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Como parte das atividades da Escola de Verão/ 82 do departamento, desenvolve mas um curso de extensão em Áreas e Volumes, destinado a alunos do 2º grau. Reunimos para o mesmo 31 alunos das mais variadas escolas da rede oficial do Distrito Federal, tanto de Brasília como de cidades satélites. O Curso teve 7 semanas de duração e 6 horas-aula semanais. Verificamos, logo no começo, que a classe era heterogênea e que os alunos tinham escasso conhecimento de figuras planas, de suas propriedades, fórmulas das áreas e justificativas das mesmas. Decidimos repor a etapa não vivenciada nos anos anteriores de aprendizagem. Nosso curso ficou então dividido em três partes: 1. Geometria plana 2. Sólidos e volumes 3. Geometria e arte
Como levar os alunos a adquirirem rapidamente uma visão da geometria das figuras planas, e como assegurar a permanência desse aprendizado? Optamos pela técnica de recortes, medições e dobraduras – através dela os alunos foram levados a intuir, descobrir e verificar propriedades geométricas. Além da sala de aula, os alunos dispuseram de uma sala de Laboratório de Aprendizagem, que, ao invés do que se poderia esperar, apresentava-se ao início apenas com algumas mesas e carteiras. Os alunos guardaram aí seu material – cartolinas, cola, réguas – e chegavam cerca de uma hora antes do horário das aulas, permanecendo no Laboratório em trabalhos práticos. Como exemplos de “descobertas” e “experimentos”, objetivando exploração de propriedades das figuras planas, tivemos: - Construir um triângulo arbitrário e marcar suas 3 alturas - Idem, marcar as 3 medianas - Idem, marcar as 3 bissetrizes - Idem, marcar as 3 mediatrizes Havia intersecção comum a cada grupo dessas 3 retas? - Traçar círculos concêntricos, com raios progressivamente maiores, com centro fixo em cada uma das intersecções acima. Ocorria algum círculo especial? Fizemos notar que no caso das bissetrizes, um dos círculos, centrado na intersecção das mesmas, tangenciava os três lados do triângulo (círculo inscrito). No caso das mediatrizes, um dos círculos passava pelos três vértices, externamente, (círculo circunscrito). - Medir distâncias das intersecções aos vértices. O que ocorria? Notar que no caso de uma mediana, o segmento que liga a intersecção ao vértice mede o dobro do segmento que liga a intersecção ao meio do lado correspondente. - Medir raios e comprimentos de diversas circunferências. Estabelecer relações com auxílio da calculadora. Sobre áreas: -
Verificar o número de unidades de área (dm2) contidas em
quadrados e retângulos. Inicialmente as medidas dos lados eram certo número
inteiro de decímetros, depois um número racional, o que exigia a introdução
de uma unidade menor, cm ou mm.
-
Medir quantidade de unidades de áreas contidas em paralelogramos, com
transposição concreta de uma parte, transformando-o num retângulo.
“Descoberta”: a área do paralelogramo ABCD é a mesma área de um retângulo
ABC’D’ com mesma base e mesma altura. - Descobrir a área de um triângulo. Os alunos deviam construir duas cópias de um triângulo qualquer, formar com eles uma nova figura de área conhecida. “Descoberta”: A área do triângulo é a metade da área do paralelogramo de mesma base e mesma altura.
Área do triângulo pelo método da dobradura: 1) Recortar um triângulo qualquer. 2) Marcar os pontos centrais de dois lados, traçar uma reta passando por eles, dobrar nessa linha. 3) Dobrar as pontas formando um envelope. Fizemos
os alunos observarem que obtemos sempre um retângulo (analisar cada
passagem!). A área do triângulo inicial é o dobro da área desse retângulo.
A base desse retângulo (br) é a metade da base b do triângulo,
idem para sua altura hr. Temos:
-
Descobrir a área de um trapézio. Os
alunos sugeriam 3 processos. Trabalharam em grupos, para chegar a uma fórmula
simplificada. Tivemos: a)
Decomposição do trapézio em um retângulo e 2 triângulos:
b) Decomposição do trapézio em 2 triângulos:
c)
Juntar 2 trapézios iguais formando um paralelogramo:
A
tônica de jogos e conclusões fáceis diminuiu quando foi levantadas a
questão de segmentos com medidas não racionais. Podia ser ou não?
Afinal, que números existiam que não eram da forma p/q, p e q
tirados dos inteiros, q não sendo nulo? Lembramos então que os números,
que são deste tipo, postos na forma decimal, se reduzem sempre a decimais
finitas ou periódicas. Portanto, os números decimais não finitos e não
periódicos não se reduzem à forma acima, e são os famosos números
irracionais. Os alunos descobriram-nos e fizeram inúmeros exemplos dos
mesmos: ±
0,010010001... ±
0,020020002... ±
0,030030003... ±
1,20220222022220... O
número
, calculado com 9 casas decimais, é
... Ainda poderia ser um racional (com período de pelo menos 9
algarismos), mas já dá para suspeitar que se trata de um irracional. E
se imaginássemos que fosse um racional? Mostramos então, no curso, que
chegaríamos a um absurdo. Isto resolveu nossa dúvida anterior:
é mesmo um irracional, isto
é, não é da forma p/q, e tem portanto uma representação decimal
infinita e sem período. Voltando
às figuras cujos lados têm como medidas números irracionais: Um
quadrado com lado
dm terá também área
? É
evidente que nossos instrumentos de medida só poderão aquilatar mais ou
menos
dm. Este é um número racional muito próximo de
, é uma aproximação racional por falta do número
. Poderemos tomar aproximações racionais ainda melhores: 1,414 ou
1,4142, e quadrados com esses lados se aproximam cada vez mais do quadrado
com lado
. E
suas áreas: (1,41)2, (1,414)2 ou (1,4142)2
se aproximam cada vez mais do valor
. E assim trabalhando com aproximações racionais, podemos ver que as fórmulas
das áreas da figuras planas ainda são válidas, mesmo quando seus lados
têm, por medidas números irracionais. Neste
ponto demos a fórmula da área do círculo, pelo livro Matemática
Aplicada, de Trotta – Imenes – Jakubovic (volume 1). O livro mostra
que os números 3,1r2; 3,14r2; 3,141r2;3,1416r2,
estão cada vez mais próximos da área do círculo de raio r. A dedução
feita encaixou-se muito bem a esta altura do curso. Nesta
etapa, o Laboratório apresentava-se com inúmeros cartazes, feitos pelos
alunos, justificando propriedades de figuras planas e de áreas, bem como
conjuntos numéricos, modelos de dobraduras, etc.
Geometria
dos sólidos
Houve
uma parte inicial de trabalho concreto: construção e reconhecimento dos
prismas, pirâmides, cilindros e cones. Nesta fase foram salientadas as
características especiais do cubo e do tetraedro: todas as faces são polígonos
regulares e iguais entre si; todo vértice do sólido é ponto de encontro
de um mesmo número de faces. Trata-se de sólidos platônicos e os alunos
foram motivados a procurar essas características em outros poliedros.
Na
exploração de volumes, seguimos novamente o livro Matemático Aplicada,
desta vez o volume 3. fizemos experiências de imersão de sólidos análogas
às de Arquimedes, modelos análogos aos de Cavalieri, que nos auxiliaram
depois na dedução dos volumes dos diferentes sólidos. Remetemos o
leitor ao rico capítulo “O volume de um sólido”, do livro acima. Os
alunos enriqueceram nosso Laboratório com copos e barras de materiais
distintos e mesmas dimensões, para imersão de sólidos, recipientes de
bases equivalentes e alturas iguais para comparar capacidades,
minibolinhas de isopor ou milho de pipoca para enche-las e comprovar as
relações entre os volumes. Todas
as fórmulas usuais para volumes foram inferidas e deduzidas: prismas,
cilindros, pirâmides, cones, esfera. Também
foi dada a área total desses sólidos, algumas vezes recobrindo-os com
papel quadriculado, retirando, comparando as unidades de área aferidas
com resultados de raciocínios matemáticos. Um
dos problemas propostos foi o do gomo: Se uma esfera for dividida em 12
gomos absolutamente iguais, qual será a área total externa de cada gomo?
(Não conte a seus alunos, não imagine que eles têm o mesmo poder visual
espacial que você tem – dê-lhes o ensejo de fazerem um rudimentar
modelo concreto, e contenha sua impaciência, esperando que eles cheguem
por si ao resultado. O entusiasmo e a surpresa que demonstrarão valem a
experiência).
Geometria
e arte A
terceira fase do curso foi a fase inventiva e artística. Envolveu sólidos
platônicos, caleidociclos e recobrimento em mosaicos (tesselations). Mas
para falar sobre ela teríamos que apresentar ao leitor o artista gráfico
holandês M. C. Escher, cuja arte geométrica muito nos auxiliou. Vamos
ter que deixar este capítulo para uma outra vez. Finalmente
um balanço do curso: houve grande freqüência às aulas, diálogos
ativos entre os alunos e muito envolvimento nas atividades propostas,
revelando entusiasmo e concentração. Foram
realizadas duas provas (uma sobre Geometria Plana e outra Espacial), com
aprovação final de quase todos os alunos. Mais do que isto, o que
importou foi a certeza de termos quebrado uma barreira, e tê-los
introduzido de maneira confiante e interessada no mundo da Geometria.
N.
da R.: A colega Mary, de Brasília de Minas, escreve-nos solicitando
orientação para utilização de material didático, além do giz e
quadro negro. O colega Wanderley D. B. dos Reis, de Guarulhos – SP,
entre várias sugestões, pergunta sobre um Laboratório de Matemática.
Achamos que este artigo abre espaço para experiências análogas. Podemos
procurar, nesta tarefa, a colaboração dos professores de Artes. Respostas
dos probleminhas
2.
1806, pois 432 = 1849 3.
x = 4 ou x = 11 Resolução
1: (braçal). Olhe num
calendário. Resolução
2: Março tem 31 dias. Forçando um pouco, podemos dizer: 1 de
abril = 32 de março. 2 de
abril = 33 de março. 2 . de
abril = 31 + 2 . de março x = 7k – 31 x = 4 ou x = 11. 4. - 3, - 1, 1
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