Augusto César Morgado
Eduardo
Wagner

Analfabetismo em Matemática
e suas
C
onseqüências
John Allen Paulos
Editora Nova Fronteira, 1994. Título original:
Innumeracy: mathematical illiteracy and its consequences

É um livro sobre estatísticas, probabilidades, estimativas e todo o tipo de matemática que interessa ao cidadão comum. De leitura fácil, com dezenas de exemplos bem-humorados e muito bem explicados, o livro pode ser usado pelos alunos, diretamente ou com a orientação do professor.

A maioria das situações descritas são casos reais e vêm sempre acompanhadas de uma pequena história. Algumas são realmente inacreditáveis, como a divulgação, no boletim de meteorologia numa rede de TV, de que a probabilidade de chover num certo final de semana era de 100%, já que a probabilidade de chover no sábado era de 50% e a probabilidade de chover no domingo também era de 50%.

Uma das maiores preocupações do autor é como uma sociedade baseada em ciência e tecnologia pode ser, ao mesmo tempo, tão mal-informada e acreditar tão facilmente em explicações nada científicas para determinados fenômenos.

O trecho a seguir trata disso e ilustra o estilo do autor:

Admita que há uma probabilidade cm dez mil de que um sonho específico corresponda com alguns detalhes nítidos uma sequência de eventos na vida real. Essa é uma ocorrência bastante improvável e significa que as chances de um sonho não premonitório são de esmagadores 9 999 em 10 mil. Admita também que a correspondência ou não de um sonho à experiência de um dia independe da correspondência ou não de algum outro sonho com a experiência de algum outro dia. Assim, a probabilidade de se ter sucessivamente dois sonhos não correspondentes é, pelo princípio da multiplicação para probabilidade, o produto de 9999/10000 e 9999/10000. Da mesma maneira, a probabilidade de se ter N  noites comuns de sonhos não correspondentes é (9999/10000)N; para um ano, a probabilidade de sonhos não correspondentes ou não premonitórios é  9999/10000)365.

Uma vez que (9 999/10 000)365 é cerca de 0,964, podemos concluir que cerca de 96,4% das pessoas que sonham todas as noites terão somente sonhos não correspondentes no intervalo de um ano. Mas isso significa que cerca de 3,6% das pessoas que sonham todas as noites terão sonhos premonitórios. Não é uma fração tão pequena assim; ela se traduz em milhões de sonhos aparentemente pré-cognitivos a cada ano. Mesmo se mudarmos a probabilidade desse tipo de sonho premonitório para urna em um milhão, ainda assim alcançaremos números enormes deles, por mero acaso, somente num país do tamanho dos Estados Unidos. Não há necessidade de invocar nenhuma capacidade parapsicológica; a banalidade de sonhos aparentemente premonitórios não requer explicação. O que precisaria ser explicado seria a não-ocorrência desse fenômeno.

O livro também traz:

   reflexões sobre o ensino da Matemática nos Estados Unidos, em todos os níveis, e aí é interessante notar que algumas dificuldades de lá são as mesmas que temos aqui, como dúvidas sobre o que ensinar, como fazê-lo, como preparar professores, ete;

   análise de quando levantamentos de opinião (como pesquisas de mercado ou eleitorais) são seguros, bem-feitos ou descompromissados;

   a convicção do autor quanto ao caráter dinâmico da evolução das idéias matemáticas e a opinião de que essas não são propriedade exclusiva dos especialistas, mas pertencem, sim, a todos os cidadãos.

Em resumo, é um ótimo livro, com boa informação matemática, além de analisar o impacto da falta dessa informação na sociedade.
 

Introdução à Geometria Espacial
Paulo Cezar Pinto Carvalho
IMPA / VITAE, 1993.
 

Aprender Geometria Espacial não é uma tarefa fácil. Possivelmente, a principal dificuldade é a falta de modelos tridimensionais adequados e variados o suficiente para que os alunos possam manipular e, mais claramente, visualizar conceitos e propriedades.

Ensinar Geometria Espacial também não é nada fácil. O professor quase nunca tem certeza de quanto rigor é necessário, ou mesmo suficiente, nas explicações e demonstrações.

O primeiro grande mérito do livro do professor Paulo Cezar é identificar, já na Introdução, que as tais dificuldades de ensinar e de aprender, longe de serem questões distintas, são causa e efeito uma da outra. Além disso, há o destaque para o fato de a Geometria Espacial ser uma ótima (e talvez única) oportunidade de apresentar aos nossos alunos, no 2 grau, uma teoria mais rigorosamente organizada.

A partir daí são apresentados os principais conceitos da Geometria Espacial, como paralelismo de retas, de reta e plano, de planos, com a vantagem adicional da apresentação de figuras espaciais no momento em que já há teoria suficiente para tal. Por exemplo, a construção de pirâmides se dá já na página 9, logo após as propriedades iniciais. Por causa disso, é claro que não há a usual e meio forçada separação em Geometria de posição e Geometria métrica.

Quase uma centena de exercícios complementam o livro, assim como um capítulo sobre Geometria Descritiva fechando com perfeição as ideias desenvolvidas no texto.

Ao professor este livro será duplamente útil: como fonte de consulta para aprofundar conhecimentos e para verificar uma mais natural (e, para muitos de nós, uma nova) forma de apresentar o assunto em sala de aula.

[As duas resenhas são da autoria de Raul F. W. Agostino, PUC-RIO.]

Está previsto para maio o lançamento de mais um livro sobre História da Matemática. Trata-se de uma tradução do excelente livro de Howard Eves: An Introduction to the History of Mathematics.