Uma nova seção

Atendendo ao interesse manifestado por vários leitores e por sugestão do Editor convidado, João Bosco Pitombeira, este número da RPM inaugura uma nova seção da Revista, dedicada, exclusivamente, ao estudo das construções geométricas.

Esse é um assunto que, talvez por exageros cometidos pelos seus defensores mais exaltados ou, ainda, por simples modismo de época, andou meio esquecido e, agora, começa a ressurgir. Em sua defesa podemos invocar não apenas o fato de ser ele fonte inesgotável de problemas de todos os graus de dificuldade, como também o de ser um elemento integrador no estudo da Geometria, Álgebra e Aritmética. Uma ilustração magnífica desta afirmação é a solução, obtida por Gauss, para o problema da divisão da circunferência em partes iguais (RPM 4, p. 3).

Do ponto de vista pedagógico, o tema tem ainda a vantagem de se constituir em elemento importante na avaliação do aprendizado da Geometria em geral.

Acreditamos que esta nova seção poderá oferecer aos nossos colegas professores e também aos estudantes um aspecto atraente e de alto valor educacional da Matemática.

Paulo Leite
IME.USP

 

     Uma construção geométrica e a progressão geométrica

Elon Lages Lima
IMPA/CNPq.
 

Dados os números reais a, r, com 0 < r < 1, seja S = a + ar + ar2 + + ... + arn + ... a soma dos termos da progressão geométrica ilimitada cujo primeiro termo é  a e cuja razão é  r.  Temos:

S = a + r(a + ar + ar2 + ...) = a + r . S,

donde  S rS = a  e daí

Não há geometria alguma nesse raciocínio, embora a progressão se chame geométrica.

Mas, dados a > 0 e 0 < r < 1, podemos construir geometricamente a soma  S = a + ar + ar2 + ...   do seguinte modo:

Tomamos um segmento de comprimento a e, a partir de uma de suas extremidades, outro segmento, com um comprimento b arbitrário. Na outra extremidade, traçamos um segmento paralelo a  b,   de comprimento  rb.

A reta que liga as extremidades livres dos segmentos b e rb encontra o prolongamento de a num ponto que dista exatamente S da primeira extremidade de  a.

A figura ao lado diz mais do que as palavras acima.

Explicação: os triângulos de bases b e rb na figura ao lado são semelhantes. A razão de semelhança é r. Logo ò segmento adjacente a a mede rS.  Ou seja,  S =   

= a + rS, donde S = a/(l - r) = a + ar + ar2 + ...

Uma construção análoga fornece um segmento de comprimento

S' = a ar + ar2 ar3 + ... + (- l)narn +  ...

Neste caso, temos

S'  = a r(a ar + ar2 ar3 + ...),

ou seja,   S' = a rS'   e daí  S' = a/(1 + r).

A construção de  S'   é dada na figura ao lado:

Os segmentos b e rb são paralelos, traçados a partir das extremidades do segmento a, porém em sentidos opostos. Os dois triângulos da figura são semelhantes e a razão de semelhança é r. Logo, se chamarmos S' a base do triângulo maior, a base do menor será r ■ S'. Portanto a = S' + rS'  edaí  S' = a/(l + r) = a ar + ar2 ar3 + ...

 

 

     Incentro

Wilson Massaro
Morro Agudo, SP

Incentro, centro da circunferência inscrita em um triângulo, é o ponto de encontro de suas bissetrizes.  Vejamos sua construção:

   Centro em A eraio AC, determina-se o ponto D na reta AB.

   Centro em B e raio BC, determina-se o ponto. E na reta AB.

   Traça-se a mediatriz de  DE.

   O ponto médio,   R,   de  DE é o ponto de tangência da circunferência inscrita.

   Repete-se o processo para um outro lado. O ponto de encontro das mediatrizes é o incentro do triângulo.

Por que funciona.    Se p for o semiperímetro do triângulo  ABC,   temos:

2x + 2y + 2z = 2p,   ou seja,  x+y+z=p. Mas  y + z = a,   logo,  x = p-a. O processo acima é o da construção de um ponto R no lado AB do triângulo, tal que

.

 

     Determinação das coordenadas do incentro(*)

Vamos demonstrar que as coordenadas do incentro  I são:

__________
(*) A determinação das coordenadas do incentro é o problema 10 na RPM 2, p. 32, proposto, na
ocasião, por Wilson Massaro e Dermeval C. Neto. Duas soluções, da autoria de outros colegas foram publicadas na RPM 3, p. 33. A solução, ora apresentada, oferece um 3 caminho para resolver a problema.

 

Demonstração:

Usaremos o seguinte teorema:

A bissetriz de um ângulo de um triângulo separa o lado oposto em segmentos, cujos comprimentos são proporcionais aos comprimentos dos lados adjacentes.

Aplicando o teorema:

A Geometria Analítica nos dá as coordenadas de um ponto P,  entre A e B,  que divide o segmento AB numa razão dada:

De modo análogo, obtém-se a expressão que dá yI.

 

 

Wilson Massaro é licenciado em Matemática pela FFCL "Barão de Mauá" de Ribeirão Preto, SP e é professor da EEPSG "Manuel Martins" de Morro Agudo, SP.


NR: O colega Elio Mega, São Paulo, SP, descreveu o seguinte processo p
ara obter o incentro (usando a notação da fig.2):