Hideo Kumayama
Eduardo Wagner

"De fato, a calculadora já faz parte da vida da maioria de nossos estudantes e deve ser usada na escola" (RPM 23, p. 63 ).

Concordo em gênero e número com a afirmação acima. Mas, como e quando devemos iniciar o uso da calculadora na aula de Matemática? Que tipo de calculadora é a mais conveniente?

Vamos responder inicialmente à última pergunta.

Para o ensino de Matemática no 1 grau devemos utilizar a máquina mais simples possível. As quatro operações, uma memória e a raiz quadrada são suficientes. É a que chamamos de "calculadora do feirante". E quando devemos apresentá-la oficialmente aos alunos? Achamos que quando o aluno estiver dominando completamente os algoritmos das operações (sabendo utilizá-los, é claro, com números decimais) é hora de introduzir a calculadora.

Não devemos, entretanto, fazer do uso da calculadora apenas um "modismo". Se os alunos vão utilizá-la como instrumento de trabalho, deverão conhecer os seus recursos e o seu uso adequado. As "calculadoras do feirante" disponíveis no mercado são muito semelhantes. Todas possuem 8 dígitos no visor e as mesmas teclas, são de inúmeras marcas mas não funcionam exatamente da mesma maneira. Todo aluno deve aprender como funciona a sua máquina para poder utilizá-la da melhor forma possível. Vamos mostrar alguns exemplos utilizando duas calculadoras diferentes: uma Casio LC-797 e uma Sharp EL-901.

Exemplo 1 - Elevar um número ao quadrado.

Esta simples operação é feita da mesma forma em todas as calculadoras. Por exemplo, para calcular  52   basta digitar as teclas [5] [x] [=]   e o resultado 25 aparece no visor.

Exemplo 2 - Obter os termos de uma progressão aritmética.

Para obter os termos de uma progressão aritmética cujo primeiro termo é 3 e cuja razão é 2, observe que os procedimentos são diferentes nas duas calculadoras que dispomos.

Casio 

 

Sharp

 

 

visor

 

 

 

visor

[2] [+][+] [3]

[=]

[                5]

 

[3] [x] [x] [7]

[=]

[                5]

 

[=]

[                7]

 

 

[=]

[                7]

 

[=]

[                9]

 

 

[=]

[                9]

Veja que na Casio a razão da progressão é digitada em primeiro lugar, enquanto na Sharp a razão é o segundo número digitado.

Exemplo 3 - Obter os termos de rima progressão geométrica.

Este caso é semelhante ao anterior. A máquina deve guardar uma constante que agora será multiplicada a cada número digitado. Se desejamos obter uma P.G. com  a1= 7  e  q = 3, os procedimentos são os seguintes:

Casio 

 

Sharp

 

 

visor

 

 

 

visor

[3] [x] [x] [7]

[=]

[              21]

 

[3] [x] [x] [7]

[=]

[              21]

 

[=]

[              63]

 

 

[=]

[              63]

 

[=]

[            189]

 

 

[=]

[            189]

Veja que, curiosamente, as duas calculadoras funcionam de forma bastante semelhante neste caso.

Exemplo 4 - Calcular potências de um número.

As potências de expoente positivo não oferecem a menor dificuldade. Por exemplo, calculemos 134 nas duas máquinas que dispo­mos:

                                                      visor

Casio:   [l] [3] [x] [x] [=] [=] [=][              28561]

                                                      visor

Sharp:   [1] [3] [x] [=] [=][=]      [              28561]

Para calcular o inverso de um número (potência de expoente — 1) devemos também observar pequenas diferenças na utilização das calculadoras. Por exemplo, calculemos 1/5 nas duas máquinas.

                  Casio                                                 Sharp

                               visor                                                        visor

[5]  []  [] [=]  [             1]                        [5]  []  [=]  [             0.2]

                    [=]  [         0.2]

O leitor pode estar pensando agora por que não digitamos [1] [] [5] [=]   para calcular o inverso de 5. A resposta é a seguinte: a operação feita como mostramos nas duas máquinas permite, apertando a tecla   [=]   sucessivas vezes, a obtenção das potências de   5 com expoentes   2, 3, 4,  etc.

Como procuramos mostrar nos exemplos anteriores, a "calculadora do feirante" já possui recursos interessantes que devem ser explorados nas aulas. O fato de podermos obter com facilidade a raiz quadrada de um número e a utilização da memória ampliam enormemente o poder de cálculo da máquina de calcular.

Entretanto, como faremos para calcular a raiz cúbica de um número? Será necessário o uso de uma calculadora mais sofisticada? Vamos mostrar que não. Com a "calculadora do feirante" podemos calcular ab com a positivo e b racional. Parece incrível, não? Mas é verdade. Vamos mostrar como calcular , ou seja, 51/3 no exemplo a seguir.

 

Exemplo 5 - Calcular   .

Seja = x. Então x3= 5. Multiplicando por x os dois lados, obtemos   x4 = 5x   ou   x = .

Vamos agora criar uma sequência de números reais onde x0 é uma aproximação de     (por exemplo, x0 = 1)  e   xn+1 =

Essa sequência converge para independente do valor de x0 . Vamos mostrar os resultados obtidos na calculadora do feirante e, em seguida, a justificativa.

Tomemos x0 = 1. Então, x1 = , x2 = , e assim por diante. Veja então o que acontece:

[5] [] []
[
x] [5] [=] [] []
[x] [5] [=] [] []

1.4953487
1.653591
1.6957019

continuando a multiplicar por 5 e a extrair a raiz índice 4, obtemos:

 

1.7063962

 

1.7090802

 

1.7097519

 

1.7099199

 

1.7099619

 

1.7099724

 

1.7099750

 

1.7099757

 

1.7099758

 

1.7099759

 

1.7099759

o que indica que uma aproximação para       com erro menor que 10-7   é   1,77099759.

Por que funciona esse método? Vamos observar a expressão

com infinitos radicais. O número x pode ser calculado por técnicas acessíveis a alunos do 2 grau de duas formas diferentes. A primeira consiste em observar que

 

A segunda forma de calcular x na expressão (*) usa um argumento mais sofisticado. Como x está definido por uma expressão que contém infinitos radicais, então, elevando os dois lados à 4 potência, obtemos:

É interessante observar que com o valor que tomamos para x0, nossa primeira aproximação é praticamente irrelevante. 0 leitor pode verificar que se tomarmos, por exemplo, x0 = 80 como primeira aproximação para (o que é um verdadeiro absurdo) obteremos x = 1,7099759 com o mesmo número de passos ultilizados quando fizemos   x0 = 1.

Mostramos então como calcular a raiz cúbica de um número dado usando a mais simples das calculadoras. Mas já tínhamos dito que essa mesma calculadora do feirante é capaz de calcular uma potência de expoente racional. Vamos ver no próximo exemplo como calcular .   O leitor perceberá então que o processo é geral.

Exemplo 6 - Calcular  .

A potência de 2 imediatamente inferior a 19 é 16 = 24. Escrevemos então

x19 = x16 . x3 = 34    ou    x16 = 81 • x-3    ou, ainda,

 Definimos a sequência  (xn)   da seguinte forma:

Vamos então calcular as nossas aproximações para   usando uma calculadora tipo Sharp.   Nessa máquina, lembramos que para elevar um número escrito no visor ao expoente   3  basta apertar as teclas [] [=] [=] [=].

Começamos então com   x0 = 1.   Paia obter  x1 fazemos assim:

[8] [1] [] [] [] []          x1 = 1,316074.

Para obter  x2 ,   mantemos o valor de   x1   no visor e digitamos:

[] [=] [=] [=] [x] [8] [1] [=] [] [] [] []          x2 = 1,250015.

Basta agora repetir os mesmos movimentos até que você obtenha o mesmo número no seu visor. Isso indicará que você possui uma aproximação de com erro menor que 10-7. Para satisfazer o leitor curioso, encontramos com a nossa calculadora x10 = x11 = 1,2602205.

Exemplo 7

Na RPM 22, pp. 13 e 14, pedia-se para calcular a taxa mensal de juros cobrada num

Para obter   i1+ 1,   apertamos as teclas:

[1] [.] [2] [] [=] [=] [=] [M-] [1] [M + ] [RM] [CM] [] [2] [+] [1] [=]

Aparecerá no visor:   1.2106482.   Mantendo esse valor de i1   no visor, apertamos, novamente, as teclas:

[] [=] [=] [=] [M-] [1] [M+] [RM] [CM] [] [2] [+] [1] [=]

e assim sucessivamente.   Acabaremos obtendo   1,2337519.    Para o problema da RPM 22, com   i0 = 20%,  teremos  i 23,37% ao mês.