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Inesperadamente, numa terça-feira, chegou-me uma carta. Envelope branco, sem nome de remetente. Dentro, um papei dizia simplesmente: "Sr. Manoel. Sou seu amigo. Sei o cavalo que vai ganhar no quarto páreo do próximo sábado. Será o cavalo n° 3. Atenciosamente, Antônio Silva." Não sou de jogar, por princípios morais e por achar que, entendendo de Matemática e Teoria das Probabilidades, o jogo não favorece ao jogador. Nem liguei para a enigmática carta. Quem seria o Antônio Silva? Juro, mas juro mesmo, que a única conseqüência da carta foi eu ler, pela primeira vez na minha vida, a seção de turfe no jornal de domingo. Surpresa! Deu o cavalo n.° 3 no quarto páreo do sábado. Fiquei surpreso, confesso. Mais que surpreso, intrigado. Ao ler os comentários do cronista do jornal, entendi tudo. O cavalo n.° 3 era o segundo principal favorito. Sua chance de ganhar era grande. Assim, até eu acerto. A história terminaria por aí se na outra quarta-feira eu não recebesse uma nova cartinha: "Vai dar o cavalo n.° 2 no sexto páreo do domingo." Aquilo agora era. um desafio. Corri a ler a seção de turfe do jornal. Aumentando a minha expectativa, o comentarista dizia: "No domingo, sexto páreo, o n.° 2 não terá chances". Por curiosidade, ouvi a transmissão da corrida pelo rádio. Suspense! Ganhou o n.° 2. Um misto de angústia e surpresa me assaltou. Como o Antônio Silva podia saber quem ia ganhar? Afinal, o número 2 era azarão! Na terça-feira não recebi a nova cartinha, ou seria mais honesto eu dizer, não recebi a esperada cartinha. Chegou a desejada na quarta feira. Simples e objetiva como sempre. "Sr. Manoel. No domingo, primeiro páreo, vai dar o n.° 1. Antônio Silva." Embora eu não estivesse entendendo o porquê de ser eu o privilegiado receptor de tão certeiros palpites, decidi jogar. A primeira e última vez, prometi eu. Joguei e ganhei. Infelizmente joguei pouco e por isso pouco ganhei. Fiquei revoltado. Se muito tivesse jogado, muito teria ganho. A espera, de uma nova cartinha foi em ambiente de alta tensão. E li veio ela, agora na sexta-feira. Os termos eram algo diferentes: "Sr. Manoel. Graças a meus conhecimentos, o sr. teve três indicações certas para jogar. O sr. deve hoje estar rico com o que ganhou. Tenho o nome do cavalo que vai dar no próximo sábado. Não quero dinheiro. Quero apenas que o sr. jogue em sociedade comigo. O sr. trará no mínimo um milhão e apostaremos esse valor no cavalo que eu lhe direi. O sr. ficará com metade do valor da aposta e eu, com a outra metade. Amanhã lhe telefono. Seu amigo, Antônio Silva." O homem era meu amigo, seguramente. A proposta era muito boa. Ele jogaria junto comigo (se bem que com meu dinheiro, destaque-se). Eta homem seguro de seus conhecimentos! Dinheiro ele não queria. Queria apenas os boletos (poules) do jogo. Retirei o dinheiro do banco e esperei o telefonema. Não teria sido melhor ele dar o seu telefone? Não entendi o anonimato. Nem telefone, nem endereço. Só o nome, Antonio Silva. Afinal, por que um amigo permanece incógnito? Seria modéstia? Ou seria acanhamento desse meu amigo? Sábado de manhã o telefone tocou. Era o Antônio. Marcamos o encontro. Sábado, no centro da cidade, em frente ao Centro de Apostas. O meu amigo Antônio me esperaria junto ao poste, segurando um jornal aberto na Seção de Turfe. Encontrei-o na hora certa. Quarentão algo gordo, costeletas compridas, camisa de seda transparente, cordão de ouro no pescoço, dente de ouro na boca, relógio de ouro no pulso. Apresentamo-nos e fomos direto ao guichê. Um milhão de aposta, quinhentos mil de poules par mim e outro tanto para ele. Junto ao guichê ele finalmente falou, sussurrando o segredo. "No. quarto páreo, cavalo n.° 5." Antonio era simpático, mas de pouca conversa. Pegou os Cr$500 mil em poules que lhe cabiam e despediu-se (estava com um filho com febre). Desapareceu na mulitidão.
Solitário, fui para casa esperar que desse o cavalo n.° 5 no quarto páreo. O locutor do rádio foi dramaticamente claro na chegada desse páreo: "Os cavalos Príncipe da Alegria (n.° 2) e Seta Dourada (n.° 6) chegam juntos e cruzam a linha de chegada." Perdi. Até hoje não sei o porquê. Antonio nunca mais me procurou. Peço aos leitores ajuda para desvendar esse mistério. O mistério de Antonio, o homem que sempre ganhava (ou quase sempre) nas corridas de cavalos. Resposta Esta história foi baseada em fato real. Um gajo pegou uma lista telefônica, selecionou dez mil pessoas (eu entre elas) e dividiu-as em dez grupos, correspondentes aos dez cavalos que correriam em um páreo. A cada grupo mandava cartas indicando um cavalo como vencedor. Os mil que ganharam (obrigatoriamente mil ganharam), ele dividiu em dez grupos e vai por aí. No final ele sempre ganhava, quando dava o bote final.
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