


Para resolver, prolongamos os lados opostos não paralelos do trapézio para formar três triângulos semelhantes: o menor de área A e base b, um outro de área A + S e base x, e o maior de área A + 2S  e base  a.

Como as áreas de figuras semelhantes são proporcionais aos quadrados dos segmentos homólogos (correspondentes), temos:

Utilizando a seguinte propriedade elementar das proporções:

Está resolvido o problema. O segmento que divide um trapézio em dois outros de mesma área foi determinado.

Vamos agora observar o seguinte. A base média do trapézio (segmento equidistante das bases) tem comprimento (a + b) / 2 . Essa base média divide o trapézio em dois outros onde a área do "de cima" é claramente menor que a área do "de baixo". Então, o nosso segmento x certamente está abaixo da base média do trapézio.

Isso tudo mostra claramente que

Essa é a desigualdade entre a média aritmética e a média quadrática de dois números e, mais uma vez, tivemos a oportunidade de mostrar um resultado sobre números reais positivos "usando áreas".

Podemos, entretanto, demonstrar a desigualdade entre as médias aritmética e quadrática a partir da desigualdade de Cauchy-Schwarz. Vejamos.

Temos, no caso   n = 2, que

Dividindo tudo por 2, temos

como queríamos demonstrar.

O leitor deve reparar, neste ponto, que a mesma ideia que utilizamos para  n = 2  demonstra, no caso geral, que   .

valendo a igualdade se, e somente se,   a1=  a2 =  . . .  =  an.

O segundo problema será deixado como exercício para o leitor.

2) Prove que para quaisquer números reais positivos  a1, a2, . . . an ,

Sugerimos ao leitor tentar demonstrar essa desigualdade para n = 2 e, em seguida, o caso geral utilizando a desigualdade de Cauchy-Schwarz.


 

O Último Teorema de FERMAT

A equação xn + y n = z n   não tem solução em inteiros para nenhum expoente n 3.

Muitos leitores nos têm escrito a respeito desse teorema.

Alguns leram nos jornais que o teorema havia sido finalmente demonstrado e perguntam se é verdade. Outros pedem que a RPM publique a demonstração. Vez por outra, alguém envia uma "demonstração" para a RPM.

Reproduzimos aqui, em destaque, as palavras de Geraldo Ávila, tiradas do primeiro artigo desta RPM (p. 4).

.. .outra (conjectura) é o chamado último teorema de Fermat (veja RPM 16, p. 14), de formulação muito simples, mas que vem desafiando os matemáticos por mais de três séculos, e que, nos últimos anos, vem sendo resolvida no contexto de uma ampla teoria pertencente a duas importantes e difíceis disciplinas matemáticas, a Teoria dos Números e a Geometria Algébrica. Dizemos "vem sendo resolvida" porque, de fato, várias vezes a solução foi anunciada para, logo em seguida, revelar falhas. O "teorema" parece finalmente demonstrado, mas, no momento em que escrevemos, está ainda sob verificação dos especialistas.