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Na tentativa de estimular o hábito da leitura e recuperar o valor e a utilidade do livro didático, venho, há alguns anos, desenvolvendo uma forma de trabalho pouco convencional com meus alunos de Matemática, da 5.ª à 8.ª série do 1.° grau: a leitura e a interpretação de textos do livro de Matemática. Hoje é consenso que o livro de Matemática tem sido aberto pelos alunos apenas para fazer exercícios. Eles têm deixado o 1o grau incapazes de estabelecer contato com um texto escrito em linguagem matemática e, conseqüentemente, sem ter adquirido uma habilidade que considero fundamental no processo de aprendizagem: a independência e maturidade para estudarem sozinhos. Como é feito meu trabalho em sala de aula? Dentre as muitas coleções de Matemática de 5.ª à 8.ª séries que existem no mercado, e às quais consigo ter acesso, escolho aquela que, a meu ver, coloca os conceitos matemáticos com maior precisão e clareza e é mais coerente em sua linguagem, do primeiro ao último volume. De posse do livro-texto e do caderno de atividades (complemento do livro-texto com exercícios propostos), os alunos se reúnem, em grupos de dois, e o processo de estudo segue os seguintes itens: 1. leitura de determinada unidade; 2. discussão em grupo, à medida que a leitura se processa; 3. exercícios sobre o tópico estudado; 4. seminário orientado pelo professor, ao término do estudo da unidade, com a participação dos alunos; 5. resumo feito pelo professor, ressaltando as idéias mais importantes, ligando o que foi lido à unidade anterior e à posterior;
6.
crítica do texto e sugestões
para os autores. Observação: Várias vezes deparei-me com conceitos ou exercícios resolvidos de modo impreciso. Quando isso ocorre, chamo a atenção sobre o fato, faço uma crítica na esperança de que os alunos percebam a imprecisão e sugiro a substituição de um argumento por outro. Para esclarecer melhor essa questão, darei como exemplo um fato ocorrido, no ano passado, numa turma da 7.ª série, quando estudávamos Sistemas de Equações do Primeiro Grau a Duas Variáveis. No capítulo VI do livro-texto, havia um sistema a ser estudado:
De acordo com o texto, o domínio de validade era
o que não está correto. Fiz perguntas aos alunos até que alguns perceberam qual deveria ser o domínio de validade correto. Perguntei quem se disporia a escrever uma carta aos autores, sugerindo a mudança necessária. No dia seguinte, recebi de um aluno a carta que transcrevo abaixo: Belo Horizonte, 02 de novembro de 1992 Prezados Editores, Sou aluno de 7.ª série do Centro Pedagógico da. Universidade Federal de Minas Gerais, e faço uso do livro Matemática, Conceitos e Histórias, editado pelos senhores. Ao ler o capítulo VI deste, percebi um erro de edição no item 4. Notem que o domínio de validade do 2.° exemplo do sistema da página 101 está errado. Esse domínio diz que (x, y) (3,1) e, dessa maneira, dá-se a entender que o único resultado impossível desse sistema é o par ordenado (3,1). Entretanto, qualquer resultado que tenha x=3, ou y = 1, será impossível. Pois se, por exemplo, o resultado for (4,1), o resultado será impossível, já que y não pode ser igual a 1. Assim, o certo seria colocar o domínio de validade da seguinte maneira: Atenciosamente, José Antonio de Aquino Ribeiro
É verdade que, no início desse trabalho, os alunos apresentam uma certa dificuldade em interpretar o texto e voltar a ele tantas vezes quantas forem necessárias para resolverem os exercícios. Isso acontece devido à falta de costume de ler um texto de Matemática. Mas, à medida que o tempo vai passando e eles vão se familiarizando com a linguagem, a atividade vai se tornando muito agradável. Os alunos não só gostam de trabalhar com o livro como sentem que seus pais não jogaram dinheiro fora ao comprá-lo. É certo, também, que esse trabalho reforça a importância da interpretação de texto, tão importante em Português, História e Geografia e enriquece qualquer metodologia de ensino. Trabalhando desse modo, o professor estará tentando: - incentivar o hábito da leitura; - incentivar a independência de estudo do aluno; - proporcionar maior participação do aluno nas aulas; - desenvolver o espírito crítico da leitura (questionando o que se lê); - despertar a capacidade do aluno para redigir um texto em linguagem matemática (mesmo para sugerir uma correção); - apresentar-se ao aluno como um orientador, e jamais como o todo-poderoso detentor do saber.
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