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O colega Seiji Hariki, que desde a RPM 8 vem sendo o responsável pela seção Problemas, encontra-se atualmente na Inglaterra, aperfeiçoando-se na área de Educação Matemática. Assumiu esta seção o colega Flávio Wagner Rodrigues, que contará com a colaboração de E. M. Sallum, ambos do IME, USP. O Comité Editorial da RPM agradece ao colega que parte e dá suas boas vindas aos novos membros da equipe.
54. Prove que
(O leitor atento por certo irá notar que esta questão foi sugerida pela solução, que apresentamos neste mesmo número, para o problema 53 da RPM 10. Fica claro, portanto, que o que se quer agora é uma demonstração direta e não uma simples afirmação de que ela é uma conseqüência da solução do problema 53.)
57. Em uma praça circular estão dispostas n casas idênticas. Supondo que você tenha tintas de 3 cores diferentes, de quantas maneiras você poderá pintar essas casas, usando uma única cor para cada casa, de modo que casas vizinhas nunca tenham a mesma cor? (O professor João Affonso Pascarelli, recentemente falecido, foi quem nos propôs esse problema. A seção presta sua homenagem ao professor, incluindo o problema neste número.) (Ver respostas no final desta seção)
Existem alguns problemas folclóricos, que circulam há muito tempo, dos quais não se conhecem as origens e que reaparecem, às vezes, em novas roupagens. A colega Maria Puresa de Teixeira Siqueira, de Brasília, DF, nos envia dois destes, que lhe foram propostos por seu pai, quando ela era criança. Flávio Wagner Rodrigues lembrou-se do terceiro. Vamos passá-los aos nossos alunos?
O gavião combinou com a ribaçã, chefe do bando, que no galho onde houvesse 100 ribaçãs, ele comeria uma delas. Num dia claro, sol ardente, o gavião passava por um bosque e ouviu gargalhadas no meio das árvores; parecia um bando de ribaçãs. Aproximou-se. Eram, de fato, ribaçãs num galho de árvore. Feliz, bradou alto: — "Ó, minhas 100 ribaçãs!" Respondeu uma delas: — "Nós não somos 100. Nós, outro tanto de nós, a metade de nós, um quarto de nós e vós, gavião, é que somos 100". O gavião baixou a cabeça e saiu triste por não haver ganho o trato. Quantas ribaçãs havia no galho da árvore?
Certa vez um cidadão colheu uma porção de laranjas e colocou-as num saco. Sua tarefa era passar por 4 cancelas e distribuí-las da seguinte forma: em cada cancela deveria deixar metade das laranjas mais meia laranja. Ao passar pela 1.ª cancela, deixou metade das laranjas que levava no saco, mais meia laranja, sem partir nenhuma laranja. Em seguida, dirigiu-se à 2.ª cancela, deixou a metade das laranjas que restava, mais meia laranja, sem partir nenhuma laranja. Continuando o trabalho, passou pela 3.ª cancela, deixou a metade das laranjas restantes, mais meia laranja, sem partir nenhuma laranja. Por fim, ao passar pela 4.ª e última cancela, deixou a metade das laranjas que ainda restavam no saco, mais meia laranja, sem partir nenhuma laranja, e foi embora para casa, feliz por haver cumprido sua tarefa. Resultado: tarefa cumprida, mas, ao olhar no saco, viu que não lhe havia sobrado nenhuma laranja. Quantas laranjas havia no saco antes de o cidadão passar pela 1.ª cancela?
Um burro e um cavalo caminhavam por uma estrada carregando sacos de igual peso. O burro se queixava da vida por achar que estava carregando peso demais. Diz então o cavalo: — "Pára de te lamuriar pois se eu te der um dos sacos que levo sobre meu lombo só aí ficaremos com cargas iguais. Por outro lado, se tu me deres um dos teus, a minha carga ficará o dobro da tua". Dize-me agora, sábio matemático, quantos sacos levava cada um?
34. Prove que se a, > 1, então
Solução: A demonstração se baseia na mesma técnica utilizada para mostrar que a média aritmética de n números reais positivos nunca é inferior à média geométrica desses números (veja, por exemplo, Lima, Elon L. Curso de Análise, v. 1 — Cap. III, problema 54, p. 75). Vamos considerar a operação que consiste em substituir o menor dos números, digamos ai, e o maior deles, digamos aj, respectivamente por a'i = (ai . aj) / G e a'j = G, onde
Obviamente, isto não altera o lado direito da desigualdade e, como veremos, o lado esquerdo não aumenta. Para isso, precisamos mostrar que:
O lado esquerdo dessa desigualdade pode ser pensado como um trinômio do 2º grau em G, que se anula para G = ai e G = aj,. Por outro lado, é fácil ver que o coeficiente de G2 é igual a 1 + aj ai (1 + aj) = 1 aiaj e é, portanto, negativo, uma vez que ai e aj são maiores do que 1. Segue-se que a desigualdade acima se verifica para todo G que satisfaça ai G aj. A conclusão segue agora do fato de que a média geométrica de um conjunto de n números positivos está sempre compreendida entre o mínimo e o máximo desse conjunto. Observe, em seguida, que a média geométrica não se altera e após cada repetição da operação, ela estará compreendida entre o mínimo e o máximo do novo conjunto de números obtidos. Mais ainda, ela só será igual ao mínimo ou ao máximo quando todos os números forem iguais. Segue-se, então, que, enquanto existirem números diferentes de G em cada operação, pelo menos um deles será substituído por G. Conclui-se, portanto, que, após, no máximo, n repetições obteremos n números iguais a G, para os quais a desigualdade está obviamente satisfeita. Como, ao longo de todo o processo, o lado direito não se alterou e o esquerdo não aumentou, conclui-se que a desigualdade é verdadeira. (Solução enviada por Sérgio Dalmas, de São Vicente, SP.) 35. Sejam 0< < < + < , 0 < < l, = 1 - . Prove que:
Solução: Reduzindo os dois membros ao mesmo denominador sen a sen 0 sen(a + ), que é estritamente positivo, tem-se que a desigualdade (1) é equivalente a
(Solução enviada por Sérgio Dalmas, de São Vicente, SP.) 47. Na RPM 12 publicaremos uma solução do problema 47 da RPM 9 (enviada por Eduardo Wagner, do Rio de Janeiro, RJ), único dos 50 primeiros problemas desta seção que ainda não teve uma solução publicada.
49. Sabe e que cada uma dentre aj pessoas A, B e C diz a verdade em qualquer situação, com probabilidade 1/3. Suponha que A faça uma uma afirmação e que C diz que B diz que A falou a verdade. Qual a probabilidade de que A realmente tenha falado a verdade? Solução:
Cada uma
das 3 pessoas, A, B ou C, ao fazer uma afirmação, poderá estar
mentindo (Aí) ou falando a verdade
(V). Como o problema
envolve afirmações das 3 pessoas, o conjunto das possibilidades será
formado por ternos ordenados dos símbolos Aí ou
V.
Assim, por exemplo, (Aí, Aí,
V)
representaria o caso no qual A
fala a verdade e B e C mentem. Nessas condições, o conjunto das
possibilidades (ou, como dizem os probabilistas, o espaço amostral do
experimento) seria formado pelos pontos: (Aí, Aí, Aí) (K, Aí, Aí) (Aí,
V,
Aí) (Aí, M,
V)
(Aí,
V, V) (V,
Aí,
V) {V, V,
M)
(K,
V, V).
Nesse espaço, vamos considerar os
eventos: E - A fala a verdade
F - C
diz que B diz que A
falou a verdade O que o problema pede é a probabilidade condicional, P(E/F), do evento E dado que ocorreu o evento F. Por definição, essa probabilidade é dada por:
É claro que o evento E é formado pelos pontos (K, V, V), (M, K, K), (K, M, V) (M, M, K). Vamos, agora, identificar quais os pontos que pertencem ao evento F. Para maior clareza vamos considerar separadamente dois casos:
1)
A
fala a verdade
— Nesse
caso, para que F ocorra, é necessário que o número de mentiras
ditas por B e C seja par, pois só assim elas irão se anular,
permitindo que C diga que B 2) A mente — Um raciocínio análogo mostra que F só irá ocorrer se uma e apenas uma das pessoas B ou C mentir. Logo os pontos de F, nesse caso, são (M V, M) e (V, M, M). Segue-se, portanto, que o evento F é formado pelos quatro pontos, (V, V, V), (M, M, V), (V, M, M) e (M, V, M). Admitindo-se, agora, a independência entre as afirmações das 3 pessoas, teremos:
(Adaptada da solução enviada por Fábio Prates Machado, aluno de pós-graduação do 1ME-USP, que calculou a probabilidade no caso geral de n pessoas envolvidas e o limite dessa probabilidade quando n tende ao infinito). Muitos leitores obtiveram a solução correta construindo uma árvore de possibilidades. Alguns leitores acharam que a resposta continuava sendo 1/3, independentemente do que B ou C dissessem. Para esses, recomendamos a leitura do artigo Eventos Independentes (RPM 4, p. 21).
Logo, 7CD2 = 2BD2 e DE = . (Solução enviada por Michel Kireeff Covo, de São Paulo, SP.) 51. São n pessoas com pesos (em quilogramas) a>1 a2 ... an que precisam atravessar um rio mas há somente um bote disponível. Nesse bote cabem no máximo duas pessoas de cada vez. Pergunta-se:
a)
qual deve ser a capacidade mínima (em
quilogramas) de transporte do bote para que seja b) nessas condições, qual o número total mínimo de viagens realizadas? Solução: Capacidade mínima do bote — É claro que a capacidade mínima, C, deve permitir que todos atravessem e, portanto, C a1. Além disso, é necessário que pelo menos duas pessoas possam atravessar juntas, pois alguém precisa trazer o bote de volta. Logo, C an1 + an. Conclui-se, portanto, que C = max( a1, an1 + an). Número total mínimo de travessias a) Vamos considerar, inicialmente, a situação mais desfavorável, que é aquela na qual apenas as duas pessoas mais leves (an-1 e an) podem atravessar juntas. Nessas condições, o único esquema que permitiria a travessia de todos seria o seguinte:
1ª viagem
an =an-1 atravessam Repetindo o processo com an-3, an-4,... a1 teríamos 4(n 2) = 4n 8 travessias que, somadas à travessia final de an-1 e an, nos dariam um total de 4n 7 travessias. b) Considere, agora, a situação na qual a1 + an C. Nessa situação, an poderá funcionar como barqueiro, transportando todas as (n 1) pessoas para a margem oposta. Como para cada uma delas ele gasta duas viagens e, após levar a última, ele não volta, o total de travessias será dado por 2(n 1) 1 = 2n 3. (O leitor atento irá, certamente, notar que se C for a capacidade mínima, essa situação só ocorrerá se todas as pessoas tiverem o mesmo peso). c) O caso geral — Seja j, l j < n 1 o primeiro índice para o qual temos: aj + an C. Os n indivíduos ficam, então, divididos em dois grupos. O primeiro, contendo a1, a2, ..., aj-1, que terão que fazer a travessia sozinhos e o segundo formado pelos (n j + 1) indivíduos restantes que poderão atravessar com an, funcionando como barqueiro. Para colocar esses últimos na outra margem, serão necessárias, pela parte b), 2(n J +1) 3 = 2n - 2j 1 travessias. Terminada essa etapa, o problema se reduz ao transporte dos (j + 1) indivíduos ai,...,aj-1, an-1, an (nas condições da parte a), já com uma travessia efetuada, pois an-1 e an já estarão na outra margem. Pela parte a), o número de travessias necessárias será 4(j + 1) 7 1 = 4j 4 que, somadas com as 2n - 2j 1 da primeira etapa, dão um total de 2n + 2j - 5 travessias. Nos casos particulares j = n 1 e j = 1, obtemos, respectivamente, 4n 7 e 2n 3, que concordam com os resultados obtidos nas partes a) e b).
(Solução enviada por Chen 1 Sheng, do Rio de Janeiro, RJ.) 52. Seja a uma constante real. Elimine das equações abaixo:
Solução: Somando-se as duas equações dadas, multiplicadas, respectivamente, por sen e cos , obtém-se
x = a(3 sen2
cos
+ cos3
); somando-se as duas equações, multiplicadas, respectivamente, por cos e sen , obtém-se
y
= a(3 cos2
sen
+ sen3
).
Donde,
x + y = a(cos
+ sen
)3 e x
y = a(cos
- sen
)1.
(Solução enviada por Manoel Pereira Gomes Neto, de Cancaria, CE.)
53. Dê
exemplo de uma equação da forma x3 + ax2 +
bx + c = 0 com a, b e c racionais, Solução: Considere a função f(x) = x3 3x + 1. O cálculo dos valores numéricos dessa função nos pontos 2, 1, 1 e 2 mostra que a equação x3 — 3x + 1 = 0 admite 3 raízes reais. Para concluir que essas 3 raízes são irracionais, basta observar que 1 e 1 (as únicas possíveis raízes racionais) não satisfazem a equação. Para determinar as raízes, vamos fazer x= 2y, obtendo, assim, a equação: 8y3 - 6y + 1 = 0, que é equivalente à equação:
Usando a identidade cos 3 = 4 cos3 3 cos , vemos que as soluções serão dadas por:
Não é difícil mostrar que existem infinitas equações que satisfazem as condições do problema. Para isso basta que o leitor considere polinômios de 3º grau, com um ou mais coeficientes a serem determinados, através de um estudo dos sinais desses polinômios, análogo ao que foi feito acima. (Adaptação a partir de diversas soluções enviadas por leitores. Entre outras soluções recebidas, vale a pena mencionar aquelas que procuraram determinar equações, impondo que um dado número irracional fosse uma solução. Assim, por exemplo, é solução de qualquer equação do tipo: x3 + ax2 2x 2a = 0. O passo seguinte é determinar valores racionais de a de modo que a equação resultante admita duas outras raízes reais irracionais.)
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