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A resolução de equações algébricas (ou polinomiais) é uma tarefa relevante da Matemática Elementar. É um fato bastante conhecido que não existem fórmulas de resolução para equações de grau maior do que 4. No entanto, se pudermos determinar alguma raiz de uma equação desse tipo, a tarefa de resolvê-la pode ser simplificada.
Estou apresentando um teorema, juntamente com alguns exemplos de equações
algébricas. As partes (a) e (b) do
teorema são bem conhecidas. A novidade
é a parte (c), que fornece uma condição adicional para que uma fração
p/q
possa ser raiz de determinada equação. Observei que poucos professores de Matemática conhecem a parte (c) do teorema abaixo (eu mesmo só a conheci em 1983). Também tive oportunidade de constatar que o resultado é muito bem recebido pelos alunos; fica muito mais fácil dizer que - 3/7 não é raiz da equação7x2 + 2x2 - 4x + 6 = 0 porque "(-3 - 7) não é divisor da soma dos coeficientes dessa equação", do que substituir — 3/7 na equação e efetuar os cálculos.
Seja p/q uma raiz de f(x) = anxn + ... + a1x + a0 onde p, q, an ,...,a1, a0 Z, e m.d.c.(p, q) = 1. Então: (a) p|a0 (isto é, "p divide a0" ou "p é divisor de a0") (b)q|an (c) (p - mq) | f(m), m Z. Em particular, (p - q) |f(l) e (p + q) l/(l).
Os itens (a) e (b) fornecem todas as possíveis raízes racionais. O item
(c) nos permite eliminar muitas dessas possíveis raízes, sem fazermos
quase
nenhum cálculo. Observe que
f(l) e
f( 1) sempre são fáceis de serem calculados. Demonstração: Os itens (a) e (b) podem ser encontrados em muitos livros de Matemática da 3.ª série do 2.° grau. Será demonstrado aqui apenas o item (c). Seja m Z qualquer. Existem inteiros i, tais que f(x) = n(x - m)n + n-1(x - m)n-1 + ... + 1(x - m) + 0 . (Cada a, é o resto da divisão de f(x) por um polinômio p1(x) de coeficientes inteiros.) Usando o fato de que p/q é raiz de f(x), temos f(p/q) = n(p/q - tn)n + ... + ,{p/q - m) + 0 = 0 que é o mesmo que n(p - mq)n + qn-1(p - mq)"-1 + ... + qn'x ax(p - mq) = - aoq O primeiro membro desta última equação é um inteiro múltiplo de (p - mq). Logo, (- aoq") também é múltiplo de (p - mq). Seja d Z tal que d|q e d|(p - mq). Daí temos que d|(mq) o que implica d|(mq + (p - mq)), ou seja, d|p. Assim, d é um divisor de p e -q, logo, d = 1 ou d = -1. Portanto, m.d.c.(p - mq,q) = 1. Aplicando agora "n" vezes o resultado "Se a\(bc) e m.d.c.(a,b)= 1, então a\c", temos que (p - mq) \ (aoq") implica (p - mq) | a0, ou seja, (p - mq) é um divisor de f(m), m Z. A seguir, alguns exemplos de aplicação deste Teorema. Exemplo 1: 2/9 e - 1/27 são duas "candidatas a raiz racional" da equação f(x) = 27x5 - x2 - 6x - 4 = 0. Sem nos darmos ao trabalho de substituí-las diretamente na equação, podemos garantir que elas não são raízes, apenas observando que /(l) = 16 e que (2 — 9) e ((—1) —27) não são divisores de 16. Exemplo 2: As possíveis raízes racionais da equação f(x) = 6x3 + x2 + + x - 5 = 0 são ±1, ±5, ±1/2, ±5/2, ±1/3, ±5/3, ±1/6, ±5/6. Como f(l) = 3, temos que ±5, -5/2, ±1/3, ±1/6, e -5/6 não podem ser raízes porque a diferença entre o numerador e o denominador desses números não é divisor de 3. Como f( 1) = 11, temos que 1/2 e 5/2 não são raízes, porque 11 não é múltiplo de (1 + 2) e nem de (5 + 2). Restaram apenas duas possíveis raízes: 1/2 e 5/6. Substituindo diretamente na equação, vemos que apenas 5/6 é raiz. Podemos ver que 1/2 não é raiz também da seguinte forma: f(2) = 49 e (-1 - 2(2)) não divide 49. Dividindo f(x) por (x 5/6) podemos determinar as outras raízes da equação: . Exemplo 3: A equação f(x) = 25x100 + 7x4 + 2x3 81 = 0 não possui raiz racional porque f(l) é ímpar e se p/81 e q/25, então p e q também são ímpares. Logo, (p q) é par e portanto (p - q) não divide f( l ).
Bibliografia Kurosch, A. G. Editora Mir. Curso de Álgebra Superior, Moscou, 1981. (pp. 364/367)
NR: O colega Lenimar N. Andrade, neste artigo, ressuscita um teorema que se encontrava nos livros do 3? colegial na década de 50 (livros de Ary Quintella, Euclides Roxo e outros, Algacyr Munhoz Maeder, Thales Melo Carvalho, Manoel Jairo Bezerra, para apenas citar alguns). O teorema chamava-se "Regras de exclusão de Newton" e tinha o seguinte enunciado: "Se o número inteiro m, diminuído de uma unidade, não dividir' P(1), ou, se aumentado de uma unidade, não dividir P(l), então ele não é raiz dd equação P(x) = 0". Demonstração:
Suponhamos que m seja uma raiz de P(x). Portanto: P( l ) = (1 m) Q( l ) e P(-l) = (1 m)Q(l). Observando que P( l) , m e Q(l) são inteiros, concluímos que m 1 | P(1) e, analogamente, m + 1 j P(1). "Antigamente" os livros de 3.° colegial ensinavam como transformar uma dada equação algébrica em outra, de modo que as raízes da 2.ª equação fossem k vezes as raízes da 1.ª equação. Isto permitia transformar a busca de raízes racionais em uma busca de raízes inteiras. Daí a importância das "Regras de exclusão de Newton". Ainda no contexto da procura de raízes inteiras, os livros ensinavam o "algoritmo de Peletarius" — alguém, nascido após 1950, aprendeu esse algoritmo no 2.° grau? já ouviu falar nele?
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