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Todos sabem que a
soma dos ângulos internos de um triângulo vale dois ângulos retos. Este é
um dos resultados centrais da Geometria Euclidiana. Ele se estende
facilmente para mostrar que a soma dos ângulos internos de um polígono
convexo com n lados é igual a n
A dificuldade para polígonos não-convexos se concentra em dois pontos cruciais: o primeiro é a decomposição de um polígono, por meio de diagonais internas, em triângulos adjacentes e o segundo é a própria definição de ângulo externo.
Nosso objetivo
aqui é esclarecer esses
pontos, mostrando que todo polígono de
n lados, convexo ou não, decompõe-se, mediante
n
Começaremos
recordando o caso de um triângulo cujos ângulos internos chamaremos de
Esta é a demonstração que os livros trazem e que nós costumamos repetir em classe. Dentro do princípio de que sempre vale a pena, para quebrar a monotonia e arejar as idéias, olhar para as coisas fundamentais sob vários ângulos (sem trocadilho), vejamos duas outras demonstrações deste fato.
Mostremos, por
exemplo, como a fórmula
Suponhamos,
então, que o triângulo seja retângulo. Seus ângulos são
O caso geral
reduz-se a este, baixando-se a altura sobre o maior lado. (Essa altura cai
sempre no
interior do triângulo.) Isto decompõe o
triângulo arbitrário em dois triângulos retângulos. Usando o caso particular
já provado, e observando que
Outra maneira de
provar a fórmula
A demonstração de que a + b + c = 4R se faz fixando um ponto qualquer e, a partir dele, traçando semi-retas paralelas aos três lados do triângulo. Elas determinam 3 ângulos iguais a a, b e c os quais, juntos, dão uma volta completa no plano, logo a + b + c = 4R. Nesta última demonstração, há um cuidado a tomar. Para cada lado do triângulo, há duas semi-retas (opostas) partindo do ponto pré-fixado e paralelas a esse lado. Se trocarmos uma delas por sua oposta não teremos mais 3 ângulos iguais a a, b e c. Para escolher as semi-retas certas, dá-se uma volta ao longo do triângulo, marcando com setas o sentido do percurso (figura acima), e tomam-se as semi-retas que correspondem ao sentido de cada seta.
Em
seguida, consideremos a soma dos ângulos internos de um polígono com n
lados. Se ele é convexo, não há dificuldade. A partir de um vértice
qualquer, traçamos n
Caso o polígono não seja convexo, a situação requer uma análise mais cuidadosa. Já não podemos mais traçar todas as diagonais a partir de um vértice qualquer, pois algumas delas podem ser externas ou podem cortar outros lados do polígono. Inicialmente, esclareçamos que a palavra polígono significará sempre polígono simples, isto é, uma linha poligonal fechada que pode ser inteiramente percorrida sem que se passe mais de uma vez por qualquer dos seus pontos. Algumas vezes, polígono significará também a porção do plano limitada por essa poligonal. Chama-se diagonal a todo segmento de reta que une dois vértices não consecutivos de um polígono. Mostraremos agora que, mesmo não sendo convexo, qualquer polígono pode ser decomposto em triângulos adjacentes por meio de diagonais convenientes. O teorema a seguir, que exprime este fato, raramente é demonstrado, embora não seja tão difícil assim. Teorema 1. Traçando-se diagonais internas que não se cortam, pode-se decompor qualquer polígono em triângulos justapostos.
Demonstração:
Primeiro
caso: A, B e C são os únicos vértices do polígono
P
contidos no triângulo ABC.
7. B é um vértice saliente. Como o triângulo ABC não contém nenhum outro vértice de P além de A, B e C, a decomposição de P em triângulos começa traçando-se AC.
Neste caso, o polígono P',
obtido de P substituindo-se os lados
AB e BC por AC, tem
n
8. O triângulo ABC contém outros vértices de P
além de A, B
e C. Sendo D o vértice de P contido no
triângulo ABC,
mais afastado de AC(D
Segundo caso: O triângulo ABC contém outros vértices do polígono P além de A, B e C. Dentre eles, seja D o mais distante do lado AC. Então a diagonal DB não pode conter outros vértices de P além de D e B. Essa diagonal, portanto, decompõe P em dois polígonos adjacentes P' e P", ambos com menos lados do que P. O teorema vale, então, para P' e P", que se decompõem em triângulos justapostos, na forma do enunciado. Juntando essas decomposições com DB, obtemos uma decomposição de P. Contradição. Isto prova o segundo caso . A figura abaixo mostra o mesmo polígono decomposto em triângulos mediante diagonais internas traçadas de duas maneiras diferentes. Nos dois casos, o número de triângulos é igual e o mesmo se dá com o número de diagonais. 0 teorema seguinte diz que isto não é uma casualidade.
9. Duas decomposições diferentes do mesmo polígono determinam 5 triângulos e utilizam 4 diagonais. Experimentando outra decomposição qualquer, acharemos sempre estes mesmos números. Teorema 2.
Quando um polígono P de n lados é decomposto,
traçando-se diagonais
internas
que não se cortam, em triângulos
justapostos, o número de triângulos é sempre n
Demonstração:
Supondo,
por absurdo, que o teorema seja, falso, consideremos
P
um polígono com o menor número n
de lados para o qual o teorema não seja válido. Então P
decompõe-se, por meio de d diagonais internas, em
t
triângulos justapostos, com
d
implicam
imediatamente que t
=
n
Corolário 1: A soma dos
ângulos internos de qualquer polígono (simples) de
n lados é igual a
(n
Com
efeito, o polígono decompõe-se em n
Corolário 2: A soma dos ângulos externos de qualquer polígono (simples) é igual a 4R . Aqui é necessário lembrar corretamente as noções de ângulo interno e externo de um polígono.
Quando o
polígono
é convexo, seus vértices são todos salientes e os ângulos internos são
menores do que dois ângulos retos. Em cada vértice, o ângulo externo é,
por definição, formado por um lado do polígono e o prolongamento do lado
adjacente. Isto equivale a dizer que o ângulo externo
Se o
polígono não é convexo, ele possui vértices reentrantes. O
ângulo interno a num desses vértices reentrantes é maior do que dois
ângulos retos. 0 ângulo externo
10. Os ângulos externos de um polígono convexo são todos
positivos. Se o polígono não é convexo, há pelo menos um ângulo interno
Dada esta
explicação, o Corolário 2 torna-se evidente. Com efeito, seja
S
a soma dos ângulos externos de um polígono de n
lados.
A soma dos ângulos internos sendo
(n
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