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Os professores de Matemática, espalhados pelo nosso imenso País, que se dedicam a sua profissão, muito mais pelo amor que têm pela matéria que escolheram do que pela remuneração, quase sempre parca, formam uma classe não apenas numerosa mas bastante diversificada. Essa diversidade provém da variada formação intelectual, do treinamento universitário que tiveram, dos recursos materiais de que dispõem suas escolas, do nível cultural da região onde trabalham, a se refletir em seus alunos, e de tantos aspectos contrastantes que existem nos muitos sistemas escolares estaduais. Em que pesem todas essas diferenças, há, ao lado do fascínio pela Matemática, outro traço comum a todos os professores desta disciplina, a saber, o isolamento intelectual, a se traduzir na falta de estímulo científico e na dificuldade para obter orientação e informações que os ajudem a progredir, a conhecer melhor aquilo que devem ensinar, a se porem em dia com os progressos da Matemática, para poderem dar melhores lições e se sentirem mais confiantes na sala de aula. As janelas naturais para arejar a mente do professor são os livros. Mas a literatura disponível em língua portuguesa, no nível a que nos referimos, praticamente se limita aos livros de texto que o professor adota. Estes, porém, na maioria dos casos, se restringem a expor o programa de modo seco, nem sempre inteligível, sem maiores motivações ou exemplos atraentes, não fornecendo ao professor aquele “algo mais” que ele tanto deseja para penetrar nos assuntos, dirimir as grandes dúvidas que o afligem a propósito de certos conceitos cruciais, entender a importância, a origem e a utilidade dos tópicos que deve ensinar, ampliar e solidificar seus conhecimentos sobre assuntos tradicionais e consagrados, ou simplesmente adquirir um repertório de episódios e exemplos interessantes para ilustrar suas aulas. A qualidade dos livros didáticos em nosso País tem melhorado ultimamente. Alguns trazem mesmo boas apresentações para certos tópicos que abordam. Mas a média está longe de ser satisfatória. Além disso, a própria finalidade a que se propõem jamais fará deles o guia intelectual do professor, a janela aberta a que nos referimos acima. As constatações que acabamos de expor, aliadas à consciência de sua responsabilidade, levaram a Sociedade Brasileira de Matemática a criar a Revista do Professor de Matemática. Nossa intenção é que a RPM seja uma das janelas através das quais o professor possa oxigenar-se, enxergar um horizonte mais amplo e também possa fazer-se ouvir; não apenas receber mas também dar, contribuir e participar. Nossos ideais, cremos que são honestos; nossa ambição, reconhecemos que é grande. Mas nossa presunção é limitada: não pretendemos acertar em cheio, logo de saída. Em vez disso, nosso métodos será o das aproximações sucessivas. Em cada novo número, queremos estar mais perto do nosso objetivo. Para orientar-nos é indispensável a colaboração dos nossos leitores. Mandem dizer como receberam os dois primeiros números. Não façam apenas elogios. Estes certamente nos alegram, confortam e dão mais ânimo para prosseguir, mas façam também críticas (de preferência, construtivas) e nos enviem sugestões.
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