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Maria Alice Gravina
Pretendemos, neste artigo, ilustrar uma maneira bastante natural de enriquecer o estudo de funções no 2.° grau. Nos livros didáticos deste nível, os conteúdos relativos ao estudo de funções, no geral, restringem-se à classificação das funções (lineares, quadráticas, polinomiais, trigonométricas, etc.) e à listagem de uma série de propriedades que dizem respeito a aspectos operacionais. Pouca ênfase é dada ao uso de funções na resolução de problemas quando este deveria ser um dos aspectos fundamentais na formarão matemática de nossos alunos. O problema que propomos estudar é o seguinte: são dados diversos reservatórios (figura 1) com a mesma capacidade e a mesma altura:
Temos torneiras enchendo cada uni dos reservatórios e vamos admitir que a vazão da água é a mesma para todos eles, constante e igual a k metros cúbicos por minuto. Queremos analisar o comportamento do nível de água no decorrei do tempo. Seja fi(t) a altura do nível de água no instante t (i = 1,2,3,4,5,6, conforme o reservatório); vamos medir a altura em metros e o tempo em minutos. Temos fi(0) = 0 e fi(T) = A, onde A é a altura dos reservatórios e T é o tempo necessário para enchê-los. E claro que a altura fi(t) aumenta à medida que t aumenta, ou seja, todas as funções são crescentes. Mas existem diferenças significativas nestas funções que dizem respeito ao aumento mais rápido ou mais lento do nível de água, conforme o tipo de reservatório. Analisando a forma de cada um dos reservatórios, podemos esboçar os gráficos das alturas. Por exemplo: - em (1), no início do processo, a altura aumenta rapidamente e depois continua aumentando, mas não mais tão rápido; - em (2) o processo é inverso ao de (1); - em (3) a altura aumenta de modo uniforme; - em (4) a altura vai aumentando cada. vez mais devagar, até chegar à metade do reservatório, depois reverte o seu comportamento; - em (5), até a metade do reservatório o comportamento é similar ao de (2) e depois, similar ao de (1); no meio do reservatório tem-se a altura aumentando rapidamente. - em (6) o comportamento é similar ao de (5), porém no meio do reservatório a altura não aumenta de modo tão rápido. Obtemos, desta forma, os esboços de gráficos:
Nosso objetivo é entender qual o conceito matemático que registra estas diferenças no comportamento crescente das funções.
Ao esboçar os gráficos, o que fizemos, intuitivamente, foi analisar
a rapidez com que sobe o nível de água em intervalos de tempo
bastante pequenos. Se
(que é uma razão do tipo metros/minuto) nos fornece quantos
metros
por minuto está subindo o nível de água no intervalo [t,
t +
Vamos analisar esta razão graficamente, para isto tomando intervalos
de tempo de mesmo tamanho
(a)
(b)
(c)
(d)
deixamos os casos
É importante notar que a razão
Por outro lado, V(t) = k(t) (3) pois estamos admitindo que a vazão de água é km3 /min. Igualando (2) e (3), obtemos
No triângulo de catetos
f1(t) e
r1(t)
temos
rl(t)
=
f1(t)
tg
e fazendo simplificações, obtemos:
e, conforme
A partir de (7) obtemos informação bastante boa de como está aumentando o
nível de água no intervalo de tempo
[t,
t +
desde que Aí seja bastante pequeno (pense em Aí como urna fração muito pequena de um minuto). Por exemplo:
-
no
intervalo de tempo de 1 a 1 +
-
no
intervalo de tempo de 8 a 8 +
e, como vimos, é esta função que nos informa como é a variação do nível de água no reservatório (1). Vemos em (8) que, conforme t aumenta, g1(t) diminui, o que corresponde ao já sabido crescimento mais lento do nível de água conforme o processo avança.
Procedimento
similar pode ser feito para as demais funções
fi, se quisermos obter uma boa
aproximação para Em geral, se uma certa função f descreve um fenômeno em que o tipo de crescimento (ou decrescimento) é informação relevante na compreensão do processo, devemos estudar a função
que é conhecida como a derivada da função f. Este estudo de funções através do sua derivada normalmente não é tópico presente nos conteúdos do 2.° grau. Esperamos que o problema aqui estudado tenha ilustrado como o conceito de derivada de uma função é simples e naturalmente necessário na resolução de problemas. Por isso. deveria estar presente nos programas de Matemática de nossas escolas Finalizamos, recomendando ao leitor o artigo O Ensino do Cálculo no 2.° grau de Geraldo Ávila, na RPM 18, no qual o autor argumenta em favor da retomada do estudo de derivada e integral no 2.° grau. (Veja também o artigo Cálculo no 2.° grau nesta RPM.)
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