José Paulo Quinhões
Carneiro
Rio de Janeiro, RJ
Tenho o triplo da idade
que tu tinhas quando eu tinha a idade que tu tens. Quando tu tiveres a
idade que eu tenho, teremos juntos 56 anos.
Qual é a minha idade?
Este problema, hoje meio fora
de moda, foi célebre numa época em que havia uma preocupação de resolver
este e outros tipos de problemas "por Aritmética" e não "por Álgebra".
Tenho observado que, no âmbito escolar, este problema causa uma espécie de
terror, enquanto fora dele exerce até um fascínio sobre as pessoas, talvez
pelo seu enunciado exótico, em estilo de uma charada.
Vamos abordar o problema
geometricamente. Se representarmos graficamente, num sistema de
coordenadas cartesianas, a evolução da idade de um indivíduo através do
tempo, obteremos sempre uma reta paralela à bissetriz do primeiro
quadrante. Na realidade, obteremos a própria bissetriz se tomarmos o "ano zero" como sendo o ano de seu nascimento, pois no ano 1 ele terá 1 ano, e assim sucessivamente (isto é um fato do qual a experiência já mostrou que podemos convencer mesmo uma pessoa que jamais estudou Geometria
Analítica).Já a idade de uma pessoa d anos mais velha terá como gráfico uma reta paralela, já que a
diferença entre as idades dos dois permanecerá constante e igual a d
(fig. 1).
Voltemos
então ao nosso problema. Há dois indivíduos em causa, um que fala
(chamamo-lo de E) e um que escuta (T). Evidentemente E é
mais velho que T (... quando eu tinha a idade que tu tens ...), digamos,
d anos, de modo que seus gráficos de idades se assemelham aos da
fig. 1.

Há três
épocas mencionadas no problema, que chamaremos P (passada), A
(atual) e F (futura). A maneira como se relacionam A e
P (...quando eu tinha a idade que tu tens...) e a maneira
como.se
relacionam A e F (...
quando tu tiveres a idade que eu tenho ...) mostram que elas se situam no
gráfico como na fig. 2.
A
inclinação de 45° possuída pelas retas do gráfico acarreta que todos os
segmentos assinalados têm comprimento d.
O dado
de que a idade que E tem na época A (isto é, OX) é o
triplo da idade que T tinha na época P (isto é OZ),
juntamente com o fato de XY
= YZ = d,
obriga a que OZ seja também d (estou evitando escrever a
equação 2d + OZ = 3OZ, já que isto pode ser "visto" na
figura). Mas, então, a reta gráfica da idade de E tem que passar
por Z e a figura correta é a fig. 3.
Agora
então é claro que, na época F, a idade de T é 3d enquanto a de
E é 3d + d. Logo os dois juntos têm
7d, que deve ser 56. Logo d
tem que ser 8 e a "idade que eu tenho"é
3x8=24, que é a resposta.
Para
encerrar, gostaria de acrescentar que esta aparente brincadeira pode ter
implicações mais sérias. De fato, desde 1875, os demógrafos costumam
utilizar o célebre diagrama de Lewis, que nada mais é do que um
gráfico idade x tempo, onde exercem um papel básico as
linhas de vida
(ver, por exemplo, Smith, D.; Keysitz, N. Mathematical Demography ,
Springer-Verlag, 1977, p.39). Além disto, as linhas de vida são "curvas características"
de uma equação diferencial parcial, fundamental em Demografia, a equação de
Von Foerster.
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José
Paulo Quinhões Carneiro é
Doutor em Matemática pela UFRJ. Trabalha como analista e consultor da
Fundação IBGE e ê professor de Matemática da UFRJ. Tem vários trabalhos
publicados sobre demografia e índices de concentração de renda. |
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Quem escreve os
artigos da RPM? |
Muitos
escrevem: membros do Comitê Editorial, responsáveis por seções, professores
do 3.° grau, .... E o professor a quem a RPM se destina? aquele que
diariamente ensina Matemática no 1.° e 2.° graus? o que está com as "mãos na
massa" (e sujas de giz)?
Também ele
escreve. Cerca de 18% dos artigos da RPM são de sua autoria - mas ele se
dirige mais às seções encabeçadas por quadros: manda perguntas, oferece
sugestões, envia soluções de problemas, enfim, mostra interesse, competência
e vontade de colaborar.
O que nos
faz acreditar que existam muitos professores, atuantes em sala de aula, que
poderiam compartilhar com nossos leitores um rico cabedal de experiências,
observações e toda uma gama de sabedoria adquirida ao longo dos anos quanto
ao modo de enfrentar, dia a dia, o desafio de bem ensinar Matemática.
Por que
você, colega, não escreve um artigo para a RPM?
Você não
sabe como proceder? É fácil: escreva o artigo e envie-o para a RPM, Caixa
Postal 20570 , CEP 01498, São Paulo, SP. A RPM, após alguns dias, acusará o
recebimento do artigo e, após um período que pode variar de 6 a 12 meses,
lhe enviará uma carta informando o destino do artigo (a ser publicado; a ser
reformulado; recusado).
Para a sua
orientação:
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é preferível que o trabalho esteja
datilografado mas se isto for um
obstáculo grande, um manuscrito também é aceito;
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é o tamanho máximo para um artigo;
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fórmulas e cálculos);
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professores em geral e não só
para um número restrito de leitores (é uma das razões porque a
RPM não publica teses ou trabalhos de pesquisa);
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apresentar matéria sofisticada.
Também não deve reproduzir o que pode se encontrado na maioria
dos livros didáticos.
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