Vera Helena Giusti de Souza
IME-USP
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RPM - O leitor pergunta
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Paulo, SP
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- Um leitor de Jataí, GO, pergunta sobre Diofante.
RPM: Pouco se sabe sobre a vida do grego Diofante. Crê-se que
tenha vivido em Alexandria, por volta de 250 d.C. Sua grande obra,
Arithmetica,
tem 6 volumes preservados, mas acredita-se que foi escrita
em 13 volumes.
Quanto ao seu trabalho matemático, destacamos alguns pontos
interessantes:
Embora escrita em grego, sua obra não apresenta as mesmas
características dos trabalhos gregos do período - por exemplo, seu
enfoque na Álgebra, incipiente na Matemática grega da época, ou,
ainda, sua
não-preocupação com métodos gerais. Assim, a resolução
de equações indeterminadas do tipo
Ax2+ Bx + C = y2, ou
Ax3 +
Bx2
+ Cx + D = y2,
consistia em obter uma solução e não se
preocupar com as demais. Entre
as equações que estudou estão, por
exemplo, x2
26y2 = 1 e x2
30y2 =
1, hoje conhecidas como
equações de Pell.
Diofante só se interessava por soluções racionais positivas, não
aceitando as negativas ou as irracionais.
Na obra de Diofante encontramos pela primeira vez o uso sistemático
de símbolos algébricos. Equações algébricas são expressas
por
símbolos algébricos e seu tratamento é puramente analítico, desvinculado
de métodos geométricos. Identidades como (a + b)2 =
a2 + 2ab + b2, que, para Euclides,
eram teoremas da Geometria, para
Diofante eram conseqüências imediatas das propriedades algébricas das
operações.
Diofante era muito hábil no manuseio algébrico. Por exemplo,
para calcular dois números, sabendo que a sua soma é 20 e a
soma
de seus quadrados é 208,
ele representava esses números por 10
x
e 10
+
x e não por x e y. Tal
procedimento, em muitos casos,
simplificava a resolução de um problema.
Outro problema abordado por ele: dividir um quadrado em
dois quadrados,
isto é, encontrar inteiros a, b e c tais que a2
+
b2
=
c2, parece ter despertado a atenção de Fermat, que, ao ler a
cópia
do livro de Diofante, fez diversas anotações nas margens, entre elas
o famoso "último teorema de Fermat" (v. RPM 15, p. 14 e nesta
revista p. 20).
Os problemas estudados por Diofante são problemas indeterminados que exigem soluções inteiras (ou racionais) positivas e envolvem, em geral, equações de grau superior ao primeiro. Mesmo assim,
hoje em dia, equações indeterminadas do primeiro grau, com coeficientes
inteiros, são chamadas equações diofantinas em homenagem
ao pioneirismo de Diofante nessa área.
A título de curiosidade, reproduzimos um problema que apareceu sob forma de poema no quinto ou sexto século. Ele permite calcular quantos anos Diofante viveu:
Diofante passou 1/6 de sua vida na infância, 1/12 na juventude
e mais 1/7 antes de se casar; 5 anos após seu casamento, nasceu um filho
que morreu 4 anos antes do pai com
a metade da idade
que este tinha ao morrer.
(Para redigir essa resposta, e por estarem à mão, os seguintes livros foram
consultados:
[1] BOYER,
C.B. História
da Matemática.
São Paulo,
Edgar Bliicher, 1974.
[2]
CAJORI,
F. A history of Mathematics.
2. ed. New
York, Macmillan, 1919.
[3]
MONTEIRO, L.H.J. Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro, Ao
Livro
Técnico,
1969. [4] STRUIK,
D.
J. A concise history of Mathematics.
London, G.
Bell and
Sons. 1954. )
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Um leitor de Valença, RJ, quer saber qual a taxa de juros
embutida na seguinte situação:
Um
CD custa R$23,00 à vista, mas pode ser pago em 3
prestações de R$10,00, uma de entrada, uma em 30 dias e
outra em 60 dias.
RPM:
Cuidado ao fazer compras — a taxa de juros embutida em
pagamentos parcelados pode ser muito elevada! Veja corno proceder:
Supondo juros simples, faça a seguinte conta:
você paga R$10,00 no ato da compra e fica devendo R$13,00;
esses R$13,00, após 60 dias, transformam-se em R$20,00;

Supondo juros compostos, a conta fica:
você paga R$10,00 no ato da compra e fica devendo R$13,00;
e tem que pagar R$10,00; portanto,

calculando o valor de i,
chega-se a i
34,15% ao mês.
Para explicações mais detalhadas, veja RPM 8, p. 11, RPM 20,
p. 23 ou RPM 22, p. 13.
- Uma leitora de Sobradinho, DF, quer saber a origem das palavras
cateto e hipotenusa.
RPM:
Ambas vêm do grego:
cateto
vem de kátetos e quer dizer "vertical" ou "perpendicular";
hipotenusa vem de hypoteínousa e significa "linha estendida por
baixo".
Não localizamos nenhum outro fato ligado a essas palavras. Algum leitor
teria maiores informações?
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